Se pudéssemos ver nossos entes queridos já desencarnados, como os veríamos?
Uma questão que intriga muitas pessoas diz respeito à morfologia do perispírito – ou corpo espiritual – no que diz respeito à aparência com que os Espíritos, após sua desencarnação, se apresentam.
Três obras espíritas muito conhecidas trazem informações valiosas sobre o assunto.
Citamos em primeiro lugar, atento à ordem cronológica de sua publicação, O Livro dos Médiuns, de autoria de Allan Kardec, em que, referindo-se ao perispírito, Kardec escreveu:
Ele [o perispírito] tem a forma humana e, quando nos aparece, é geralmente com a querevestia o Espírito na condição de encarnado. Daí se poderia supor que o perispírito, separado de todas as partes do corpo, se modela, de certa maneira, por este e lhe conserva o tipo; entretanto, não parece que seja assim. Com pequenas diferenças quanto às particularidades e exceção feita das modificações orgânicas exigidas pelo meio em o qual o ser tem que viver, a forma humana se nos depara entre os habitantes de todos os globos. Pelo menos, é o que dizem os Espíritos. Essa igualmente a forma de todos osEspíritos não encarnados, que só têm o perispírito; a com que, em todos os tempos, se representaram os anjos, ou Espíritos puros. (O Livro dos Médiuns, cap. I, n. 56.) [Negritamos]
A segunda é o clássico A Reencarnação, conforme tradução feita por Carlos Imbassahy, publicada pela FEB. Nele, Gabriel Delanne fornece-nos sobre o tema as seguintes informações:
1) Nota-se pelas fotografias dos fantasmas que eles têm formas reais e possuem, durante a materialização, todos os caracteres dos seres vivos.
2) Referindo-se às materializações de Katie King, William Crookes afirma que a aparição possui coração e pulmões; mas o mecanismo fisiológico de Katie King é diferente do da médium, Srta. Cook.
3) Charles Richet comprovou que a forma materializada possui circulação, calor próprio e músculos, e exala ácido carbônico.
4) O corpo fluídico é semelhante, em todos os pontos, e mesmo anatomicamente, idêntico ao corpo físico. É um ser de três dimensões, com morfologia terrestre. (A Reencarnação, págs. 44 a 55.)
A terceira obra, de confecção mais recente, é Evolução em dois Mundos, psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. No cap. IV da 2ª parte dessa obra, André Luiz oferece-nos as informações adiante resumidas:
1) As linhas morfológicas das entidades desencarnadas, no conjunto social a que se integram, são comumente aquelas que trouxeram do mundo, a evoluírem, contudo, constantemente para melhor apresentação, toda vez que esse conjunto social se demore em esfera de sentimentos elevados.
2) A forma individual em si obedece ao reflexo mental dominante, notadamente no que se reporta ao sexo, mantendo-se a criatura com os distintivos psicossomáticos de homem ou de mulher, segundo a vida íntima, através da qual se mostra com qualidades espirituais acentuadamente ativas ou passivas.
3) Fácil observar, portanto, que a desencarnação libera todos os Espíritos de feição masculina ou feminina que estejam na reencarnação em condição inversiva atendendo a provação necessária ou a tarefa específica, porquanto, fora do arcabouço físico, a mente se exterioriza no veículo espiritual com admirável precisão de controle espontâneo sobre as células sutis que o constituem.
4) Se o progresso mental não é positivamente acentuado, mantém o Espírito, nos planos inferiores, por tempo indefinível, a plástica que lhe era própria entre os homens, sendo certo que, nos planos relativamente superiores, sofre processos de metamorfose, mais lentos ou mais rápidos, conforme suas disposições íntimas. (Evolução em dois Mundos, 2ª parte, cap. IV, pp. 176 e 177.)
Quanto à plástica – masculina ou feminina – mencionada por André Luiz, é importante lembrar que o assunto não era estranho a Allan Kardec, conforme podemos conferir no artigo intitulado “As mulheres têm alma?”, publicado na Revista Espírita de janeiro de 1866.
Segundo o codificador da doutrina espírita, a influência que o Espírito encarnado sofre do organismo não se apaga imediatamente após a destruição do invólucro material, assim como não perdemos instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Pode acontecer que determinado Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que durante muito tempo possa conservar, na erraticidade, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa.
Se essa influência se repercute da vida corporal à vida espiritual, o fato se dá também quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Em uma nova encarnação trará, portanto, o caráter e as inclinações que tinha como Espírito. Mudando de sexo na nova existência corpórea que deverá cumprir, poderá conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerente ao sexo que acabou de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres.
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