sábado, 31 de outubro de 2015

A ESCRITA, A LEITURA E OS JOVENS



JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Bom dia, leitora!
A você que é professora, faço um desafio: peça a seus alunos, a partir da oitava série, que leiam qualquer romance meu, escrevam pequeno comentário sobre a obra e entreguem-lhe o escrito trinta dias depois...
De dez alunos que receberem a tarefa, sete dirão que não conseguiram ler tudo, pois estavam sem tempo. Nos fins de semana, foram ao clube, ao cinema, ao parque, jogaram videogame com os amigos, etc. Nos dias úteis, participaram de jogos eletrônicos, jogaram bola, assistiram ao programa do Chaves, etc. etc. etc.
E os três restantes, ao serem perguntados se leram o livro, responderão: "Livro? Que livro?"
É duro dizer isso, mas nossos alunos não gostam de ler os clássicos.
Por isso, professora, sugiro-lhe que jamais imponha a seus alunos a leitura da obra a ou da obra b. Comece pelas histórias em quadrinho. Uma boa sugestão é a leitura da revista Chico Bento. Sem imposição...
Ou peça-lhes que leiam e comentem um poema, como o abaixo, escrito especialmente para esta ocasião, e consultem o dicionário para leitura e anotação dos significados das palavras por eles desconhecidas.
Só não se esqueça de lhes dizer que a tarefa vale ponto...
A LEBRE, O TEMPO E O JOVEM (jlo)
A lebre corre pela campina,
Para e senta nas patas traseiras.
E, olhando fixamente o horizonte,
Posa indiferente às ribanceiras...
Ela não faz ideia de haver
Mundo mui além do monte vasto,
E no ignorar do seu devir,
Sua imagem molda-se à do pasto...
O interregno do movimento
Na vasta imensidão da campina
Revela-lhe a paz da natureza
Antes do cair da chuva fina.
De repente, ela corre ligeira
Em direção à vasta montanha.
Vai procurar abrigo e família
Nessa paisagem bela e tamanha.
Em permanente e atenta vigília,
A lebre vive o tempo do agora
E sai da toca para pastar
Os brotos do tempo bom lá fora.
Das forças telúricas que estrugem,
Ela não duvida do poder.
Os elementos da natureza
Agitam também todo o seu ser.
Assim deve ser a nossa vida,
Confiantes sempre no Senhor,
Estejamos hoje vigilantes
E o nosso seja o monte do amor.
Que a oração seja o nosso escudo
No abrigo do campo ou da cidade
Que faça ressurgir a esperança
Nesse tempo bom da mocidade.
Na aula seguinte, como sugestão, peça-lhes que leiam o que escreveram e explique-lhes o que é estrofe, verso, rima e metrificação. Em seguida, proponha-lhes produzir um texto inspirado no poema. Enfim, se bem explorado, o texto poético tornar-se-á um agradável mote para diversas tarefas e descoberta de vocações literárias em duas ou três aulas.
Lembra-se do que disse o rei Pelé ao fazer seu milésimo gol no Vice da Gama, meu caro leitor? "Vamos cuidar das nossas crianças!"
Isso foi dito há cerca de 45 anos. Se tivéssemos seguido seu conselho e investido na educação que não as oprimisse, mas que lhes transmitisse valores espirituais junto com os intelectuais, certamente não haveria, em nossos dias, tantos jovens trocando os estudos pelo tráfico de drogas e vidas úteis pelo vil metal.

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