sexta-feira, 30 de outubro de 2015

NO INVISÍVEL (16)


Estudamos semanalmente no Centro Espírita Nosso Lar, de Londrina (PR), o livro “No Invisível”, um dos clássicos do Espiritismo, de autoria de Léon Denis. São duas as turmas de estudo, uma na terça à noite, a outra na quinta-feira à tarde.
Reproduzimos, em seguida, o texto do módulo concluído nesta semana, cuja publicação tem por finalidade proporcionar, a quem se interessar, a oportunidade de acompanhar o mencionado estudo.

Questões para debate

A. Qual é, segundo o Espiritismo, o nosso objetivo, o nosso destino?
Nosso objetivo na vida, o nosso destino, é viver e progredir incessantemente, através do infinito dos espaços e do tempo, a fim de nos iniciarmos sempre e cada vez mais nas maravilhas do Universo, para cooperarmos sempre mais intimamente na obra divina. Compenetrados destas verdades, saberemos desprender-nos das coisas materiais e elevar bem alto as nossas aspirações. Sentir-nos-emos ligados aos nossos companheiros de jornada, na grande romaria eterna, ligados a todas as almas pela cadeia de atração e de amor que a Deus se prende e a todos nos mantém na unidade da vida universal. Então as mesquinhas rivalidades, os odiosos preconceitos terão cessado para sempre e todas as reformas, todas as obras de solidariedade receberão vigoroso impulso. (No Invisível - O Espiritismo experimental: As leis - XI - Aplicação moral e frutos do Espiritismo.)

B. Em que, exatamente, consiste o sono?
O sono outra coisa não é que a evasão da alma da prisão do corpo. A alma se desprende durante o sono, reintegra-se em sua consciência amplificada e entra na posse de si mesma. Seu olhar mergulha nos recessos obscuros de seu passado, e aí vai surpreender todas as aquisições mentais, todas as riquezas acumuladas no curso de sua evolução, que a reencarnação havia amortalhado. O que o cérebro concreto era impotente para exprimir, seu cérebro fluídico o patenteia, o irradia com tanto mais intensidade quanto mais completo é o desprendimento. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XII - Exteriorização do ser humano. Telepatia. Desdobramento. Os fantasmas dos vivos.)

C. A ação da alma, sem o concurso dos sentidos, pode revelar-se mesmo no estado de vigília?
Sim. Essa ação se patenteia nos fenômenos da transmissão do pensamento e na telepatia. As vibrações do nosso pensamento, projetadas com intensidade volitiva, se propagam ao longe e podem influenciar organismos em afinidade com o nosso, e depois, suscitando uma espécie de ricochete, voltar ao ponto de emissão. Assim, duas almas, vinculadas pelas ondulações de um mesmo ritmo psíquico, podem sentir e vibrar em uníssono. (Obra citada - O Espiritismo experimental: Os fatos - XII - Exteriorização do ser humano. Telepatia. Desdobramento. Os fantasmas dos vivos.)

Texto para leitura

454. A alma humana aprenderá a conhecer-se em sua natureza imortal, em seu futuro eterno. Espíritos, de passagem por esta Terra, compreenderemos que o nosso destino é viver e progredir incessantemente, através do infinito dos espaços e do tempo, a fim de nos iniciarmos sempre e cada vez mais nas maravilhas do Universo, para cooperarmos sempre mais intimamente na obra divina.
455. Compenetrados destas verdades, saberemos desprender-nos das coisas materiais e elevar bem alto as nossas aspirações. Sentir-nos-emos ligados aos nossos companheiros de jornada, na grande romaria eterna, ligados a todas as almas pela cadeia de atração e de amor que a Deus se prende e a todos nos mantém na unidade da vida universal. Então as mesquinhas rivalidades, os odiosos preconceitos terão cessado para sempre. Todas as reformas, todas as obras de solidariedade receberão vigoroso impulso. Acima das pequenas pátrias terrestres veremos desdobrar-se a grande pátria comum: o céu iluminado.
456. De lá nos estendem os braços os Espíritos superiores. E todos, através das provas e das lágrimas, subimos das obscuras regiões às culminâncias da divina luz. O carreiro da misericórdia e do perdão está sempre franqueado aos culpados. Os mais decaídos podem-se reabilitar, pelo trabalho e pelo arrependimento, porque Deus é justiça, Deus é amor. Assim, a revelação dos Espíritos dissipa as brumas do ódio, as incertezas e os erros que ainda nos envolvem. Faz resplandecer sobre o mundo o grande sol da bondade, da concórdia e da verdade!
457. Segunda Parte. Os fatos - XII - Exteriorização do ser humano. Telepatia. Desdobramento. Os fantasmas dos vivos - O homem é para si mesmo um mistério vivo. De seu ser não conhece nem utiliza senão a superfície. Há em sua personalidade profundezas ignoradas em que dormitam forças, conhecimentos, recordações acumuladas no curso das anteriores existências, um mundo completo de ideias, de faculdades, de energias, que o envoltório carnal oculta e apaga, mas que despertam e entram em ação no sono normal e no sono magnético. Esse é o mistério da psique, isto é, da alma encerrada com seus tesouros na crisálida de carne, e que dela se evade em certas horas, se liberta das leis físicas, das condições de tempo e de espaço, e se afirma em seu poder espiritual.
458. Tudo na Natureza é alternativa e ritmo. Do mesmo modo que o dia sucede à noite e o verão ao inverno, a vida livre da alma sucede à estância na prisão corpórea. Mas a alma se desprende também durante o sono; reintegra-se em sua consciência amplificada, nessa consciência por ela edificada lentamente através da sucessão dos tempos; entra na posse de si mesma, examina-a, torna-se objeto de admiração para ela própria. Seu olhar mergulha nos recessos obscuros de seu passado, e aí vai surpreender todas as aquisições mentais, todas as riquezas acumuladas no curso de sua evolução, e que a reencarnação havia amortalhado.
459. O que o cérebro concreto era impotente para exprimir, seu cérebro fluídico o patenteia, o irradia com tanto mais intensidade quanto mais completo é o desprendimento. O sono, em verdade, outra coisa não é que a evasão da alma da prisão do corpo. No sono ordinário o ser psíquico se afasta pouco; não readquire senão em parte a sua independência, e quase sempre fica intimamente ligado ao corpo. No sono provocado, o desprendimento atinge todas as gradações.
460. Sob a influência magnética, os laços que prendem a alma ao corpo se vão afrouxando pouco a pouco. Quanto mais profunda é a hipnose, o transe, mais se desprende e se eleva a alma. Sua lucidez aumenta, sua penetração se intensifica, o círculo de suas percepções se dilata. Ao mesmo tempo as zonas obscuras, as regiões ocultas do “eu” se ampliam, se esclarecem e entram em vibração: todas as aquisições do passado ressurgem. As faculdades psíquicas – vista a distância, audição, adivinhação – entram em atividade.
461. Com os estados superiores da hipnose chegamos aos últimos confins, aos extremos limites da vida física. O ser já vive então da vida do espírito e utiliza as suas capacidades. Mais um grau, e o laço fluídico que liga a alma ao corpo se despedaçaria. Seria a separação definitiva, absoluta – a morte.
462. Vamos indicar alguns dentre os fatos à vista dos quais se pode estabelecer que a alma tem uma existência própria, independente do corpo, e possui um conjunto de faculdades que se exercem sem o concurso dos sentidos físicos.
463. Em primeiro lugar, durante o sono normal quando o corpo descansa e os sentidos estão inativos, podemos verificar que um ser vela e age em nós, vê e ouve através dos obstáculos materiais, paredes ou portas, e a qualquer distância. No sonho sucedem-se imagens, desenrolam-se quadros, ouvem-se vozes, travam-se conversações com diversas pessoas. O ser fluídico se desloca, viaja, paira sobre a Natureza, assiste a uma multidão de cenas, ora incoerentes, ora definidas e claras, e tudo isso se realiza sem a intervenção dos sentidos materiais, estando fechados os olhos, e os ouvidos nada percebendo.
464. Em certos casos, a visão psíquica durante o sono caracteriza-se por uma nitidez e exatidão idênticas às da percepção física no estado de vigília. Os testemunhos de experimentadores conscienciosos e esclarecidos o demonstram.
465. O Sr. Varley, engenheiro-chefe dos Telégrafos da Grã-Bretanha, em seu depoimento por ocasião da investigação empreendida pela Sociedade de Dialética de Londres, refere o seguinte fato: “Achando-se em viagem, apeou-se, noite alta, em um hotel, recolheu-se ao aposento e adormeceu. Durante o sono viu, em sonho, o pátio desse hotel e notou que nele trabalhavam uns operários. Tendo-se a si mesmo sugerido a ideia de despertar, logo que se levantou pôde verificar a realidade do sonho. A disposição do pátio e o lugar ocupado pelos operários eram exatamente como o tinha visto em espírito. Ora, era a primeira vez que ele se achava em tal lugar.”
466. Camille Flammarion, em seu livro “O Desconhecido e os Problemas Psíquicos”,  cita grande número de casos de visão a distância durante o sono. Eis aqui alguns deles: “O Sr. G. Parent, de Wiége (Aisne), assiste, em sonho, a um incêndio que destrói a herdade de um de seus amigos, em Chevennes. O Sr. Palmero, engenheiro de pontes e calçadas em Toulon, é informado, por um sonho de sua mulher, da chegada inesperada de seu pai e de sua mãe, que ela vê, no mar, em um paquete. O Dr. P., formado em Direito por Philippeville, refere o sonho de uma dama de companhia de amigas suas. No sonho, ela viu um naufrágio que ocasionou a perda de um navio, e de umas cem pessoas, fato que foi confirmado, no dia seguinte, em todas as suas particularidades. O Sr. Lee, filho do bispo protestante de Iowa (Estados Unidos), viu em sonho, à distância de mais de 5 quilômetros, seu pai rolar de uma escada. O fato é atestado por várias testemunhas e, entre outras, pelo Sr. Sullivan, bispo de Algowa. O Sr. Carrau, de Angeres, viu morrer seu irmão em S. Petersburgo, e os filhos, de joelhos, em torno do leito de morte. Um francês, mecânico em Foutchéou, viu uma noite seu filhinho, que havia deixado em França, morto de crupe, estendido em um móvel encarnado. Narrou o seu sonho a um amigo, que se pôs a rir de sua credulidade. A primeira carta que recebeu era de sua mulher e comunicava-lhe o falecimento nas mesmas condições que ele vira em sonho. O Sr. Orieux, inspetor-chefe das estradas do Loire inferior, achando-se em Cartagena, assiste em sonho às exéquias de sua melhor amiga, cujo trespasse ignorava, a qual residia em Nantes. O Sr. Jean Dreuilhe, de Paris, percebe, em sonho, a queda mortal que dera, numa escada, o General de Cossigny, amigo de sua família. O Marechal Serrano anuncia em Madrid a morte inesperada de Afonso XII, no Prado, morte que ele havia percebido em sonho.”
467. Eis aqui um caso respigado nos “Proceedings” (processos verbais da Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres): “A Sra. Broughton acordou certa noite, em 1844, em Londres e despertou seu marido para lhe dizer que um grave acontecimento ocorrera em França. Ela havia sido testemunha, em sonho, do desastre de carruagem de que foi vítima o Duque de Orleães. Tinha visto o duque estendido em um leito; amigos, membros da família real, chegavam a toda a pressa; o rei e a rainha apareceram e assistiram, chorando, aos últimos momentos do duque. Logo que amanheceu, ela anotou em um diário de lembranças as particularidades de tal sucesso. Passava-se isso antes da invenção da telegrafia, e só dois dias depois é que o “Times” noticiou a morte do duque. Visitando Paris, algum tempo depois, ela viu e reconheceu o lugar onde se dera o acidente.”
468. Fenômenos da mesma ordem se produzem no sono magnético. Camille Flammarion cita vários exemplos, entre outros o da esposa de um coronel de Cavalaria que, em estado magnético, presencia o suicídio de um oficial, a 4 quilômetros de distância.
469. O Espírito de certas pessoas continua a trabalhar durante o sono, e com o auxílio dos conhecimentos adquiridos no passado chega a realizar obras consideráveis. Disso se podem citar exemplos célebres: Voltaire declara ter, uma noite, concebido em sonho um canto completo da “Henriade”. La Fontaine compôs, sonhando, a fábula dos “Dois Pombos”. Coleridge adormeceu lendo e, ao despertar, lembrou-se de haver composto, enquanto dormia, duzentos versos que apenas teve o trabalho de escrever. Os compositores Bach e Tartini ouvem, durante o sono, a execução de sonatas que não haviam conseguido terminar de modo que lhes satisfizesse. Apenas despertos, as escrevem de memória.
470. Em todos esses casos, a atividade intelectual e a aptidão de trabalho parecem maiores no sono que durante a vigília. Às vezes a alma, desligada dos liames corporais, comunica, por meio do sonho, com outras pessoas, vivas ou falecidas, e delas recebe indicações e avisos.
471. O correspondente de “Le Matin”, de Paris, Sr. Scarfoglio, enviado especialmente a Messina, por ocasião do terremoto que a assolara, daí telegrafava, em 5 de janeiro de 1909, a esse jornal: “... Ainda hoje foram retiradas muitas pessoas vivas das ruínas. A esse propósito convém assinalar um caso extremamente comovedor, que ocorreu esta manhã. Um jovem marinheiro do encouraçado Regina Elena era noivo de uma jovem, que se achava soterrada nos escombros de uma casa. Tendo obtido do comandante autorização para trabalhar, com alguns companheiros, no salvamento da sua noiva e das outras pessoas que ali se achavam igualmente soterradas, o marinheiro fizera obstinadas e infrutíferas pesquisas durante quatro dias. Hoje, no auge do desespero e esgotado de cansaço, adormeceu. De repente sonhou com sua noiva, que lhe dizia: “Estou viva. Acode! Salva-me!” Imediatamente despertou, e pediu com instância aos companheiros que recomeçassem a escavação pela última vez. Seus esforços foram milagrosamente coroados de êxito, pois que ao fim de algumas horas encontrou a noiva e retirou-a viva das ruínas. A moça, que se achava em estado comatoso, apenas salva, recuperou os sentidos e estendeu os braços ao marinheiro, abraçando-o com delírio. Referiu que um sono profundo se havia dela apoderado logo após a catástrofe e sonhara que falava com o noivo algumas horas antes do salvamento. Aí está um singular e comoventíssimo caso de telepatia. A moça, com lágrimas nos olhos, agradeceu a todos os seus salvadores e assegurou que em breve desposaria o seu noivo e salvador.”
472. Os “Annales des Sciences Psychiques”, de outubro de 1901, publicaram a descrição de um sonho, referido em 18 de abril de 1908 pelo cura de Domdidier, cantão de Friburgo (Suíça), ao Sr. Rolline, que realizava nessa localidade uma conferência, descrição que este por sua vez transmitiu ao Sr. Camille Flammarion. e cujo resumo é o seguinte: “Em 1859, o Sr. Doutax, de 18 anos de idade, acabava de se deitar, depois de haver preparado a sua tese de Filosofia para o dia seguinte. Adormecido, teve ele uma visão estranha, que duas vezes seguintes se lhe apresentou. Viu seu pai, que residia a 24 quilômetros de distância e que, da primeira vez, lhe disse: ‘Meu caro José, tua pobre irmã Josefina está, em Paris, a expirar’, e da segunda vez: ‘Meu caro José..., mas tua mãe ainda não recebeu a dolorosa notícia.’ No dia seguinte, o Sr. Doutax ia a caminho do liceu, quando lhe foi entregue uma carta de seu pai, com a exata confirmação do que ouvira à noite, durante o sonho.”
473. A revista “Zeitschrift fur Spiritismus”, de 9 de julho de 1910, cita o seguinte sonho comunicado pelo Conde Henri Sterkij: “Um rico proprietário dos subúrbios de Tarnoff perdeu, durante um passeio, 600 florins. Parando numa estalagem, referia esse desagradável incidente ao rendeiro Kuhusteiner, quando um almocreve(1), chamado Kosminter, que acabava de entrar, lhe perguntou em que circunstâncias perdera aquela soma. Não lhe deu resposta e continuou a conversar com o estalajadeiro, quando Kosminter, espontaneamente, lhe entregou a bolsa perdida. Admirado e reconhecido, o proprietário lhe deu 300 florins como recompensa. Mas, semanas depois, Kosminter lhe apareceu, ensanguentado, em sonho, e acusou o estalajadeiro de o haver assassinado. Outras duas semanas mais tarde o mesmo sonho se reproduziu, mas com maiores particularidades, e à terceira vez, induzido pela precisão extraordinária das revelações, denunciou o caso à justiça. Kuhusteiner foi preso e, provado o crime, condenado à morte.”
474. A ação da alma, a distância, sem o concurso dos sentidos, se revela mesmo no estado de vigília, nos fenômenos da transmissão de pensamento e da telepatia. Sabemos que cada ser humano possui um dinamismo próprio, um estado vibratório que varia ao infinito, conforme os indivíduos, e os torna aptos a produzir nos outros e perceberem eles próprios sensações psíquicas extremamente variadas.
475. As vibrações de nosso pensamento, projetadas com intensidade volitiva, se propagam ao longe e podem influenciar organismos em afinidade com o nosso, e depois, suscitando uma espécie de ricochete, voltar ao ponto de emissão. Assim, duas almas, vinculadas pelas ondulações de um mesmo ritmo psíquico, podem sentir e vibrar em uníssono.
476. Às vezes, um diálogo misterioso se trava, de perto ou de longe; permutam-se pensamentos, demasiado sutis para que possam ser expressos por palavras; imagens; temas de conversação, chamados, flutuam ou voam na atmosfera fluídica entre essas almas que, apesar da distância, se sentem unidas, penetradas de um mesmo sentimento, e fazem irradiar de uma a outra os eflúvios de sua personalidade psíquica.
477. Os que se amam, assim se correspondem muitas vezes: permutam suas alegrias e tristezas. Mas o coração tem seus segredos que não revela de bom grado. Uma mãe ouve através do espaço os apelos de seu filho infortunado. Somos assediados de mil impressões, provenientes dos pensamentos longínquos dos que nos são caros.
(1) Almocreve: homem que se ocupa em conduzir bestas de carga; recoveiro, carregador, arrocheiro.
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