Pérolas literárias (108)
Cigarra morta
Cármen
Cinira
Chamam-me
agora aí
Cigarra
morta,
E não
podia haver melhor definição,
Porque
caí estonteada à porta
Do
castelo em ruínas,
Do
desencanto e da desilusão!...
Minhas
futilidades pequeninas...
Meus
grandes desenganos...
Eu mesma
inda não sei
Se é
ventura morrer na flor dos anos...
Sei
apenas que choro
O tempo
que perdi,
Cantando
em demasia a carne inutilmente;
E vivo
aqui, somente,
De
quanto idealizei
De belo,
de perfeito, grande e santo,
Que inda
hei de realizar
Com a
rima do meu verso e a gota do meu pranto.
Dá-me
força, Senhor,
Para
concretizar meu anseio de amor:
Evita-me
a saudade
Da minha
improdutiva mocidade!
Eu não
quero sentir,
Como
cigarra que era,
A falta
das canículas douradas
Sob a
luz de ridente primavera.
Já que
tombei cansada de cantar,
Calando
amargamente,
Perdoa,
Deus de Amor, o meu pecado:
Que eu
olvide a cigarra do passado,
Para ser
uma abelha previdente.
Cármen Cinira, nome literário de Cinira do
Carmo Bordini Cardoso, nasceu no Rio de Janeiro em 1902, e faleceu em 30 de
agosto de 1933. Sua espontaneidade poética era tão grande que ela própria
acreditava serem os seus versos de origem mediúnica. O poema acima integra o Parnaso de Além-Túmulo, obra
psicografada pelo médium Chico Xavier.
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