quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

"A MENSAGEM DO CRISTO PRECISA SER CONHECIDA, MEDITADA, SENTIDA E VIVIDA"

O FERREIRA
andure@uol.com.br
Brasília, DF (Brasil)      
 
 
Saulo Cesar Ribeiro da Silva: Retirado de o Consolador Revista de Divulgação Espírita
O organizador do projeto O Evangelho por Emmanuel  fala sobre
o NEPE - Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho, sua criação, objetivos, funcionamento e propostas

 
Saulo Cesar Ribeiro da Silva (foto), nascido em Ceres (GO), atualmente reside em Brasília. De família espírita, foi, quando jovem, morando em Goiânia, evangelizador e coordenador de Mocidade. Hoje vinculado à Federação Espírita do Distrito Federal e à Federação Espírita Brasileira, é palestrante e organizador do projeto O Evangelho
por Emmanuel, além de membro da Comissão Administrativa do NEPE – Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho, que funciona no Distrito Federal.
Como e quando surgiu o Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho na Federação Espírita do Distrito Federal (FEDF)?
O núcleo teve duas fases distintas. A primeira começou na verdade antes do próprio nome NEPE, no final do ano 2011. Alguns companheiros da FEDF sentiam a necessidade de retornar ao estudo do Evangelho e iniciamos uma reunião aos domingos com esse fim. Esse grupo evoluiu e consolidou-se. Com a criação do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Evangelho (NEPE) da Federação Espírita Brasileira (FEB) e a possibilidade de troca de experiências entre diversos grupos de estudo do Evangelho, o projeto foi evoluindo, o nome do grupo foi alterado para NEPE-FEDF e consolidou-se como uma das atividades da Diretoria de Estudos Doutrinários. O grupo continuou se desenvolvendo e hoje já conta com a participação de companheiros de diversas casas espíritas do DF e já realizou dois seminários de estudo do Novo Testamento sob o enfoque espírita.  
O trabalho foi influenciado pela prática de alguma instituição ou de iniciativa particular?
A princípio a iniciativa foi própria, mas com o passar do tempo tivemos contato com outras propostas e incorporamos o que pareceu adequado ao grupo, contexto e propósitos.    
Qual a proposta, o objetivo e o perfil do Grupo e seus participantes?
A proposta do grupo é promover um espaço de diálogo, estudo e reflexão sobre os ensinos e exemplos de Jesus contidos no Novo Testamento, na linha do que foi iniciado por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo. O objetivo é promover entre os participantes uma melhor compreensão dos ensinos de Jesus à luz da Doutrina Espírita. Essa compreensão não se limita ao aspecto teórico, por entendermos que o Evangelho só será bem compreendido quando conseguirmos praticá-lo no cotidiano de nossas vidas, como bem resume Alcíone no livro Renúncia: "a mensagem do Cristo precisa ser conhecida, meditada, sentida e vivida". Sem essa vivência sabemos que o ciclo de interpretação dos ensinos do Mestre não estará completo. Em termos de objetivo, existe também a proposta de compartilhar com o movimento espírita essas reflexões, o que já foi feito através de dois seminários e outras formas de divulgação em projeto. O perfil dos participantes desse grupo específico é predominantemente de pessoas com três ou mais anos de movimento espírita, embora essa não seja uma restrição. As reuniões são abertas e delas pode participar qualquer pessoa que esteja interessada. Atualmente o grupo conta com pessoas oriundas de mais de oito casas espíritas do Distrito Federal.  
Como funciona o Grupo? Como participar?
As reuniões têm a duração de duas horas e são realizadas sempre nos segundos e quartos domingos de cada mês, das 17h30 às 19h30. O acesso é livre para qualquer um que queira participar. Sempre no início do ano ou ao término de um ciclo de estudos, definimos em grupo quais os temas que serão abordados, e a partir daí os estudos são realizados através do diálogo e do debate entre os participantes. Já terminamos um ciclo de introdução aos 27 escritos do Novo Testamento, um sobre as bem-aventuranças nas três revelações e atualmente estamos estudando as parábolas exclusivas do evangelho de Mateus. Estão programados ainda um ciclo sobre o Sermão Profético e outro sobre as referências à vinda de Jesus. 
Como você vê a qualidade dos estudos espíritas, em geral, no momento atual?
Particularmente temos uma visão bastante positiva sobre o desenvolvimento dos estudos espíritas na atualidade. Alguns anos atrás esses estudos eram preponderantemente sobre os temas da mediunidade e dos princípios da Doutrina. Atualmente, temos visto se juntarem a esses temas, que são importantes e necessários, outros relativos aos estudos do Novo Testamento e do Evangelho. Dessa forma, acho que estamos caminhando na direção do que Kardec sempre enfatizou quanto ao tríplice aspecto do Espiritismo: ciência, filosofia e religião. Obviamente, não encontramos o mesmo nível de desenvolvimento desses três aspectos em todas as casas espíritas e instituições, mas, quando olhamos para o movimento espírita, é nítido esse desenvolvimento. Além disso, outro fator, específico do estudo do Evangelho, que vemos como sendo muito positivo, é a capacidade desse estudo de despertar o interesse de jovens e de promover a interação da geração mais antiga com a mais nova dentro da casa espírita, em torno do Evangelho. Aliado a isso, surge algo que temos visto com bastante entusiasmo, que é o crescente uso das tecnologias de comunicação e das redes sociais, como meios de interação, estudo e compartilhamento de informações. Essa é uma característica da nossa sociedade que abre muitas oportunidades.
Outro aspecto que percebemos como desenvolvimento positivo na atualidade é um maior diálogo com outras denominações religiosas. Isso também está de acordo com o que Kardec dizia quanto ao futuro das religiões e à contribuição que a Doutrina poderia dar a todas elas. Por muito tempo esse diálogo foi quase incipiente. Acho que agora estamos encontrando as pontes que possibilitarão que ele cresça cada vez mais. Isso é muito positivo, porque a paz, a caridade e a fraternidade devem ter, nos diversos movimentos religiosos, a sua expressão mais viva.  
Quais as principais dificuldades a superar?
Creio que as dificuldades principais são de três naturezas distintas. A primeira diz respeito à tendência natural de algumas pessoas que, diante de algo novo, sentem receio e tendem a desestimular o florescimento de novas ideias. Em certa medida, as precauções são necessárias para conter abusos e desvirtuamento de certos caminhos. Em excesso, essa postura pode comprometer atividades importantes para o futuro do movimento. Aqui, há que se buscar o justo equilíbrio, nem sempre fácil, mas que através de um diálogo franco e aberto certamente será encontrado.
A segunda dificuldade é a de encontrar caminhos metodológicos que atendam às características de cada grupo. Às vezes, parece muito mais fácil adotar uma determinada metodologia ou apoiar-se em uma pessoa, mas isso traz o risco de inadequação às necessidades e realidades do grupo específico e da casa espírita onde ele está inserido. As trocas de experiências são, nesse sentido, muito importantes e podem oferecer um quadro mais amplo, a partir do qual as demandas de cada grupo serão atendidas.
A terceira dificuldade reside em não se completar o ciclo interpretativo e de estudo da forma como Kardec nos orienta, pois este só se conclui na vida, no cotidiano, na experiência conjunta. Qualquer estudo que permaneça exclusivamente no âmbito intelectual ainda não está completo. Não se trata aqui do falso dilema entre estudo e prática. Em matéria de Evangelho, todo estudo deve terminar na prática e toda prática deve promover uma nova reflexão. Evangelho é lei da vida e o seu estudo tem como locus fundamental a nossa vivência como indivíduo e como coletividade.  
Qual a importância desse tipo de grupo de estudos espíritas?
Allan Kardec, na introdução de O Evangelho segundo o Espiritismo, diz explicitamente: "Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral só são ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que se permita apreender-lhes o verdadeiro sentido, esta chave está completa no Espiritismo". Essa afirmação do codificador é ao mesmo tempo um alerta, em relação ao papel do Espiritismo no resgate da essência dos ensinamentos contidos na primeira e na segunda revelação, como também um convite para que, de posse dos princípios trazidos pelos Espíritos na codificação, possamos melhor compreender uma Lei Divina que vem sendo paulatinamente revelada ao homem. Essa lei, como a resposta à questão 614 de O Livro dos Espíritos nos esclarece, diz respeito à nossa felicidade. Portanto, em última instância, a importância desses grupos é a de iluminar caminhos que nos possibilitarão trabalhar em favor da nossa felicidade como indivíduos, agrupamento e sociedade.  
O que, na sua percepção, precisa e pode melhorar na organização de grupos espíritas específicos como esse?
As experiências são ainda muito recentes, o que não nos permite ainda abarcar um conjunto muito grande de dificuldades e possibilidades de melhoria. O que temos percebido, até o momento, é a importância do diálogo dentro da casa e com outros grupos. Nesse quesito, toda iniciativa na direção de intensificar o diálogo com a direção do centro espírita e com outros grupos é necessária.  
Quais os planos em relação a esse grupo no futuro? Que atividades podem ser implementadas? Que resultados podem ser alcançados?
As expectativas são de que no futuro as experiências desenvolvidas no grupo possam contribuir para outros interessados nesse tipo de estudo em outras casas espíritas. As atividades estão relacionadas à criação de biblioteca, material de referência e canais de compartilhamento e divulgação. Em termos de resultados, acredito que eles se dividem em duas frentes. Uma externa, com uma mudança na forma como a Doutrina é percebida dentro do seu aspecto cristão e religioso, e outra de natureza interna. Essa última creio ser a mais importante. Jesus disse no sermão do monte para seus discípulos: "vós sois a luz do mundo", o que nos faz refletir sobre a tarefa de fazer brilhar a luz que todos trazemos dentro de nós. Sabemos quanto um indivíduo iluminado pode fazer diferença em uma sociedade. Martin Luther King, Madre Tereza, Francisco de Assis, Gandhi, Chico Xavier, Divaldo, Irmã Dulce são alguns dos grandes exemplos. Existem, contudo, outros, desconhecidos do grande público, mas que nem por isso deixam de ser demonstrações daquela luz a que Jesus se referia. As ações de um médico ou enfermeiro em um hospital, de um funcionário público em uma repartição, de um operário em uma indústria, de um profissional liberal, de uma mãe, um pai, um filho, um amigo, podem também ser uma luz brilhando onde haja a sombra do desespero, do desânimo, do pessimismo, da falta de fé. Essas luzes são tão ou mais importantes do que a dos grandes homens e mulheres que continuarão a ser necessários para nos orientar, mas a sociedade humana é muito grande e vivemos no limiar de uma civilização global que não prescindirá do esforço individual na esfera de ação em que estejamos atuando. Precisaremos dos holofotes, mas, e cada vez mais, das pequenas chamas acesas. Cada um que já teve a oportunidade de observar uma vela numa noite escura sabe quanto ela pode fazer a diferença. Se tivermos muitas pequenas chamas acesas, atenderemos a fala do Mestre quando, em complemento à citação anterior, nos dizia: "brilhe a vossa luz". 
Sua mensagem final aos nossos leitores.
No prefácio do livro Caminho Verdade e Vida, Emmanuel nos traz a seguinte frase: "... no imenso conjunto de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaboradores diretos adapta-se a determinada situação do Espírito, nas estradas da vida". Estudar o Evangelho significa encontrar nesses conceitos, palavras, parábolas, exemplos, o caminho de uma vida mais plena e feliz. Aproximemo-nos desses textos com as luzes que a Doutrina Espírita nos concede, sem prescindir da contribuição de outros que se congregam no mesmo esforço de compreensão, e a música inesquecível do amor ressoará em nosso íntimo, em cânticos de paz e felicidade.

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