domingo, 27 de abril de 2014

" O PODER NÃO MUDA NINGUEM: ELE REVELA"


Marcos André Papa: 

Vereador em Ribeirão Preto, o confrade fala-nos sobre a
relação que existe entre Política e Espiritismo e qual é,
diante disso, a postura ideal do espírita
 

Num ano específico em que o país acumula Copa do Mundo e eleições, o tema político centraliza as atenções após o grande evento esportivo. Motivados igualmente pelos 150 anos de O Evangelho segundo o Espiritismo, também comemorado em 2014, entrevistamos Marcos André Papa (foto), espírita de nascimento, natural
de Ribeirão Preto, no interior paulista, onde reside, formado em Direito e atualmente exercendo mandato de vereador na cidade, onde presidiu a Comissão Permanente de Meio Ambiente, Indústria e Comércio da Câmara e foi relator da CPI dos Transportes. Vinculado à conhecida Unificação Kardecista da mesma cidade, é dela o atual presidente. Suas respostas oferecem ampla abordagem do campo político no país, seus desdobramentos e, claro, o que mais nos interessa, a lúcida visão espírita, especialmente para considerar o amadurecimento da consciência política, o uso do voto e outras importantes considerações. 

Como medir o nível de amadurecimento político do País, considerando o conhecimento espírita que nos amplia a visão?
 
Amadurecemos politicamente, mas ainda temos muito a avançar. A Democracia Representativa no Brasil está praticamente falida. Elegemos representantes que não vêm trabalhando pelos reais interesses da sociedade e sim pelos seus próprios, em conluio com os poderes econômicos, num círculo vicioso cruel e insustentável. Urge evoluirmos para a Democracia Participativa, na qual pressionamos os eleitos e concursados a executarem a agenda necessária a cada comunidade. Sem isso, continuaremos a pagar impostos caríssimos e ter serviços públicos ruins, o que nos obriga a pagar duas vezes, pela segurança, educação e saúde por exemplo.  Conferimos nossa evolução humana e política no texto "As Aristocracias", de Kardec, que nos proporciona um olhar panorâmico desde a aristocracia da força física até a intelectual, mostrando que rumamos para a aristocracia intelecto-moral. Isso nos anima, mas ainda temos muito a fazer. 
De que forma ligamos os temas Política e Espiritismo?
Pela caridade! Exercendo cidadania, exigindo nossos direitos e levando a quem não tem o que a Vida nos deu, graças a Deus. Aprendemos a fazer o bem para sermos felizes e não para ir ao "céu". Quando decididamente levarmos essa atitude para o exercício da cidadania, promoveremos a maior revolução pacífica a que a Terra já assistiu. À medida que nos sensibilizarmos pelas necessidades da comunidade e assumirmos mais espaços nas instituições públicas, teremos preponderantemente pessoas éticas promovendo as transformações necessárias ao bem comum. 
A atuação política do adepto espírita está facilitada ou dificultada nos dias atuais, diante dos imensos desafios sociais?
Facilitada. O campo está aberto para abraçarmos compromissos no campo da política. Precisamos agir à moda espírita fazendo política por amor. A ganância se une facilmente para dominar. O amor é mais forte que a ganância, mas precisa de mais ação e menos indiferença. O "feixe de varas" mais forte hoje é o da ganância. Estamos formando o "feixe de varas" do amor em benefício de todos. É simples: quando tivermos pessoas éticas e talentosas ocupando posições estratégicas, o bem reinará com mais agilidade. Reencarnamos numa sociedade com muitas necessidades, portanto nossas oportunidades de serviços são divinamente grandes. Todas as gerações tiveram suas dificuldades. Estamos preparados para enfrentar as nossas; basta arregaçarmos as mangas, ocuparmos espaços nas instituições e reformá-las, inspirados pelos valores cósmicos universais revelados pelo Cristo, relembrados e explicados pelo Espiritismo. 
Qual o maior obstáculo ao cumprimento ideal político saudável, considerando os objetivos do partidarismo político?
O partido deve permitir que seus filiados elejam seus dirigentes; poucos são assim no Brasil. A maioria deles possui presidentes com poderes imperiais que nomeiam quem lhes atendem aos interesses eleitoreiros de cada eleição, desconsiderando a realidade de cada cidade. Cada cidadão deve conferir se o partido do seu candidato preferido é realmente um partido político ou uma agremiação de um dono. Se não encontrarmos um partido que espelhe melhor os nossos ideais, podemos e devemos fazer política fora dos partidos políticos. Os Conselhos de Direito criados pela Constituição de 1988 para a população determinar sua pauta de necessidades ao poder público estão ocupados pelos governos porque a sociedade ainda não acordou para isso e é do interesse do poder político estabelecido que continue dormindo e dizendo que não gosta de política, pois assim age como bem quer. Há o Conselho Municipal de Educação, de Saúde, de Cultura, de Segurança etc. Cada um de nós tem uma aptidão e pode colocar-se a serviço de sua comunidade num desses Conselhos. Dá trabalho, mas o amor deve prevalecer e aprendemos com Chico que com "disciplina, disciplina e disciplina" produzimos maravilhas que antes não acreditávamos ser capazes. 
Por que a política seduz tanto a ponto de corromper muitos?
O poder não muda ninguém; ele revela! Se já realizamos em nós os valores éticos universais de justiça, fraternidade, caridade e lealdade, por exemplo, nada nos corromperá. Se estamos realizando aos poucos, posto que reencarnados na Terra, é bom lembrar que muito em breve estaremos reunidos perante a Vida com aqueles que intercederam em favor do nosso reencarne, os que nos ajudaram a escrever o nosso planejamento reencarnatório e nos será perguntado o que fizemos dos talentos que nos foram confiados. Todos reencarnamos com tendências; hoje somos a síntese de um processo evolutivo multimilenário. Escolher quais tendências alimentar, o que plantar, é da nossa conta. A colheita será obrigatória. Aprendemos que "a cada um será dado segundo suas obras". 
Qual a postura ideal do espírita diante da política?
Defender o interesse público sempre, incondicionalmente, e primar por ações que venham dar transparência ao trato com a coisa pública. Usar o instrumento da política para servir à comunidade e não para servir-se dela. André Luiz, em Conduta Espírita, nos oferece excelente orientação: "nos embates políticos, situar em posição clara e definida as aspirações sociais e os ideais espíritas cristãos, sem confundir os interesses de César com os deveres para com o Senhor".  Tem sido desafiador e estimulante viver isso na prática. 
O que dizer da consciência de voto?
Imprescindível. Precisamos de caridade para com todos, porque vivemos em sociedade. Devemos cuidar da cidade. Cuidando da cidade, cuidamos das pessoas que vivem conosco e nos livramos dos políticos clientelistas que dependem da perpetuação da desgraça para fazerem favores individuais e terem vida longa na política. O voto é a oportunidade que temos de separar o "joio do trigo". Urge aprimorarmos as leis eleitorais, como as sociedades desenvolvidas fizeram, mas enquanto as regras forem essas, precisamos usá-las com inteligência em benefício de todos. 
E as grandes reformas políticas de que o país precisa, em que estágio se encontram?
Muito atrasadas, porque ferem interesses cristalizados por uma burocracia ineficiente e vampiresca. Quando a sociedade tomar a sábia decisão de cuidar do que é dela, aos poucos promoveremos mudanças saudáveis.        
Como formar uma mentalidade política saudável no grande público?
Somos divinamente vocacionados para a fraternidade, mas ainda estamos egoístas. Somos uma família universal e precisamos despertar para a necessidade de uma postura socialmente fraterna. Seremos cobrados por isso porque as oportunidades estão diante de nós, mas cada alma faz seu próprio despertar. Aprenderemos pelo amor e pela dor a assumir atitudes em defesa de uma sociedade mais justa e fraterna e para isso fatalmente deveremos nos envolver com questões políticas. Somos comandados por políticos. Eles criam as leis que regulam nossa vida em sociedade. Ou tomamos a iniciativa e reagimos, ou regularão nossas vidas como bem entendem. Aprenderemos a identificar os profanadores dos ideais de progresso e justiça e os baniremos da vida pública. 
Algo marcante que gostaria de acrescentar?
A sociedade, o cidadão comum, precisa urgentemente oferecer apoio político aos que, por amor, abraçaram trabalhos no campo da política, do contrário, os operadores políticos tradicionais continuarão a controlar tudo segundo seus interesses gananciosos e não os da comunidade. Os modernos "vendilhões do templo" oferecem apoio político aos seus escolhidos. Os traficantes, os prevaricadores, etc., oferecem apoio e depois cobram de seus eleitos o retorno de seus "investimentos". Precisamos romper esse círculo vicioso oferecendo apoio àqueles que realmente desejam servir à sociedade. Aqui um cuidado: sempre perguntar ao pretendente de nosso apoio o que ele já fez para que possamos acreditar no que está dizendo que fará. Ele deve necessariamente apresentar sua folha de serviços prestados. Devemos estudar, escrutinar sua biografia, porque papel e discurso aceitam de tudo, mas história tem quem realmente fez. 
Suas palavras finais.
Não se deve falar de política partidária dentro das nossas casas espíritas. Podemos e devemos tratar desse assunto junto aos núcleos vivos da sociedade organizada, mas sempre fora da casa espírita. A comunhão entre nossas orações e a ação dos benfeitores espirituais que servem na casa cria a atmosfera espiritual saudável que nos alivia, alimenta e fortalece, nutrindo a esperança e favorecendo o nosso imprescindível esclarecimento. Devemos preservar esse ambiente divino em detrimento das nossas opiniões pessoais e partidárias. A casa espírita deve ser acolhedora de todos, sem nenhum tipo de distinção, como de maneira indelével nos ensina o bom samaritano.
Fonte: Retirado em inteiro teor da Revista Semanal o Consolador


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