sábado, 31 de maio de 2014

" OS NOSSOS DESAFIOS DE HOJE SÃO OUTROS, SÃO DE ORDEM MORAL

Entrevista Espanhol Inglês
Ano 8 - N° 365 - 1° de Junho de 2014
ORSON PETER CARRARA
orsonpeter92@gmail.com
Matão, SP (Brasil)

 
Wilson Aires Ortiz: 
Segundo o confrade paulista, seria ingenuidade fugir desses desafios, sabendo que eles representam o incentivo
indispensável para o nosso progresso

Espírita desde 1990, Wilson Ortiz (foto) é natural de São Paulo, capital, mas reside em São Carlos, no interior paulista. Doutor em Física e professor titular no Departamento de Física da UFSCar, vincula-se à Associação Espírita Obreiros do Bem, situada na cidade onde mora, na qual exerce atualmente a vice-presidência e integra a equipe de
coordenação doutrinária. Suas respostas à presente entrevista dão-nos uma visão abrangente da evolução humana e mostram os desafios das escolhas que promovem o aprimoramento intelecto-moral.  


Como encarar esse ciclo renovador da vida humana, continuamente exercido pelas leis que comandam a existência?
As leis que regem a vida foram estabelecidas pelo Criador para que possamos desenvolver todas as nossas potencialidades através do aprimoramento contínuo. Partindo da mais absoluta simplicidade, o Espírito transita pelos diferentes estágios da vida, construindo o próprio progresso. É muito importante notar que o Criador – associação perfeita da Inteligência Suprema com o Amor Sublime e a Justiça Plena – traçou para nós um plano altamente desafiador que é, ao mesmo tempo, bastante gratificante: cada um deve conquistar o progresso pelo esforço próprio. Aprendemos assim a valorizar as pequenas vitórias íntimas, na luta cotidiana para corrigir as próprias imperfeições. Aprendemos também a reconhecer que, como não há privilégios na relação do Criador com as suas criaturas, o esforço dos nossos semelhantes não é menor, nem menos importante do que o nosso. De quando em quando, somos convidados a realizar um balanço, confrontando aquilo que foi projetado para determinado estágio da vida, com o que efetivamente realizamos. Nos ciclos da vida, renovam-se os dias, as estações do ano, e também as oportunidades de refazer para corrigir, de redirecionar o foco e o rumo da existência. A reencarnação é, decididamente, o mais notável desses ciclos renovadores. 
Por que um processo tão longo?
Com o tempo, a criatura aprende que o esforço é indispensável para o progresso, e compreende assim a verdadeira dimensão das aquisições. As reformas mais íntimas, do próprio eu, repercutem também na coletividade, nos agrupamentos sociais e, por extensão, na atmosfera espiritual do planeta. Ora, criar sabedoria a partir da ignorância absoluta leva tempo, é obra para muitos milênios. É natural que os estágios iniciais dessa jornada sejam de muitos erros e poucos acertos, sendo então muito frequente a necessidade do recomeço. É justamente daí que decorre essa característica cíclica dos estágios do progresso. Parece longo, mas nunca é demais lembrar que estamos num contexto em que há outros ciclos muito mais longos: as estrelas, por exemplo, que são fonte de matéria e calor para a manutenção da vida, também nascem, crescem, amadurecem, morrem e renascem, em períodos de alguns bilhões de anos. A vida na Terra tem exibido esses ciclos; o mais recente deles já dura mais de duzentos mil anos, tendo culminado com o estabelecimento hegemônico do Homo-sapiens, que, afinal de contas, somos todos nós. Como se vê, curto ou longo, rápido ou demorado, são percepções relativas nesse contexto mais amplo. Nós temos uma tendência imediatista de imaginar que as dificuldades deveriam se resolver rapidamente e sem esforço, mas o plano de Deus para nós é de um crescimento contínuo e sustentado, em que cada um deve conquistar seus valores pela via do exercício cotidiano. 
Que critérios, a seu ver, comandam esses ciclos de renovação para o progresso?
A consolidação de valores morais – que são as nossas verdadeiras aquisições, aquelas que não podem ser corroídas pela ferrugem ou subtraídas pelo ladrão – ocorre, primordialmente, por meio de repetições. Esse modelo acaba moldando e fortalecendo as nossas convicções, levando-nos a reconhecer que há coisas que definitivamente não nos convém fazer. É assim que as leis morais, que estão impressas no íntimo de todo ser, vão ganhando vida dentro de nós, compelindo-nos a repetir, voluntariamente, todas as experiências malsucedidas, com o intuito de aprender. O Espírito cresce e passa a agir como um bom aluno, que deseja aprender o que é certo e, além disso, procura agir com correção sempre, em todos os momentos de sua vida.  
Como se ligam as leis físicas que comandam tais ciclos aos preceitos morais apresentados pelo Evangelho e agora tão clarificados pelo Espiritismo?
O Evangelho é o código de ética e moral que Jesus nos oferece como referência para a vida. A Doutrina Espírita, constituindo-se no Consolador Prometido pelo Divino Mestre, nos vem relembrar aqueles ensinamentos sublimes. As leis físicas, que governam a matéria densa, também são leis divinas e, da mesma forma que as leis morais contidas no Evangelho, são válidas para tudo o que existe, em todos os recantos do Universo. Na verdade, é esse conjunto de leis divinas – que se manifestam tanto na física que rege a matéria densa, quanto na Justiça Divina que governa a relação entre as criaturas – que garante a harmonia do Universo em todos os planos da vida.
Podemos acelerar ou retardar esses ciclos? Quando e como ocorrem essas acelerações ou retardos dos ciclos de renovação humana?
Sem dúvida, o livre-arbítrio das criaturas é a senha para a aceleração ou o retardamento desses ciclos individuais. A Justiça Divina garante que o plantio seja livre e a colheita, obrigatória. Além dos ciclos de cada indivíduo, há também os das nações e o do planeta como um todo. É possível, por exemplo, que um conjunto de Espíritos, exercendo posição de liderança sobre grandes parcelas da população de uma nação, possa guiá-las de modo equivocado, criando problemas tão graves que o progresso não poderá ser retomado antes que sejam resolvidos os problemas criados. Todas as guerras já ocorridas na face da Terra exemplificam situações assim, com repercussões em toda a coletividade envolvida. São situações em que os ciclos se alongam. Com a evolução das criaturas, podemos sonhar em ver, em um futuro não muito distante, lideranças conduzindo populações inteiras na realização de ações que promovam o bem coletivo, abreviando ciclos e acelerando o progresso. 
Algo em especial lhe chama a atenção no longo processo da evolução humana?
Conversando com as pessoas vamos aprendendo a conhecer melhor os nossos semelhantes, seus sonhos e desejos. É muito comum encontrarmos, dentre os irmãos que procuram a casa espírita, aqueles que gostariam de ter suas dificuldades eliminadas por um milagre divino, sem esforço de mudança, sem qualquer traço de que compreendem a verdadeira razão para o modelo da vida, em encarnações sucessivas governadas pela Justiça Divina. Todos haveremos de compreender que não estamos na vida a passeio, mas a trabalho, e que o progresso decorre necessariamente da superação de desafios. Um exemplo disso, que considero particularmente instigante: o Homo-sapiens, espécie à qual pertencemos todos nós, os modernos seres humanos, estabeleceu-se no planeta em plena era glacial. Seria inconcebível para nós retomarmos pessoalmente a saga daqueles nossos antepassados, que só conseguiram sobreviver em um ambiente tão desfavorável em razão de sua capacidade de enfrentar e superar desafios. Hoje não precisamos viver em cavernas, enfrentando temperaturas extremamente baixas e caçando feras para nos alimentar. Aquela fase já foi superada, e os nossos desafios de hoje são outros, de ordem moral. Seria ingenuidade fugir justamente desses desafios, sabendo que eles representam o incentivo indispensável para o nosso progresso. 
Em seus estudos e pesquisas espíritas, aliados ao conhecimento acadêmico, que tipo de relação encontra nos conhecimentos da questão envolvida com os ciclos de renovação humana?
A evolução intelectual parece sempre preceder o crescimento moral. Sempre que o homem fez descobertas inovadoras, ou mesmo revolucionárias para a vida, houve uma vertente de aplicações que geraram inventos para atacar outros homens, tidos como inimigos. Os horrores da guerra demonstram isso claramente: várias descobertas, cujo uso poderia trazer conforto e novo alento, suprimindo o sofrimento e a dor, têm sido usadas – e com grande eficiência – para a eliminação de oponentes. Foi assim com a navegação, a aviação, a pólvora, a energia nuclear, dentre outros exemplos. Nenhuma dessas conquistas é boa ou ruim em sua essência, e cada uma pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal. A humanidade intelectualizada, detentora de grande conhecimento, está ainda muito distante de práticas éticas, e encontra sempre usos moralmente inadequados para tudo o que descobre. Ainda estamos na fase em que muitas das nossas conquistas são utilizadas para destruição e prejuízo dos semelhantes e da Natureza.  
Suas palavras finais.
Seja no dia a dia de nossas vidas, seja nos longos processos evolutivos das estrelas e dos planetas que preenchem todo o Universo, a vida tem ciclos marcantes, com períodos para crescimento, desenvolvimento, maturação e recomeço. No decorrer dos milênios, a nossa capacidade de compreensão aumentou muito, e temos tido, incessantemente, oportunidades marcantes para repassar as lições preciosas de Jesus. Neste momento em que os mentores espirituais que coordenam o progresso da humanidade nos informam que a Terra, no âmbito coletivo, prepara-se para finalizar seu ciclo como Mundo de Expiações e Provas, dando início a uma nova era, de Regeneração – na qual o bem predominará –, é indispensável que cada um também participe, individualmente, dessa transição, credenciando-se a seguir viagem aqui mesmo, ao abrigo deste planeta abençoado, que testemunhou os nossos primeiros passos e os pequenos progressos que já conquistamos na jornada evolutiva.
Fonte: Retirado de o Consolador Uma Revista Semanal de Divulgação Espírita


 

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