quinta-feira, 19 de novembro de 2015

PÉROLAS LITERÁRIAS (125)



Pênfigo
Antônio Valentim da Costa Magalhães
“Fogo! Fogo!...” – esbraveja o inquisidor, fremente,
Torvo olhar na expressão implacável e crua.
Coleia a chama enorme e, trágica, flutua
A subir e bailar qual rúbida(1) serpente.
- “Piedade, meu Deus!...” – Choram vítimas, rente
Ao fogo que lhes rompe a carne viva e nua.
Estorcem-se de horror, ante os gritos da rua,
E somem-se, a bradar: - “Inocente! Inocente!...”
O tempo voa e abate o verdugo do povo...
Ordena a Grande Lei que ele nasça de novo
Para que o lume vivo o experimente e encangue(2);
E o terrível algoz na prova a que se aferra,
Aos singultos(3) de dor, arrasta sobre a Terra
O corpo torturado em brasas cor de sangue!...
 
(1) Rúbida – rubra, vermelha.
(2) Encangue – do verbo encangar: pôr a canga em; jungir; cangar.
(3) Singultos – soluços.
Romancista, poeta, crítico literário, teatrólogo, contista, jornalista e bacharel pela Faculdade de Direito de S. Paulo, Valentim Magalhães nasceu no Rio de Janeiro em 16/1/1859 e faleceu na mesma cidade em 17/5/1903. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
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