quinta-feira, 23 de abril de 2015

" CADA SER HUMANO TRAZ EM SI POTENCIALIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS"

Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 9 - N° 410 - 19 de Abril de 2015
ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)
 
 
Cátia Sirlene Gonçalves Hahn: 


A presidente da Casa da Fraternidade, de Araranguá (SC), duas vezes premiada pelo projeto Criança Esperança, da Rede Globo, fala sobre o trabalho educativo realizado pela instituição
 
 
Espírita desde 1985 e atuando no movimento desde 1996, Cátia Sirlene (foto) é natural da capital paulista, mas reside em Araranguá (SC), onde atua na Casa da Fraternidade, da qual é a atual presidente. Produtora cultural e formada em Arte-Educação, ela nos concedeu a presente entrevista que nos permite ter uma  dimensão  do  trabalho
educativo promocional que a instituição, duas vezes premiada pelo Criança Esperança, da Rede Globo, tem realizado. 

Situe, para os nossos leitores, o município de Araranguá no aspecto demográfico, social e econômico.
Araranguá é uma cidade com aproximadamente 65.000 habitantes. Localizada no extremo sul de Santa Catarina, a 10 km do litoral, conta com belas paisagens naturais e largas avenidas. A maioria da população sobrevive da confecção e do comércio de roupas e, no verão, do turismo. Não possui grandes indústrias, o que gera desemprego para os jovens, o que faz com que muitos deixem a cidade. Nas redondezas da Casa da Fraternidade, no bairro Lagoão, se localizava a população mais carente, um quadro que vem mudando de alguns anos pra cá, devido ao trabalho da Casa da Fraternidade. 
Quando e como surgiu a Casa da Fraternidade e com que objetivo?
Como a necessidade material do bairro Lagoão era grande, a Casa da Fraternidade foi fundada em 1987, a princípio atendendo a primeira infância através da Creche Meimei. Trabalhadores do movimento espírita da região, o casal Rosangela Justino Soares e Aurelio Soldatelli, ela professora e ele engenheiro mecânico, alimentavam um velho sonho de oferecer um pouco do alimento material para os famintos do corpo, mas também alimentar o espírito. Nas noites de quinta-feira, a sala de aula se transformava em sala de palestras doutrinárias. Ambos administraram a Creche até 1993, quando se mudaram para o Rio Grande do Sul. Após a saída dos fundadores, a Casa passou por muitas dificuldades de manutenção. Até que, passados os primeiros anos, iniciamos um novo trabalho e o objetivo se definiu como um Centro de Convivência e Fortalecimento de vínculos para crianças, adolescentes e famílias, sintonizado com a proposta espírita de promoção social através da educação integral. 
Quantas pessoas a Casa da Fraternidade já atendeu?
Já passaram pela Casa mais de 5 mil crianças.
Como são realizadas as atividades nesta nova fase?
Em meados de 1997, quando cheguei para estudar a Doutrina Espírita, havia no entorno da Casa muita pobreza e o tráfico de drogas era intenso. Às vezes tínhamos que pedir licença para entrar na Casa. Com poucos frequentadores, pois o bairro assustava a quem chegava, a estrutura material da Casa estava péssima, a Creche era mantida pela Prefeitura, e o movimento espírita realizava apenas algumas ações assistencialistas de entrega de cestas básicas. Havia um jovem – Alex, hoje meu esposo – que ensaiava uma peça de teatro espírita (Julinho, o engraxate) com um grupo de jovens nos finais de semana. No ano de 2000 a Prefeitura decidiu construir uma nova creche no bairro. Foi quando decidimos reformar o antigo prédio e iniciar um novo trabalho para os meninos e meninas em idade escolar. Surgiu então o Projeto Juventude Luzes do Amanhã, com o Alex no teatro, a Zizi ministrando música, a Luciani e eu nos revezando na limpeza, na cozinha e nas aulas de valores humanos, nos pedidos de doações. Como éramos poucos, fazíamos quase tudo sozinhos e tínhamos inúmeras dificuldades, pela falta de apoio técnico, falta de recursos financeiros, falta de materiais. Aos poucos foram surgindo novos voluntários para as atividades de artesanato, enxoval de bebê e recreação, e o projeto foi tomando forma. Fomos nos capacitando, conseguimos angariar parcerias, contratar pessoal e delegar tarefas.
O que eram as aulas de valores humanos?
Sempre tivemos como princípio que a religião não deve ser imposta, mas os princípios de espiritualidade devem estar presentes na vida dos atendidos de uma forma autônoma. A professora Zizi, antes de vir para Araranguá, havia lecionado música na Mansão do Caminho (Bahia) e contou que lá o Divaldo aplicava a pedagogia dos valores humanos antes de cada atividade. Ficamos muito interessados e decidimos então fazer um teste. Passamos a debater uma mensagem por semana através de painéis e dinâmicas de grupo. E as crianças adoraram as aulas. A partir daí vimos que precisávamos de uma proposta pedagógica e fomos pesquisar Pestalozzi. Até hoje o método é aplicado. 
Qual o público-alvo e quantas pessoas são atendidas diariamente? É em regime de internato ou semi-internato?
Hoje atendemos 205 crianças e adolescentes entre 6 a 14 anos, e 20 adolescentes entre 15 e 18 anos em diversas oficinas culturais em horário oposto ao escolar, em aulas de canto, balé clássico, teatro, violão, percussão, informática, artesanato, artes visuais, xadrez, capoeira e outras. As crianças fazem reforço escolar, aulas de ética e cidadania e atividades literárias, almoçam e tomam café na entidade, recebem orientação psicológica, apoio psicopedagógico e suas famílias são acompanhadas pelo serviço de assistência social. 
Qual foi a premiação recebida pelo trabalho? E o que significou a premiação para a instituição?
Em 2010 o Projeto também ganhou a chancela de “Ponto de Cultura” do Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado. Além do reconhecimento governamental, isso fez com que novos públicos viessem também a participar das atividades. Com os recursos conseguimos manter uma equipe de trabalho, que hoje conta com 21 profissionais contratados, ampliar nossas instalações e adquirir novos equipamentos. Em 2012 ganhamos o Criança Esperança. Em 2013 fomos classificados como semifinalistas do prêmio Itaú-Unicef e em 2014 ganhamos novamente o Criança Esperança e um prêmio da Fundação Biblioteca Nacional. 
Como foi a premiação pelo Criança Esperança? O que levaram em conta?
São quase dois mil projetos inscritos a cada ano no Edital, e uma seleção rigorosa. Fomos um entre os três projetos de Santa Catarina contemplados. Penso que para a seleção foram levados em conta os aspectos inovadores do projeto, a proposta pedagógica, a transformação da comunidade, o empenho da equipe de trabalho, a missão da instituição, além dos aspectos legais. Percebemos que após o Criança Esperança passamos por uma nova fase, pois se tivemos maior visibilidade, também mais responsabilidades, pois o trabalho se desenvolveu, o número de crianças e famílias praticamente dobrou, a equipe teve que se capacitar e correr atrás de mais recursos.   
Fale-nos sobre o Projeto Juventude. Em que consiste?
Após 13 anos, o Projeto Ponto de Cultura Juventude Luzes do amanhã se transformou num espaço alternativo de produção de arte e cultura para toda a cidade. Ele realiza ações culturais, educacionais e assistenciais. Suas ações são realizadas de forma interligada, gerando assim um resultado de promoção social para seus atendidos. O projeto vem favorecendo a integração, a formação e desenvolvimento das potencialidades na comunidade, com o lema: "Admitir a hipótese de que cada ser humano traz em si potencialidades a serem desenvolvidas é admitir a ideia de permanente transformação". Tem ele como proposta educativa uma abordagem através da Educação em Valores Humanos, usando como ferramentas a arte-educação. O projeto também oferece informática, reforço escolar, oficina de ética e cidadania, apoio assistencial, psicológico, psicopedagógico e sociofamiliar, refeições, e também atividades culturais e eventos comunitários que favorecem a integração comunitária. Ao longo dos anos o Projeto Juventude se transformou numa grande arvore com muitos galhos e cada um gerando seus frutos. Abriga em seu interior outros projetos, que estão ganhando autonomia, como a Cia. Teatral Bocarela das Palavras, o Projeto Mulheres Solidárias Renascer, o Projeto Cinema na Comunidade, o Projeto Almoço com Jesus, o Projeto Amor aos nossos Filhos, e o Projeto Biblioteca Comunitária Semeadores do Futuro, que até ganhou no ano passado um Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional e neste ano irá contar com sede própria. 
Algo marcante a citar nesses anos todos de trabalho?
Acho que foi marcante a gravação da equipe da Rede Globo para o Criança Esperança.  Foi num dia muito especial para todos. Pessoalmente, eu e o Alex estávamos bem desanimados, com os problemas de saúde do Alex, que passou por uma cirurgia gravíssima no início do ano. Foi uma época muito difícil e eu estava me questionando se tudo isso valeria a pena. Fomos pegos de surpresa e a jornalista Kiria começou a entrevistar as crianças e as famílias dos atendidos. Todos nos emocionamos, principalmente com o depoimento do menino Vilásio, que começou na Casa aos seis anos e hoje está com 17 anos. Foi muito legal ver o nosso projeto e nossa Casa na televisão. Ligaram várias pessoas até dos Estados Unidos, dizendo que assistiram à matéria. E de certa forma acordou muita gente, principalmente do Movimento Espírita de Santa Catarina, que passou a se interessar e querer saber quem éramos. 
Em sua memória, o que lhe vem à mente imediatamente?
Vêm à memória os encontros do Projeto Almoço com Jesus, realizados no primeiro domingo de cada mês, quando reunimos o Movimento Espírita e a comunidade atendida com várias ações durante o dia. É muito bom depois do trabalho perceber a alegria de toda aquela gente sendo amparada e também ver a alegria nos rostos dos voluntários que serviram em nome de Jesus.  
Quais os contatos para quem desejar auxiliar ou visitar?
A Casa da Fraternidade fica na Rua Pedro Gomes, 740 - Bairro Lagoão – Araranguá-SC. Telefone: 48.3527.0214 – e-mail: casa.fraternidade@gmail.com/ Site: www.projetojuventude.com.br / Quem quiser contribuir financeiramente pode fazer um depósito na conta Banco do Brasil – agência 5280-9 – C/C 9752-7
Suas palavras finais.
Gostaria de apenas agradecer a Jesus a oportunidade de servir em seu nome, e também agradecer àqueles que confiaram e nos apoiaram com suas palavras e atos para que este trabalho continuasse existindo.   
Fonte: Reirado de o Consolador Revista Semanal de Divulgação Espírita"

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