Manifestações de um
polêmico
Sugiro um acompanhamento bem racional deste artigo:
Quando você brinca com um filho seu, um irmão, um
parente ou amigo qualquer ou até mesmo com um pai, mãe, avó ou avô,
estará, pelo fato de brincar, faltando com respeito a essa
pessoa?
Você fica feliz quando recebe, em sua casa, a visita
daquele amigo bem humorado, brincalhão, que adora sair espalhando alegria
pra todo mundo e até fazendo todo mundo rir?
Pode ser considerada equilibrada e boa do juízo uma
pessoa que vive o tempo todo com a cara fechada e se aborrece quando
alguém chega feliz, alegre e sorrindo na sua casa?
Tem sentido alguém considerar a alegria, a felicidade,
o bom humor e o sorriso como falta de respeito ou estado de
imoralidade?
Creio que você, como toda pessoa equilibrada, vai me
dizer que adora conviver com pessoas felizes, que adora ambiente feliz em
sua casa, no trabalho e em todo lugar por onde vai e que não vai se
enquadrar no universo das pessoas carrancudas, baixo astral e mal
humoradas.
Pois bem.
Se nós gostamos da alegria e da felicidade, tem sentido
alguém achar que Jesus não gostaria?
Como você acha que era Jesus na sua convivência diária
com aqueles doze amigos que ele juntou?
Sinceramente, você acha que ele passava o dia inteiro
falando por parábolas, sério, pronunciando aquelas coisas que nos
acostumamos a ler nos relatos do Evangelho e utilizando termos do tipo
“dar-se-vos-a”, “abrir-se-vos-á” e outras expressões
complicadas que quase ninguém entende?
Acha que, na cabeça dele, ser um Ser elevado
espiritualmente, significa necessariamente TER que falar complicado,
gramaticalmente correto e utilizando-se de vocabulário não acessível à
maior parte das pessoas?
Este é o meu questionamento desta matéria.
Por que muitas pessoas fazem tanta questão de retirar
todas as características humanas de Jesus, emprestando-lhe comportamento
absolutamente distante do homem, inclusive dos homens de grande valor
moral?
Por que não se pode brincar com Jesus? É possível
alguém de bom senso imaginar que ele não brincasse com os apóstolos, com
os samaritanos e com todo aquele povo com o qual conviveu no seu
tempo?
Algum, em sanidade normal, pode concebê-lo recebendo
aquelas criancinhas, com certeza algumas pulando nele e sentando em seu
coloco, sem dar um sorriso e sem esboçar alegria nenhuma?
Um dia a Globo mostrou um filme, sobre a vida dele, mas em um
tipo de produção totalmente diferente das famosas “Vida de Cristo”,
que nós nos acostumamos a ver na Semana Santa, que nada mais eram que
apologias ao sofrimento. Neste filme, em determinado momento que eles
foram a um tanque beber água, ele deu um tapa na água que espirrou na cara
dos apóstolos, que saíram correndo atrás dele, para pegá-lo, todo mundo
morrendo de rir, inclusive ele, que se escondeu num mato, e todos ficaram
tentando descobrir onde ele se meteu.
Alguém, com juízo em equilíbrio, poderia identificar
algum ato de imoralidade em comportamentos assim?
É lógico e é óbvio que Jesus era um homem como outro
qualquer, só que possuidor de uma característica moral a espiritual muito
além do homem comum.
E pra ter característica moral e espiritual precisa,
necessariamente, ter cara fechada e viver o tempo todo parecendo que comeu
azedo?
A religião que, a meu ver, deve ser muito questionada
na sua utilidade para as pessoas, implantou na criatura humana uma
conceituação muito estúpida e até ridícula do que seja moralidade e
espiritualidade.
A igreja católica, por exemplo, é mestra em fazer
apologia ao sofrimento.
Reparem: O principal evento dela, repetido diariamente,
em todos os lugares do mundo, que é a “Santa Missa”, significa o
quê?
Rememoração do SOFRIMENTO de Jesus! Relembrar a
desgraça que fizeram com ele, inclusive dando ênfase ao seu SANGUE
DERRAMADO.
Entrem numa igreja e preste bem atenção nos quadros que
estão colocados nas paredes ou nas colunas: A via sacra!!!! A
seqüência de tortura a que ele foi submetido, do Sinédrio ao
Calvário.
Pra que isto, pelo amor de Deus?
O que dizem os católicos e evangélicos: Que o seu
SANGUE foi derramado, para nos salvar.
Muitos chegam a dizer: Sangue de Jesus tem
poder!!!!
Ora, se sangue de Jesus tem poder, suor de Jesus também
tem, cuspe de Jesus tem e até urina de Jesus poderia ter poder. Por que
não?
Será que o mais correto não seria o entendimento que o
ensinamento de Jesus tem poder? Viver conforme Jesus nos recomendou
tem poder?
Certa vez eu fui fazer palestra num determinado centro
espírita, que começaria as oito da noite. Fazia um frio
daqueles.
Ao chegar lá, como acontece na maioria, aquele
silêncio, as pessoas entrando devagarinho, se sentando devagarinho, aquela
placa na parede escrito “O Silêncio é uma
Prece”, e todo aquele ambiente que todo mundo conhece na
maioria dos centros espíritas.
Já que eu era o palestrante da noite, me chamaram,
baixinho, com uns cinco minutos de antecedência, para sentar-me à
mesa, ao lado do Seu Fulano, que era o presidente da casa e dirigente do
trabalho da noite.
Todo mundo naquele silêncio e naquele entendimento que
teriam que ficar bem concentrado para HARMONIZAR O AMBIENTE, a fim
de começar o trabalho exatamente às 20:00h, levando bem em
consideração o detalhe do ZERO ZERO, da hora, pra ser bem pontual, em nome
da disciplina da casa.
Seu Fulano ficava olhando o tempo todo para um relógio
grande que ficava na parede do fundo do salão e conferia no que ele trazia
no pulso, para ver se já eram vinte horas EM PONTO.
Percebi logo um certo conflito, ao olhar de lado e ver
que o relógio dele estava um minuto atrasado em relação ao da parede do
centro.
E agora, qual é o que tá
certo, o meu ou o do centro? Ô meu Deus, será que eu não vou criar um
problema com o mentor da casa, se começar pelo relógio errado?
Claro que ele não disse isto, mas a formalidade na casa
espírita é tão inconseqüente que não duvido de ter pensado assim. (Veja
item 333 de O Livro dos Médiuns).
Pronto, deu oito horas!!!! Em ponto. No relógio do
centro.
“Que a Paz de Jesus seja
com todos, meus irmãos”.
Fez o ritual de abertura, leitura, avisos, prece
inicial, apresentou o palestrante da noite e me passou a
palavra.
O detalhe, que eu já observava, é que muita gente na
platéia, principalmente pessoas mais idosas, já estavam dormindo mesmo
antes das oito. Várias pessoas.
Aí comecei a pensar comigo mesmo:
Que diabo que eu vou
fazer pra acordar esse povo? Começar falando alto não é bom, porque pode
assustar. Ah, já sei!
Comecei, então a minha palestra:
Boa noite a todos. Na
noite de hoje quero falar para vocês sobre coisas da vida de Jesus, que
não constam nos Evangelhos.
Conforme todos sabem,
ninguém sabe o que Jesus fez dos 12 aos 30 anos, porque não tem registro
no Evangelho; mas eu sei.
Jesus, aos 24 anos, foi
goleiro da seleção de Cafarnaum. Fazia defesas
milagrosas.
Poucos sabem o que ele foi fazer na casa de Zaqueu, porque só
relatam a visita. Eles já se conheciam há muito tempo, porque Zaqueu
também jogava no mesmo time, era zagueiro, embora muito baixinho. Era
também agiota, emprestava dinheiro a juros. Certa ocasião, Jesus precisou
comprar uma Kombi, mas não tinha dinheiro, porque só vivia duro. Pediu
emprestado para Zaqueu, que o cobrou quinze por cento ao mês, e foi aí que
o Mestre foi lá tomar satisfações, pelo exagero.
Foi um Deus nos acuda. Consegui acordar toda a platéia
bonitinho, inclusive as velhas e os velhos ficaram de olhos bem
arregalados, escutando aquilo, assustados. Ninguém dormia mais.
Detalhe: A Kombi de Jesus não seria modelo novo, seria
desses antigos, como a foto aí ao lado. Naquele tempo não havia sido
lançada a nova, ainda.
Cheguei a perguntar:
Vocês sabem porquê as
freiras gostam tanto de Kombi? Por causa disto. Toda freira adora
Kombi.
Nessas alturas, o Seu Fulano já estava nervoso. Coçava
a careca, olhava para mim, olhava para o público por cima dos óculos...
tava num desespero de dar pena.
Quando eu senti que ele iria me dar uma porrada nas
costelas eu parei com a brincadeira:
É brincadeira, gente, é
brincadeiraaaaaa. Eu queria era só acordar vocês, porque tava todo mundo
dormindo aqui. Vamos, então, começar a palestra mesmo, falando
sério.
O velho deu uma respirada forte, aliviado, daquelas que
quase assovia. Mas me olhou com uma cara de reprovação total.
Conduzi a palestra normalmente, com todo mundo
acordado, obviamente, e levei até o final.
Ele me chamou no canto, me deu uma boa esculhambação e
recomendou que eu não fizesse mais aquilo, porque ninguém deve
brincar com Jesus.
Determinou que ninguém, nunca mais, me convidasse para
fazer palestra ali.
Conclusão
Na cabeça de muita gente, seriedade é sinônimo de cara
fechada, semblante sizudo, ausência de sorriso, de alegria e de bom humor.
A famosa plaquinha do tal “O Silêncio é uma prece” é uma
demonstração de que TEMOS que ficar em silêncio, no ambiente do centro
espírita, ou, no máximo, falarmos baixo, posto que falar em tom normal é
concebido como desrespeito.
Quando a orientação de um casa espírita determina que não se
deve aplaudir ninguém que se apresente por lá, principalmente
palestrantes, é sinal de que os seus dirigentes ainda são movidos por esse
equívoco de repúdio à alegria, já que o ambiente tem que ser parecido com
o da “santa missa”, onde o que prevalece é o sofrimento e o
sacrifício.
Aplaudir alguém significa que a platéia está dizendo
que gostou, que ficou alegre, feliz e agradecida pelo que o expositor
acabou de dizer. Mas já que alegria ali não é coisa permitida, prevalece a
indiferença e a frieza dos corações.
Com certeza entenderam Jesus de forma totalmente
equivocada. O Maior Ser que Deus já mandou para a Terra, exatamente para
proclamar a Boa Nova, a alegria, o caminho para a felicidade e a Paz, foi
entendido como um ser que veio fazer apologia ao sofrimento, como condição
“sine qua non” para a evolução do ser.
Desvincular Jesus da alegria é uma das maiores
incoerências que a religião ensina para as pessoas; o pior, é que muita
gente entende que isto faz sentido.
Não tem sentido alguém achar que Jesus não gosta de
alegria e não gosta que as pessoas se dirijam a ele, bem humoradas,
alegres, felizes e até brincando. Ele é o símbolo maior da felicidade e
toda pessoa feliz, naturalmente, traduz essa alegria em
sorriso.
Portanto, afastemos o conceito maluco de que a cara
fechada, sizuda, supostamente séria seja sinônimo de respeito à Jesus, é
sinal de hipocrisia, o mal que ele mais condenou.
Abração.
Alamar Régis Carvalho
Analista de Sistemas, Escritor e Antares DINASTIA
alamarregis@redevisao.net
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Alamar Régis Carvalho - Analista de Sistemas,
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