quinta-feira, 21 de abril de 2016

A FELICIDADE TOTAL NÃO EXISTE NA TERRA...AINDA


Especial Inglês Espanhol
Ano 10 - N° 461 - 17 de Abril de 2016

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
Jorge Leite de Oliveira



O que é a felicidade?
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é a “qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar [...] f. eterna bem-aventurança, salvação eterna”.
De acordo com Yuval Noah Harari (2015), nunca estamos satisfeitos com o progresso humano. O Homo sapiens, nosso atual gênero e espécie humana, está na Terra há 200.000 anos, mas somente nos últimos 70.000 anos predominou sobre a última espécie do gênero Homo, a de neanderthal, que se extinguiu há 30.000 anos após o surgimento da atual humanidade. Ainda restava outra espécie, a do Homo floresiensis, extinta há 13.000 anos, quando somente restou o Homo sapiens.
Nos últimos quinhentos anos, porém, ocorreram transformações de tal monta, em nosso planeta, provocadas pelo homem, agora citado por mim, também, como sapiens, que mudaram completamente os hábitos desses seres primatas, assim denominados pelo seu parentesco com os chimpanzés, com algo que os diferenciou desses primatas há seis milhões de anos.
Há 70.000 anos, o sapiens realizou a primeira grande revolução, que o diferenciaria de todos os demais primatas: a revolução cognitiva. Mas há 12.000 anos, deixamos de ser “caçadores coletores”, criamos a agricultura, nossa segunda grande revolução. Com a revolução agrícola, mudamos os hábitos andarilhos, criamos assentamentos permanentes e domesticamos plantas e animais.
O que o douto autor supracitado ignora, voluntariamente ou não, é a existência de três princípios universais: Deus, causa inicial de tudo o que existe, desde sempre, pois “o nada não existe”, o espírito e a matéria. Essa é a “trindade universal” como consta nas questões 23a) e 27 d’O livro dos espíritos, de Kardec (2013), “trindade” que Harari insiste em ignorar em sua obra, por sinal muito boa, se considerarmos seus estudos apenas no que se refere à evolução biológica do ser humano.  
“Mas somos mais felizes?” 
De acordo com Harari (2015), os primeiros reinados surgiram há cerca de 5.000 anos, bem como a escrita e o dinheiro, como forma de substituição do escambo ou troca. Em seguida, surgiram os impérios, a moeda “universal”. Surge, ainda, o Politeísmo, que é a crença em vários deuses, e, na Índia, há cerca de 2.500 anos, aparece o Budismo, a “verdade universal” para nos livrar do “sofrimento”. O Judaísmo dá origem ao Cristianismo e ao Islamismo, como crenças em um só Deus.
Nos últimos quinhentos anos, ocorre a “Revolução Científica”, com as conquistas da América e de outros continentes, e o capitalismo passa a influenciar toda a humanidade. Há pouco mais de duzentos anos, a Inglaterra promove a “Revolução Industrial” e, desde então, o Estado e o mercado substituem a família e a comunidade, segundo Harari (2015). Entretanto, pergunta esse doutor em história, especialista em história mundial e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém:

Mas somos mais felizes? A riqueza que a humanidade acumulou nos últimos cinco séculos se traduz em contentamento? A descoberta de fontes de energia inesgotáveis abre diante de nós depósitos inesgotáveis de felicidade? Voltando ainda mais no tempo, os cerca de 70 milênios desde a Revolução Cognitiva tornaram o mundo um lugar melhor para se viver? O falecido Neil Armstrong, cuja pegada continua intacta na Lua sem vento, foi mais feliz que os caçadores-coletores anônimos que há 30 mil anos deixaram suas marcas de mão em uma parede na caverna de Chauvet? Se não, qual o sentido de desenvolver a agricultura, cidades, escrita, moeda, impérios, ciência e indústria? (HARARI, 2015, p. 386). 
Objetivo da encarnação 
A criação dos seres vivos e, em especial, do homem, decorreu da necessidade da evolução universal, cujas leis obrigam tudo o que existe a evoluir, num encadeamento do átomo ao anjo, segundo resposta de um espírito a Kardec (2013, q. 540).  Os espíritos superiores esclarecem a Kardec (2013, q. 85 e 86) que o mundo normal primitivo é o mundo espírita, eterno preexistente e sobrevivente a tudo. O mundo corporal é secundário e pode até mesmo deixar de existir, ou nunca ter existido, sem que isso alterasse a existência do mundo espírita.
O objetivo da encarnação do espírito é alcançar a perfeição (op. cit., q. 132), mas o que é eterno, em nós, é a alma, ou espírito encarnado. O corpo tem vida efêmera.
O espírito Emmanuel diz-nos que cada existência é como “um livro” que estamos escrevendo, e cada dia é como “uma página” desse livro. “Cada hora é uma afirmação de” nossa “personalidade, através das pessoas e das situações que” nos “buscam” (XAVIER, 2008, p. 16).
Enquanto não alcançamos a perfeição, não teremos a completa felicidade, no corpo físico, ainda que reunamos as cinco condições mais cobiçadas por toda pessoa: juventude, beleza, saúde, dinheiro e poder.
Entretanto, quando praticarmos a Lei de Deus, estaremos desfrutando da “felicidade tão grande quanto o comporte a [nossa] existência grosseira”, afirmam-nos os espíritos superiores (KARDEC, 2013, q. 921). 
O que é preciso para sermos felizes 
Quanto à felicidade no mundo espiritual, nos ensinam os espíritos que ela consiste em os bons espíritos
 
[...] conhecerem todas as coisas; em não sentirem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que ocasionam a desgraça dos homens. O amor que os une lhes é fonte de suprema felicidade. Não experimentam as necessidades nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes pelo bem que fazem. Contudo, a felicidade dos Espíritos é proporcional à elevação de cada um. Somente os puros Espíritos gozam, é exato, da felicidade suprema, mas nem todos os outros são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus em que os gozos são relativos ao estado moral. Os que já estão bastante adiantados compreendem a ventura dos que os precederam e aspiram a alcançá-la, mas esta aspiração lhes constitui uma causa de emulação, não de ciúme. Sabem que deles depende o consegui-la e para a conseguirem trabalham, porém com a calma da consciência tranquila e ditosos se consideram por não terem que sofrer o que sofrem os maus (KARDEC, 2013, q. 967). 
Com base no exposto, concluímos que, por enquanto, ainda não existe felicidade completa na Terra, mas podemos ser felizes, tanto quanto possível, quando nos libertarmos do orgulho e do egoísmo, as duas chagas da humanidade, conforme resposta dos espíritos superiores a Allan Kardec (op. cit., q. 785).
Concluo, pois, estes modestos apontamentos com o seguinte poema, ditado pelo espírito Cruz e Sousa a Chico Xavier (XAVIER, 2002, p. 251): 
Felizes os que têm Deus
 
Entre esse mundo de apodrecimento
E a vida de alma livre, de alma pura,
Ainda se encontra a imensidade escura
Das fronteiras de cinza e esquecimento.
 
Só o pensador que sofre e anda à procura
Da verdade e da luz no sentimento
Pode guardar esse deslumbramento
Da Fé — fonte de mística ventura.
 
Feliz o que tem Deus nessa batalha
Da miséria terrena, que estraçalha
Todo o anseio de amor ou de bonança!...
 
Venturoso o que vai por entre as dores
Atravessando o oceano de amargores,
No bergantim sagrado da Esperança.
 
Referências:
HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. 8. ed.
Porto Alegre, RS: L&PM, 2015.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. histórica. Brasília: FEB, 2013.
XAVIER, Francisco Cândido. Palavras de Emmanuel. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
______. Parnaso de além-túmulo: poesias mediúnicas. Ed. comemorativa. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.





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