Contos e crônicas
Os significados
diferentes de pichar
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Bom dia!
Que há vocábulos idênticos ou parecidos que se
prestam a vários significados, amiga leitora, ninguém desconhece. A isso, os
gramáticos chamam de homonímia e paronímia. Parônimos são palavras muito
parecidas, no som, e de significação diversa. Exemplos: ratificar: confirmar; retificar:
corrigir. Homônimas são palavras iguais na escrita ou na pronúncia e de
significados diferentes.
Uma palavra homônima é pichar.
Primeiro significado desse vocábulo: maldizer
algo ou alguém. Exemplo: o procurador pichou de propinocrata o ex-presidente. Nesse caso, temos também um neologismo, que é a palavra criada com
base no substantivo propina, ou seja,
benefício ilegal, mais o sufixo -crata,
derivado de cracia, do grego kratía, que significa poder, força; o
significado dado pelo procurador à palavra propinocrata é o de alguém que
comanda o esquema do favorecimento financeiro ilegal. O vocábulo pichar
é um homônimo homógrafo e homófono, ou seja, que possui a mesma grafia e o
mesmo som de pronúncia.
Segundo significado de pichar: escrever
ou desenhar palavras, frases ou símbolos semelhantes a letras em muros,
fachadas de edifícios, paredes de casas ou apartamentos, pontes, etc.
Outro dia, um senhor perdeu o braço e o filho
dentista para um bando de pichadores surpreendidos por aquele quando pichavam o
muro de sua casa. Enraivecido, por tudo observar de câmaras existentes nas
dependências internas de sua casa, o senhor não refletiu e, em vez de ligar
para a polícia, pegou um pedaço de pau e saiu de casa sozinho para enfrentar os
quatro jovens pichadores.
Não deu outra, também armados com paus, os
rapazes agrediam-no, covardemente, quando seu filho dentista, que chegara a
casa naquele instante, viu o pai sendo brutalmente surrado e tentou defendê-lo.
Resultado, apanhou até morrer, e seu pai acabou ficando sem um dos braços em
virtude das pauladas recebidas.
Até o momento da reportagem, dois agressores
estavam presos, e outros dois foragiram-se.
Outro dia, foi feita uma reportagem com
pichadores, por jornalista de canal de tv. A maioria é empregada e faz esse
“trabalho” por pura diversão ou, segundo diz uma pichadora, por crítica ao
sistema político, em altas horas da noite.
Um deles fazia parte de dupla pioneira famosa.
Hoje é advogado e não mais picha. Seu concorrente do passado tornou-se designer e também abandonou a pichação.
Caso interessante é o de outro pichador, homem
maduro, que tem mulher, filha e trabalha como comerciante. Disse ao repórter
que há mais de trinta anos se diverte pichando paredes altas de prédios,
pontes, etc. Considera-se grande artista.
Observando, porém, que sua casa não possui
qualquer marca de pichação, o profissional de imprensa perguntou-lhe o motivo
disso. Sua resposta foi a de que não queria sujar o seu lar tão querido, onde
residia com sua mulher, pichada no braço e perna, e sua filha, que nenhuma
marca de pichação trazia no corpo, mas dizia-se admiradora da “arte” paterna.
Parodiando antigo refrão popular, diremos:
“Pichação em imóvel alheio é refresco”.
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