segunda-feira, 20 de abril de 2015

ECTOPLASMA (PARTE 1)

EURÍPEDES KUHL
euripedes.kuhl@terra.com.br
Ribeirão Preto, SP (Brasil)
 
 
Eurípedes Kühl
A palavra (substantivo masculino) ectoplasma vem do grego: ektós = fora de, exterior + plasma = produção; Ocult. Forma visível com certas propriedades físicas que seria emitida às vezes pelo médium em estado de transe[1].     
Quanto à sua aplicação, vem da Metapsíquica e da Parapsicologia, relacionando-se com fenômenos de efeitos físicos, comumente chamados "de materialização", com auxílio de médium. 
Os pesquisadores[2] 
Ernesto Bozzano (1862-1943), pesquisador italiano, relata que a substância ectoplásmica já era bem conhecida pelos alquimistas do século XVII[3]. Cita que o polímata (aquele que estudou ou sabe muitas ciências) Emanuel Swedenborg (1688-1772), grande espiritualista do século XVIII, realizou experimentos com a substância sem empregar o termo ectoplasma e reportou-se a “uma espécie de vapor que lhe saía de todos os poros, um vapor d'água assaz visível, que descia até roçar no tapete”.
O ectoplasma, substância ainda atualmente quase desconhecida e pouco pesquisada, teve nos fins do Séc. XIX o período de maiores anotações.  Naquele final de século, poderosos médiuns de efeitos físicos assombraram os homens das Ciências, produzindo incríveis materializações.
Na Inglaterra
Talvez o mais famoso desses casos tenha sido aquele que foi controlado por Sir William CROOKES (1832-1919), químico e físico inglês, membro da Real Sociedade de Ciências de Londres, sendo pesquisador de fenômenos espíritas, ocupou-se também do ectoplasma, em inúmeras materializações do Espírito "Katie King", com auxílio da médium inglesa Florence Cook (1856-1904).
Crookes realizou sessões de materialização nas quais se tornava tangível o Espírito que se autodenominou Katie King, indiana, que afirmou ter vivido alguns séculos antes.  As cartas-artigos de Crookes foram publicadas na Inglaterra nos jornais espiritualistas (ex.: "Quartely Journal of Science”, de janeiro de 1874).
Nessas memórias Crookes cita que Katie chegou a ficar por duas horas materializada, conversando com os presentes, deixando-se tocar.  Crookes, respeitosamente, solicitou-lhe permissão para tocá-la, tendo auscultado seu coração, que batia num ritmo menor do que o da médium Florence Cook, fornecedora do ectoplasma.
Dispensável registrar que o emérito cientista cercou-se dos mais rigorosos cuidados, de forma a evitar fraude ou mistificação.  Um desses cuidados, prova definitiva, foi o fato de trancar a médium numa sala anexa e o Espírito Katie materializar-se na outra.  Outra prova, cabal também, foi o fato de Katie haver se materializado ao lado da médium, deixando fotografar-se. Só mais uma prova: Crookes cortou, com permissão de Katie, um cacho da cabeleira dela; Katie, ela própria, tomou uma tesoura e cortou grande parte dos seus cabelos, pedaços do seu vestido e do véu e distribuiu-os aos presentes; logo a seguir, mostrou os buracos do vestido à claridade da luz e deu uma pancada em cima da parte cortada, que instantaneamente se recompôs.
Ainda na Inglaterra, o físico William Jackson CRAWFORD (1870-1920), pesquisador das propriedades do ectoplasma, realizou experiências notáveis a respeito.  Percebeu as fortes evidências de que o ectoplasma origina-se nos tecidos físicos, pois estudou a médium (Srta. Goligher): com auxílio de uma balança, pesando-a antes, durante e após a emissão do ectoplasma.  Verificou diminuição do peso da pessoa após a emissão e retorno ao peso original, depois da reabsorção do ectoplasma.  Em uma das experiências de emissão de ectoplasma, a balança acusou que a médium conseguiu emitir 23,7 kg[4]! Noutro tipo de experiência, partes físicas da Srta. Goligher ficavam como que flácidas após a emissão, enrijecendo-se e voltando ao normal, também ao ser reabsorvida a porção de ectoplasma emitida.  Utilizando-se de um dinamômetro suspenso no teto, ligado às pernas da médium verificou, repetidas vezes e sempre com os mesmos resultados, que a tensão no aparelho diminuía, de 1,8 kg para 0,45 kg[5].
Na França
Charles Robert RICHET (1850-1935), cientista, fisiologista e médico, Prêmio Nobel de Fisiologia de 1913, descobriu e sugeriu a denominação de ectoplasma, nos processos de materialização.
Ainda na França, outro médico, biólogo, fisiologista e pesquisador - Gustave GELEY (1865-1924) associou-se a RICHET nas pesquisas ao ectoplasma, conseguindo, ambos, provar que ele é uma emanação do corpo do médium, em forma de um plasma leitoso.
Na Alemanha
Albert von SCHRENK-NOTZING (1862-1929), médico e pesquisador, dedicando-se à causa espírita, conseguiu a incrível proeza de, em sessões mediúnicas experimentais, recolher porções de ectoplasma, por ele denominado de "teleplasma".  Submetendo tal material a exame laboratorial histológico (estudo da formação e composição dos tecidos de seres vivos), em Berlim e Viena, comprovou sua natureza orgânica, isto é, oriunda de seres encarnados
As pesquisas 
Das experiências citadas (maioria no séc. XIX e início do séc. XX) aos nossos dias, no campo científico, o ectoplasma era e ainda é tratado com extrema reserva. De minha parte não tenho notícias de novas pesquisas, atualmente. Isso se deva, provavelmente, ao fato de que “materializações” jamais foram comprovadas pela ciência oficial, até havendo, ao contrário, livro registrando fraudes.
Seja como for, entendo que o fenômeno espiritual não se subordina ao método científico, comprovável em laboratório, e sim, à disposição de Espíritos dele participarem, o que sinaliza que ocorrem “in spiritus” e não “in vitro”. E um forte óbice à comprovação é o fato de materializações dependerem do ectoplasma, que sabidamente é sensível à luz — exceto vermelho e infravermelho —, o que impede registros fotográficos confiáveis (com flash).
Não obstante, profissionais da Medicina ou estudiosos do Espiritismo que participaram de algumas experiências recentes com essa substância afirmaram que ela, se pesquisada com rigor científico, provavelmente abriria uma nova era no tratamento de casos considerados de recuperação impossível.
É o caso, por exemplo, de aplicações espíritas feitas, na terapêutica da reestruturação de tecidos vivos afetados ou destruídos pelo câncer. Informou o sempre lembrado professor J.Herculano Pires[6] (1914-1979): (...) "Pietro Ubaldi, mesmo não sendo médium nem espírita, admitia em suas obras que o ectoplasma podia ser uma nova maneira natural de reprodução — um processo biológico diferente dos conhecidos, eventualmente substituto da atual forma de reprodução sexual".
Registro a opinião de Ubaldi, demonstrando que não apenas pesquisadores e espíritas, mas outras pessoas, com a mesma seriedade, num tempo não muito distante ocuparam-se do tema ectoplasma. 
Características 
O ectoplasma, que pode se apresentar em múltiplos aspectos, sendo como já citei, normalmente refratário à luz comum, suporta luzes do vermelho e infravermelho.
Desprende-se com a emissão e liberação, na mai­oria dos casos, pelos orifícios naturais do corpo do médium: ouvidos, nariz, boca, orifícios da pele etc.
Além do médium principal fornecedor do ectoplasma, outros médiuns presentes à experiência podem igualmente ofertá-lo para a produção de materializações, mas sempre em menores quantidades. 
Particularidades 
São várias.  Cito algumas:
a. Cores: podem variar: acinzentada, branca, amarelada, malhada ou negra;
b. Estados: tangível, amorfo, floculoso, sólido;  de início é difuso, nebuloso, qual tênue fumaça branca, passando, às vezes, à consistência semilíquida ou massa;
c. Ao tato: pode impressionar desde a sensação de teia de aranha até à forma sólida de um objeto;
d. Comando: a característica fundamental do ectoplasma é que ele é dócil ao comando mental do médium, além dos Espíritos e pessoas presentes à reunião onde se dá sua produção;
e. Produção e reversão: todos podem produzir ectoplasma.  Contudo, pessoas há que o fazem em abundância, sendo chamadas de "médiuns de efeitos físicos".  Reverte à origem (corpo do médium que o produziu), com a mesma facilidade com que foi emitido. 
O Ectoplasma e o Espiritismo 
O Espiritismo ocupou-se do ectoplasma:
- Allan Kardec, referindo-se em particular às aparições tangíveis, em "O Livro dos Médiuns", Cap. VI, nº 104, elucida que:
O Espírito que quer, ou pode fazer-se visível, reveste às vezes uma forma ainda mais precisa, com todas as aparências de um corpo sólido. (...) Em alguns casos, finalmente, e sob o império de certas circunstâncias, a tangibilidade se pode tornar real, isto é, possível se torna ao observador tocar, palpar, sentir, na aparição, a mesma resistência, o mesmo calor que num corpo vivo. (...) Os fatos de aparições tangíveis são os mais raros; porém, os que se têm dado nestes últimos tempos, pela influência de alguns médiuns de grande poder e absolutamente autenticados por testemunhos irrecusáveis. 
(Este artigo será concluído na próxima edição desta revista.)
 

[1] In Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Volume 4. p. 1114,  1990, Ed. Universo Ltda., SP/SP.

[2] Os itens “Os Pesquisadores” e “As Pesquisas” deste trabalho serviram-se de várias notas extraídas do livro Espírito, Perispírito e Alma, Hernani Guimarães Andrade, Cap. VIII (Ectoplasma e Ectoplasmia), Ed.1984, Editora Pensamento, 1984, SP/SP. Inseri também registros sobre o Ectoplasma da Wikipédia e demais publicações livres existentes da internet. Citei, ainda sobre o tema, fontes bibliográficas espíritas - Nota do Autor.

[3] Em Pensamento e Vontade, de Ernesto Bozzano, Cap. Ideoplastia, 8ª Ed., 1991, FEB, RJ/RJ.
 
[4] Essa experiência está narrada em várias obras. Cito a “A História do Espiritismo”, de Arthur Conan Doyle (1859-1930), editada pela FEB, RJ/RJ. Nessa alentada obra Conan Doyle faz 69 (sessenta e nove) citações sobre o ectoplasma.

[5] CRAWFORD, W.J., em Mecânica Psíquica, 2ª Ed., 1975, LAKE, São Paulo/SP.

[6] PIRES, J.Herculano, em  Agonia das Religiões, p. 94, 1989, Ed.Paideia, SP/SP.
Fonte: Retirado de o Consolador uma Revista Semanal de Divulgação da Doutrina Espírita
 

 
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