Contos e crônicas
Victor Hugo e o Espiritismo
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
— É... Joteli, foi ali que Victor Hugo
realizou suas inúmeras experiências...
— Ali onde e que experiências, amigo?
— Na ilha de Jersey, para onde foi
desterrado em 5 de agosto de 1852 por Napoléon
le Petit, como ousara chamar o Imperador francês, Napoleão III.
Quanto às experiências, trata-se de sessões
mediúnicas com base nas respostas de uma “mesa falante”, que em sua época
respondia por pancadas às perguntas feitas a uma entidade invisível. Esse ser,
que dizia ser o espírito de alguém falecido, satisfazia à curiosidade de todas
as pessoas com respostas inteligentes às questões a ele propostas.
Victor Hugo estudou obras de Pitágoras, de
Swedenborg e da Cabala, que, antes mesmo de Allan Kardec publicar as obras
espíritas, demonstravam sua crença em seus pontos básicos, como a sobrevivência
do espírito à morte do corpo físico, sua manifestação a nós, a elevação gradual
do espírito e mesmo suas “migrações sucessivas”...
Uma de suas frases, publicada no Journal de l’Exil de agosto de 1852, que parece ter sido parafraseada por
Léon Denis, na obra O problema do ser, do
destino e da dor, é a seguinte: “A vida mineral passa à vida orgânica
vegetal; a vida vegetal torna-se vida animal, cujo espécime mais elevado é o
macaco. Acima do macaco, começa a vida intelectual, escala invisível e infinita
pela qual cada espírito se eleva na eternidade, tendo Deus por coroamento”.1
Anos depois, residindo em Marine-Terrace,
Hugo comunicou-se com o espírito chamado Dama Branca, que desenhou seu retrato
com um lápis adaptado a uma mesinha. Dias após, indo a um enterro, o grande
poeta francês, ao curvar-se sobre a cova do falecido, viu a forma do desenho da
Dama Branca, suavemente luminosa, deitada na cova ainda vazia.
— E ele... não tinha medo?
— Até que tinha, mas, com o tempo, foi
acostumando-se... O fato é que Victor Hugo foi secretário de várias
manifestações mediúnicas, reunindo em três cadernos suas anotações provenientes
das perguntas e respostas dadas pelos espíritos...
Nessas reuniões, foram anunciadas as
visitas das mais variadas personalidades desencarnadas que, ora estavam
presentes, ora não... Ainda darei notícias delas aos nossos leitores ávidos das
novidades do Além.
— E o que mais disse o genial poeta, Bruxo
do Cosme Velho?
— Dentre outras frases estupendas, separei
esta:
Há meio século que escrevo meu pensamento
em prosa e em verso: história, filosofia, dramas, romances, lendas, sátiras,
odes, canções etc.; tudo tenho tentado, mas sinto que não disse a milésima parte
do que está em mim. Quando me curvar para o túmulo, não direi como tantos
outros: terminei minha jornada. Não, a sepultura não é um beco sem saída, é uma
avenida; ela se fecha no crepúsculo, ela se reabre na aurora (Victor Hugo).2
— Carácoles,
Machado! genial, poesia pura. Só mesmo Victor Hugo e você para escreverem algo
tão profundo e belo.
— Sou mais irônico e frio prosador do que
poeta; Hugo é mais poesia em prosa e em verso do que ironia. Ambos, porém,
refletimos sobre a ignorância e as incoerências humanas... A bientôt, mon ami!
— Au
revoir, ami; merci.
1 WANTUIL, Zêus. As mesas girantes e o espiritismo. 2.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978, p. 156.
2 Id., p. 158.
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