quarta-feira, 9 de julho de 2014

CARMA


Antonio Félix de Bulhões Jardim
E estou preso à memória − horrendo pelourinho(1)...
É o passado a bramir... Emoções e lugares...
Ódio, aflição, amor... Insano torvelinho...
Casam-se riso e pranto em sonhos e avatares(2).
O tempo − velho tempo −, o lúgubre adivinho,
Revolve-me no ser as ânsias e os pesares...
Acusa-me feroz e fere-me, escarninho(3),
Atando-me aos grilhões de angústias invulgares.
Se guardo além da morte a máscara serena,
Trago no coração a dor que me condena,
Ante a sombra que fui, tangendo a vida a esmo.
A consciência exuma as transgressões remotas
E o clarim do dever repete em largas notas:
− Ninguém foge do mal que plantou por si mesmo.
  
(1) Pelourinho: coluna de pedra ou de madeira, em praça ou lugar público, junto da qual se expunham e castigavam criminosos.
(2) Avatar: transformação, transfiguração, metamorfose; reencarnação de um Deus e, especialmente, no Hinduísmo, reencarnação do deus Vixnu.
(3) Escarninho: em que há escárnio; sarcástico, trocista; escarnecedor.

Antonio Félix de Bulhões Jardim nasceu em Goiás (GO) em 28 de agosto de 1845 e faleceu na mesma cidade goiana em 29 de março de 1887. O poeta e jornalista foi também magistrado no Estado de Goiás. O soneto acima integra o livro Antologia dos Imortais, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.
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