domingo, 17 de dezembro de 2017

POR QUE SOFREM AS CRIANÇAS? REP. BLOG ESPIRITISMO SÉCULO XXI


Reflexões à luz do Espiritismo





Por que sofrem as crianças?

Diante dos sofrimentos pelos quais milhões de crianças inocentes estão diária e sistematicamente passando, atribuir esse fato a um simples resgate de vidas passadas é um equívoco que não encontra amparo no que nos é ensinado pelo Espiritismo.
No capítulo V d´O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec escreveu:
“Não há crer (...) que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas buscadas pelo Espírito para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso. Assim, a expiação serve sempre de prova, mas nem sempre a prova é uma expiação. Provas e expiações, todavia, são sempre sinais de relativa inferioridade, porquanto o que é perfeito não precisa ser provado.
Pode, pois, um Espírito haver chegado a certo grau de elevação e, nada obstante, desejoso de adiantar-se mais, solicitar uma missão, uma tarefa a executar, pela qual tanto mais recompensado será, se sair vitorioso, quanto mais rude haja sido a luta. Tais são, especialmente, essas pessoas de instintos naturalmente bons, de alma elevada, de nobres sentimentos inatos, que parece nada de mau haverem trazido de suas precedentes existências e que sofrem, com resignação toda cristã, as maiores dores, somente pedindo a Deus que as possam suportar sem murmurar.
Pode-se, ao contrário, considerar como expiações as aflições que provocam queixas e impelem o homem à revolta contra Deus.
Sem dúvida, o sofrimento que não provoca queixumes pode ser uma expiação; mas é indício de que foi buscada voluntariamente, antes que imposta, e constitui prova de forte resolução, o que é sinal de progresso.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo V, item 9.)
No capítulo VIII da 2ª Parte do livro O Céu e o Inferno, Kardec relata o caso de Marcel, um menino de cerca de 10 anos que se encontrava internado num hospital de província. Totalmente contorcido, já pela sua deformidade inata, já pela doença, as pernas se lhe torciam roçando pelo pescoço, num tal estado de magreza, que eram pele sobre ossos. O corpo, uma chaga; os sofrimentos, atrozes.
Marcel era oriundo de uma família israelita. A moléstia dominava aquele seu organismo havia oito longos anos, e no entanto demonstrava o enfermo uma candura, uma paciência e uma resignação edificantes.
Um dia, o menino disse ao médico que o assistia:
– Doutor, tenha a bondade de me dar ainda uma vez aquelas pílulas ultimamente receitadas.
– Para quê? replicou-lhe o médico, se já te ministrei o suficiente, e maior quantidade pode fazer-te mal...
– É que eu sofro tanto, que dificilmente posso orar a Deus para que me dê forças, pois não quero incomodar os outros enfermos que aí estão. Essas pílulas fazem-me dormir e, ao menos quando durmo, a ninguém incomodo.
O fato basta para demonstrar a grandeza daquela alma encerrada num corpo informe. Onde teria ido essa criança haurir tais sentimentos? Certo, não foi no meio em que se educou; além disso, na idade em que principiou a sofrer, não possuía sequer o raciocínio. Tais sentimentos eram-lhe inatos; mas então por que se via condenado ao sofrimento, admitindo-se que Deus houvesse concomitantemente criado uma alma assim tão nobre e aquele mísero corpo instrumento dos suplícios? É preciso negar a bondade de Deus, ou admitir a anterioridade de causa, isto é, a preexistência da alma e a pluralidade das existências.
Os últimos pensamentos daquele menino, ao desencarnar, foram para Deus e para o caridoso médico que o assistiu por longo tempo. Decorrido algum tempo, foi seu Espírito evocado na Sociedade de Paris, onde deu em 1863 a seguinte comunicação:
"A vosso chamado, vim fazer que a minha voz se estenda para além deste círculo, tocando todos os corações. Oxalá seu eco se faça ouvir na solidão, lembrando-lhes que as agonias da Terra têm por premissas as alegrias do céu; que o martírio não é mais do que a casca de um fruto deleitável, dando coragem e resignação.
"Essa voz lhes dirá que, sobre o catre da miséria, estão os enviados do Senhor, cuja missão consiste na exemplificação de que não há dor insuperável, desde que tenhamos o auxílio do Onipotente e dos seus bons Espíritos. Essa voz lhes fará ouvir lamentações de mistura com preces, para que lhes compreendam a harmonia piedosa, bem diferente da de coros de lamentações mescladas com blasfêmias.
"Um dos vossos bons Espíritos, grande apóstolo do Espiritismo, cedeu-me o seu lugar por esta noite. Por minha vez, também me compete dizer algo sobre o progresso da vossa Doutrina, que deve auxiliar em sua missão os que entre vós encarnam para aprender a sofrer. O Espiritismo será a pedra de toque; os padecentes terão o exemplo e a palavra, e então as imprecações se transformarão em gritos de alegria e lágrimas de contentamento." (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. VIII.)
Kardec perguntou-lhe: – Pelo que afirmais, parece que os vossos sofrimentos não eram expiação de faltas anteriores.
O Espírito de Marcel respondeu:
“Não seriam uma expiação direta, mas asseguro-vos que todo sofrimento tem uma causa justa. Aquele a quem conhecestes tão mísero foi belo, grande, rico e adulado. Eu tivera turiferários e cortesãos, fora fútil e orgulhoso. Anteriormente fui bem culpado; reneguei Deus, prejudiquei meu semelhante, mas expiei cruelmente, primeiro no mundo espiritual e depois na Terra. Os meus sofrimentos de alguns anos apenas, nesta última encarnação, suportei-os eu anteriormente por toda uma existência que ralou pela extrema velhice. Por meu arrependimento reconquistei a graça do Senhor, o qual me confiou muitas missões, inclusive a última, que bem conheceis. E fui eu quem as solicitou, para terminar a minha depuração. Adeus, amigos; tornarei algumas vezes. A minha missão é de consolar, e não de instruir. Há, porém, aqui muitas pessoas cujas feridas jazem ocultas, e essas terão prazer com a minha presença.” (O Céu e o Inferno, 2ª Parte, cap. VIII.)
Essa mania – tão comum em certos meios – de apontar supostas causas para determinados fatos deve ser evitada, sobretudo pelas pessoas que usam a tribuna ou se valem da imprensa para divulgar os ensinamentos espíritas. Trata-se da prática do conhecido achismo, que somente prejudica e em nada beneficia a divulgação da doutrina espírita.
Se não temos condições nem conhecimento de causa para formular uma explicação ou dar uma resposta a determinada pergunta, basta dizer: - Não sei. E, conforme o caso: - Não sei, mas vou pesquisar e então lhe darei a resposta.
Agir de forma diferente é prestar um desserviço à doutrina que abraçamos.



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