Benedicto Silva:
Tradutor de várias obras para o idioma criado por Zamenhof,
o conhecido professor fala de sua experiência em
suas atividades de tradutor
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Benedicto Silva (foto), natural de Cravinhos e residindo em São José do Rio Preto, ambos municípios paulistas, é professor aposentado. Dedicado esperantista, ele traduziu algumas obras para o idioma internacional e fala na presente entrevista sobre sua experiência nesse trabalho.
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Onde e como surgiu o Esperanto?
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O Esperanto foi criado pelo médico polonês Lázaro Luís Zamenhof em 1887, como um dos meios para irmanar os seres humanos das diversas nacionalidades, culturas e línguas por meio de um instrumento de comunicação fácil e neutro.
Qual a principal característica e função da língua internacional?
Suas principais características são: pronúncia fácil para todos os povos; gramática resumida, com apenas 16 regras fundamentais e sem exceção; vocabulário constituído, em sua maior parte, de palavras originárias das principais línguas cultas faladas no mundo, como latim, grego, inglês, francês, italiano, espanhol, alemão etc. Hoje o Esperanto já possui uma literatura riquíssima.
O que mais lhe chama a atenção no idioma internacional? Por quê?
O que mais me chama a atenção no Esperanto é a estrutura prática e comprovadamente lógica de sua gramática, cujas regras não possuem exaustivas exceções, tão comuns nas línguas nacionais. Por isso a gramática do Esperanto pode ser aprendida em poucas horas, dependendo da dedicação do estudante.
Para quem nada conhece desse idioma, como começar e por onde?
Por onde eu comecei, e com êxito: Primeiro Manual de Esperanto, que vem sendo editado pela FEB há mais de meio século.
Quantos livros o senhor traduziu para o Esperanto?
Foram vários. Entre eles, os que me deram muita alegria, ao traduzir, foram:
a) O Martírio dos Suicidas (La Turmentego de la Memmortigintoj), de Almerindo Martins de Castro, FEB, 1974);
b) Filigranas de Luz (Filigranoj el Lumo), de Tagore/Divaldo P. Franco, FEB, 1976);
c) O Consolador (La Konsolanto), de Emmanuel/Francisco Cândido Xavier, FEB, 1977);
d) Iracema, de José de Alencar, 1ª ed. pela Cooperativa Cultural dos Esperantistas, Rio de Janeiro-RJ, 1974, e 2ª ed, pela Universidade Federal do Ceará, Fortaleza-CE, 1997).
Há cerca de 35 anos, a pedido do então presidente da FEB, o saudoso Francisco Thiesen, o confrade Allan Kardec A. Costa, de Belo Horizonte, e eu fizemos a versão, ao Esperanto, da excelente Biobibliografia de Allan Kardec (três volumes), de autoria do referido presidente em parceria com Zêus Wantuil. O trabalho foi por nós realizado com muita perseverança, já pela excelência da obra, já pelo carinho com que o venerando confrade Thiesen nos honrara, designando-nos para esse enobrecedor empreendimento... Infelizmente, com a desencarnação do sr. Thiesen, nosso trabalho permanece até hoje como simples e volumoso manuscrito, aguardando publicação... Nem por isso a tarefa deixou de nos alegrar... a mim e ao samideano Allan Kardec A. Costa!...
O que nos dá alguma esperança de que um dia essa monumental biografia de Allan Kardec virá a lume é o fato de nosso manuscrito estar sob a guarda do fervoroso samideano Affonso Borges Gallego Soares, na tradicional sede da FEB no Rio de Janeiro!
Cite um fato marcante envolvendo o Esperanto em sua vida pessoal.
Dado o respeito e a admiração que sempre dediquei ao médium Francisco Cândido Xavier, posso dizer que o fato mais importante de minha vida, envolvendo Esperanto, foi o convite que ele me fez, em meados de 1974, para uma reunião na sede do Instituto de Difusão Espírita, em Araras-SP, com o Dr. Hércio M. C. Arantes, o Dr. Campos Vergal e nosso saudoso amigo Oswaldo Cordeiro, de Mirassol-SP, a fim de traçarmos as diretrizes para a edição bilíngue do livro O Esperanto como Revelação/Esperanto kiel Revelacio, que ele, o médium, havia recebido, anos antes, do Espírito Francisco Valdomiro Lorenz. Como eu disse acima, o próprio Francisco Cândido Xavier sugeriu a estrutura do livro, que resultou no volume que já conhecemos, e que já alcançou a quinta edição. Seu pedido me marcou profunda e eternamente.
Como foi o episódio do Espírito que não queria a tradução de determinado texto?
Que bom poder dedicar aqui algumas linhas a meu querido e respeitável irmão Divaldo Pereira Franco! A seu pedido, verti ao Esperanto sua psicografia Filigranas de Luz, do Espírito Rabindranah Tagore. Texto difícil, por se tratar de linda prosa profundamente poética. Terminada a tradução, que durou meses, ocorreu-me interessante fato: Iniciei a tradução do curto prefácio da edição original em português. Embora escrito numa singela linguagem jornalística, ao encetar a sua tradução, inexplicavelmente eu não conseguia ir além da quinta ou sexta linha. Tentava novamente, e nada! Eu mesmo não entendia o que estava acontecendo. Cheguei a comentar com Stella, minha esposa, e ela simplesmente sorria..., como que também não acreditando no que acontecia... Um dia, porém, tudo se esclareceu.
Divaldo chega à nossa cidade para falar no auditório do IELAR, o maior Centro Espírita local. Abraçando-me, Divaldo logo me pergunta: — E o nosso livro? Não hesitei: — Divaldo, o texto de Filigranas de Luz de nosso Tagore já está todinho pronto; porém, acontece algo muito estranho: não consigo traduzir o prefácio. Já tentei várias vezes, e na sexta ou sétima linha, sou vencido como por um misterioso desânimo, apesar de sua linguagem simples.
Divaldo fitou-me e disse, com a maior naturalidade: — Benedicto, Tagore não quer que apareça esse prefácio, onde ele é mencionado como pensador contemplado com o Prêmio Nobel... Abstive-me então de traduzi-lo...
Meus contatos com Divaldo são fraternais, como o são os de todas as pessoas que têm a felicidade de tê-lo como amigo e irmão.
Suas palavras finais.
Tendo ultrapassado o espaço que me foi concedido para esta modesta entrevista, que mais poderia eu acrescentar, de interessante, além dos meus inesquecíveis contatos com os dois grandes médiuns: Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco?...
Só me resta agradecer o generoso convite da Direção deste órgão de divulgação de nossa edificante e consoladora Doutrina.
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