Uma leitora pergunta-nos se uma pessoa pode fugir ao
programa reencarnatório por ela mesma traçado.
A resposta é sim, e o fato parece que é mais comum
do que imaginamos.
O motivo disso advém do fato de que o ser humano é
dotado da capacidade de tomar decisões e, em determinadas situações, pode
perfeitamente desviar-se do rumo inicialmente projetado.
O livre-arbítrio é, como sabemos, apanágio do
Espírito humano.
Na obra de Kardec, o assunto é tratado com clareza
no item 872 de O Livro dos Espíritos, em que o codificador da doutrina
espírita afirma que o livre-arbítrio se exerce de duas formas diferentes. Na
erraticidade ocorre o planejamento; na existência de encarnado ocorre a
execução, que pode ou não atender ao que foi programado.
Existem também, além dos desvios de rumo, os casos
de reprogramação, em que, para atender a uma emergência, pode ser dado novo
rumo à história de uma pessoa. Exemplos disso encontramos na Série Nosso Lar,
de André Luiz. Um dos casos é quando o esposo se suicida, deixando a mulher sem
o arrimo necessário ao cumprimento de suas tarefas. Um segundo matrimônio na
vida dessa mulher pode perfeitamente ser estabelecido, com a ajuda dos
Protetores espirituais.
Quanto à fuga do programa reencarnatório, cita-se
como um exemplo marcante o caso de Otávio, narrado no cap. 7 do livro Os
Mensageiros, que adiante resumimos.
Após contrair dívidas enormes em outro tempo, o
Espírito de Otávio fora recolhido por irmãos dedicados da colônia espiritual
"Nosso Lar", que se revelaram incansáveis para com ele. Otávio
preparou-se, então, durante trinta anos consecutivos, para voltar à Terra em
tarefa mediúnica, desejoso de saldar suas contas e elevar-se na senda da
perfeição.
O Ministério da Comunicação da colônia “Nosso Lar”
favoreceu-o com todas as facilidades e seis entidades, em especial, movimentaram
os maiores recursos em benefício do seu êxito.
O matrimônio não estava nas suas cogitações; o caso
de Otávio assim o exigia. Não obstante solteiro, deveria ele receber aos vinte
anos os seis amigos que muito trabalharam por ele em "Nosso Lar", os
quais, de acordo com a programação, chegariam aos seus cuidados na condição de
órfãos.
Otávio deveria enfrentar no início dificuldades
crescentes. Depois lhe chegariam os socorros materiais, à medida que fosse
testemunhando renúncia, desprendimento e desinteresse por remuneração.
Sua mãe era espiritista desde moça, mas desencarnou
quando Otávio contava treze anos de idade. O pai casou-se segunda vez e, apesar
da bondade e cooperação que a madrasta lhe oferecia, Otávio colocou-se num
plano de falsa superioridade em relação a ela, passando a viver revoltado,
entre queixas e lamentações descabidas.
Levado a um grupo espírita de excelente orientação
evangélica, faltaram-lhe as qualidades de trabalhador e companheiro fiel,
porque o rapaz nutria desconfiança com relação aos orientadores espirituais e
revelava um pendor acentuado para a crítica dos atos alheios.
Otávio tanto duvidou, que os apelos espirituais
foram levados à conta de alucinações. Levado a um médico, este lhe aconselhou
experiências sexuais e o rapaz, aos 19 anos, passou a entregar-se
desenfreadamente ao abuso do sexo.
Pouco tempo depois, seu pai também desencarnou e
Otávio contava menos de 23 anos quando a madrasta, agora viúva, teve de ser
recolhida a um leprosário, deixando na orfandade seis crianças. Com a mulher
fora do lar, era Otávio quem deveria cuidar dos meninos, mas, tomado de horror,
ele afastou-se de casa, abandonando-os definitivamente, sem refletir que
lançava a um destino incerto exatamente os seis amigos generosos que tanto o
ajudaram na colônia “Nosso Lar”.
Fugindo assim ao programa meticulosamente traçado,
o rapaz se envolveu com uma mulher, casou-se com ela e recebeu como filho uma
entidade monstruosa ligada à esposa, uma pessoa de condição muito inferior à
sua.
Seu lar passou a ser então um tormento constante,
até que ele regressou ao plano espiritual, mal tendo completado 40 anos, roído
pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos, sem nada haver feito de útil para
o seu futuro eterno.
Postado
por Astolfo Olegário de Oliveira
Filho às 06:35 0 comentários
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