Reflexões à luz do Espiritismo
Obras mediúnicas duvidosas: que fazer?
Um leitor perguntou-nos qual é a maneira mais racional de identificarmos um autor de "obra mediúnica" inadequada à formação espírita?
Diante dessa indagação, não nos é possível deixar de mencionar o conselho que o saudoso médium Chico Xavier recebeu de Emmanuel, logo no início de suas tarefas no campo da mediunidade:
"Lembro-me de que, em um dos primeiros contatos comigo, ele me preveniu que pretendia trabalhar ao meu lado, por tempo longo, mas que eu deveria, acima de tudo, procurar os ensinamentos de Jesus e as lições de Allan Kardec e, disse mais, que, se um dia, ele, Emmanuel, algo me aconselhasse que não estivesse de acordo com as palavras de Jesus e de Kardec, que eu devia permanecer com Jesus e Kardec, procurando esquecê-lo”.
Segundo Chico Xavier, o fato se deu em 1931, antes pois da publicação de Parnaso de Além-Túmulo, que veio a lume em 1932.
O primeiro critério que deve guiar o leitor é, pois, examinar se a obra, mediúnica ou não mediúnica, é compatível com a doutrina contida no Evangelho e com o Espiritismo.
Outra medida relevante, recomendada por Allan Kardec no cap. XXVII, item 303, d´O Livro dos Médiuns, em uma “Observação” inserida após a 2ª pergunta, é não nos deixarmos – médiuns, comentaristas e leitores – deslumbrar pelos nomes que os Espíritos tomam com o objetivo de dar uma aparência de verdade a suas palavras, e desconfiar sempre "de teorias e sistemas científicos arriscados" e “de tudo o que se afastar do objetivo moral das manifestações".
Nada, absolutamente nada, ocorre por acaso. Toda pessoa que se dedicar à mediunidade deve, portanto, manter-se vigilante e não ignorar nem desprezar jamais a advertência de Erasto contida no cap. XX, item 230, d´O Livro dos Médiuns: “Melhor será repelir dez verdades do que admitir uma única mentira, uma só teoria falsa”.
O motivo dessa recomendação advém do fato de que nenhum médium está imune à mistificação. Assim, todo cuidado é pouco quando lidamos com o que nos vem do chamado plano espiritual. Em uma referência direta ao assunto, Divaldo Franco declarou certa vez: “As falsas comunicações, que de tempos a tempos o médium recebe, são avisos para que não se considere infalível e não se ensoberbeça”. (Cf. Moldando o Terceiro Milênio, de Fernando Worm, cap. 7, pág. 62.)
No texto de abertura do seu livro A Pedra e o Joio (edições Cairbar, 1975), escreveu Herculano Pires: “No Espiritismo a pedra de toque é a obra de Kardec”, frase de efeito que ele justificou em seguida, aditando ali algumas medidas que concorreriam para evitar – ou pelo menos minimizar – o surgimento de “obras mediúnicas” inadequadas, que constituem a preocupação da leitora que nos escreveu.
Disse Herculano na obra mencionada:
“Usar do bom senso é o primeiro preceito da normativa de Kardec.
Examinar com rigor a linguagem dos Espíritos comunicantes, submetê-los a testes de bom senso e conhecimento, verificar a relação de realidade dos conceitos por eles enunciados (relação do seu pensamento com os fatos, as coisas e os seres), enquadrar os seus ensinos e revelações no contexto cultural da época, verificando o alcance abusivo ou não das afirmações mais audaciosas — eis os elementos que temos de observar no trato da mediunidade, se não quisermos cair em situações difíceis, a que fatalmente nos levariam Espíritos imaginosos ou pseudossábios. E ao lado disso submeter tudo quanto possível à comprovação experimental, à pesquisa.
Bem sabemos que tudo isso requer espírito metódico, um fundo básico de conhecimentos gerais, capacidade normal de discernimento, superação da curiosidade doentia, controle rigoroso da ambição e da vaidade, equilíbrio do raciocínio, maturidade intelectual, critério científico de observação e pesquisa e firme decisão de não se deixar levar pelas aparências, aprofundando sempre o exame de todos os aspectos dos problemas e das circunstâncias.” (A Pedra e o Joio, edições Cairbar, 1975.)
No prefácio que escreveu para a edição de 1911 do seu livro No Invisível, Léon Denis disse que a credulidade, no plano terrestre, atrai os charlatães, os exploradores de toda espécie, a chusma dos cavalheiros de indústria que só procuram ludibriar. E advertiu: “Eis aí um perigo para o Espiritismo. Cumpre-nos, pois, a todos os que em nosso coração zelamos a verdade e nobreza dessa coisa, conjurá-lo. De sobra se tem repetido: o Espiritismo ou será científico, ou não subsistirá. Ao que acrescentaremos: o Espiritismo deve, antes de tudo, ser honesto!”
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