Contos e crônicas
Se somos almas inteiras
CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@gmail.com
De Londrina-PR
Dia desses, alguém
me relatou, ou melhor, desaguou lágrimas de desespero por não estar na
companhia de quem supõe amar. Ouvi com atenção, era tudo que podia fazer. E
esse alguém foi embora. Fiquei com minhas constatações seguindo para casa.
De fato, muitas
pessoas mais se precisam do que se completam. E o pior, é que elas não percebem
que são seres inteiros, centelhas, chispas de luz eterna, amor, criação
bendita. E sofrem tanto pela ausência de quem julgam amar, e sofrem ainda mais
por sentirem o outro – o suposto amado ser – como propriedade; um erro atrás do
outro, o que resulta em desequilíbrio e sofrimento. Somos todos seres que
podemos nos completar com outros quanto à afinidade, carinho, respeito,
alegria, paz, amor, mas se precisamos de alguém... ah, nesse quesito, o que
menos haverá é o amor, começando pelo amor próprio.
Quando se fala
também que a felicidade será alcançada no momento em que o coração estiver
junto do tanto almejado, mais uma vez, ilusão, pois depositar no outro, ou
seja, responsabilizar outro ser pela própria felicidade, sem dúvida, é enorme
falta de entendimento sobre a vida, esta que é amor, liberdade, compreensão e
conquista de lindos jardins com flores tão belas. Uma estrela não será mais ou
menos estrela se estiver sozinha no céu ou infinitamente acompanhada; estrelas
sempre são estrelas, como corações sempre serão corações.
O que tanto é
preciso é desenvolvermos a nobreza dos sentimentos, conhecermo-nos mais a
fundo, apreciarmos todo o universo existente em nós, encontrarmos os limites
entre o que já aprendemos e todo o infinito ainda a ser descoberto e lapidado.
Isso é viver. Ninguém deve precisar de ninguém, mas desejar viver junto para se
completar, para alcançar os raios solares que o horizonte oferece, para
conhecer as novas coisas e ter uma mão para enlaçar e ver, a perder de vista,
os pores de sol e as noites nascendo, acompanhar o tracejado que os pássaros
fazem no céu e simplesmente olhar para os olhos ao lado e sorrir.
Compartilhar os dias
chuvosos; os domingos; as segundas-feiras; o último pedacinho de bolo;
conversar de madrugada, pois um inteiro perdeu o sono e o outro, também em sua
completude, sabe da importância da companhia. A alma, ser individual, nunca
deve precisar de outra, mas deseja companheirismo e muito se compraz ao lado da
eternidade de outras almas que, a seu tempo, tanto a completam.
Se um universo há em
cada ser, tanto há para conhecer e descobrir, familiarizar-se e surpreender-se,
aprimorar e entender e simplesmente querer viver. Após realizar um pouquinho de
cada ação e começar a compreender o próprio universo, então, completar-se com
outra alma que lhe faça bem, sem dúvida, é presente para o coração e boa
energia para felizes realizações.
Então, quando
precisar de alguém é por haver necessidade de algo; entretanto, quando alguém
nos completar é por que o amor é razão maior, pois somos centelhas inteiras e
indivisíveis que amam ser amadas e que, aos poucos, caso ainda não tenham
assimilado, amarão amar outras almas inteiras.
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