domingo, 15 de março de 2015

CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASAMENTO


GEBALDO JOSÉ DE SOUSA 
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás (Brasil)
Gebaldo José de Sousa


A vida a dois exige, sempre, renúncia de
lado a lado; o casamento, afinal, é uma
conversa a longo prazo

Parte 1

“Para que um casamento possa funcionar, necessário se faz que ambos os parceiros tenham o casamento e seu êxito como o aspecto mais importante de sua vida e merecedor, por conseguinte, de atenção e cuidados. É ilusão pensar que a relação prossegue sozinha, sem ser deliberada e cuidadosamente cultivada, ou ainda, que possa ficar aos cuidados de um só dos parceiros.1
O livro Boa Nova 2 registra diálogos do Mestre com Joana de Cusa – uma de suas mais fiéis seguidoras.
Eis breve resumo dessa providencial conversa, na qual o Mestre sugere a ela permanecer no lar, junto ao esposo incompreensivo.
Vivia em Cafarnaum e “acompanhava a Jesus nas pregações do lago”.
Mulher dedicada e de nobre caráter, possuía verdadeira fé, mas não contava com o apoio do esposo – servidor dos ‘poderosos’ do dia –, mais vinculado aos interesses imediatistas.
Em casa de Simão, ela procura Jesus e expõe-Lhe suas amarguras e padecimentos domésticos. O marido não tolerava a nova doutrina, eis que não ‘aceitava as claridades do Evangelho’. Não devia impor-lhe sua fé?
Após ouvi-la pacientemente, Ele lhe responde:
“– (...) Teu esposo não te compreende a alma sensível? Compreender-te-á um dia. É leviano e indiferente? Ama-o, mesmo assim. Não te acharias ligada a ele se não houvesse para isso razão justa. Servindo-o com amorosa dedicação, estarás cumprindo a vontade de Deus. (...) Deves, pelo Evangelho, amá-lo ainda mais. Os sãos não precisam de médico. (...)
 Sê fiel a Deus, amando o teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. (...) Volta ao lar e ama o teu companheiro como se fora o material divino que o céu colocou em tuas mãos para que talhes uma obra de vida, sabedoria e amor!
(...)
– Vai, filha!... Sê fiel!”
Essa ponderada diretriz dera-lhe resignação e nova dimensão para sua vida.
Buscou esquecer as características inferiores do marido e observar o que ele possuía de bom, estimulando-o a desenvolver suas virtudes potenciais.
Revelou, assim, que aquele que ama e compreende mais deve estender as mãos para auxiliar ao que é frágil na fé, descendo ao nível de sua compreensão.
Nasceu-lhe um filhinho, que lhe duplicou os trabalhos.
Com os anos, desenvolveu sua fé e seus conhecimentos.
Perseguições políticas levaram o marido às dívidas, ao sofrimento e à morte.
Joana suportou todos os infortúnios. Esqueceu o conforto da nobreza material.
Dedicou-se aos filhos de outras mães e ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão.
E a bela página segue comentando outros fatos relevantes da vida dessa extraordinária mulher, que soube viver como cristã e, ao final, em Roma, entregar-se ao martírio, por fidelidade a Jesus e à Sua Doutrina de Amor.
QUE É UM LAR?
“O lar supõe um porto, um lugar de abrigo, a representação material de uma morada, um domicílio para o desenvolvimento das relações espirituais, mentais e morais daqueles que o habitam, como imagem do que será, mais adiante, o lar celestial, no reino dos céus.”  3
É possível construir o lar ideal? Há fórmulas? Há receitas?
Quais os objetivos do casamento?
Quais ideais acalentam os casais ao formarem os próprios lares? Que buscam?
Será apenas a perpetuação da espécie humana?
O casamento nos propicia a formação de um lar, que é laboratório onde Deus nos educa para o exercício do amor universal.
Não é algo acabado; é construção de todos os dias. Não se encerra ao final das cerimônias que o envolvem. É a partir daquele momento que ele efetivamente se inicia!
Embora sua importância para os casais e a comunidade, não nos preparamos devidamente para vivenciá-lo, como seria ideal, eis que requer ajustamentos constantes, porque reúne pessoas com formações diferentes e aproxima famílias até com ideias opostas sobre a vida. O que é natural para um, agride o outro.
Sem mútuas concessões, coisas banais viram pontos de discórdia.
Tudo se transforma em apreciação desfavorável.
A intolerância gera implicâncias quanto ao posicionamento à mesa; ao modo de mastigar; à altura da voz; à maneira de vestir-se ou de pentear-se.
A indisposição ao diálogo conduz à solidão a dois – talvez a mais perversa das formas em que ela se apresenta –, ou ao divórcio.
Bem compreendido, é instrumento que favorece a evolução moral dos seres.
Permite-nos vencer o egoísmo.
Antes dele, predomina o pronome "meu"; agora passa a ser o "nosso".
Daí a importância do diálogo, para resolver conflitos, que se sucedem, ao longo da vida.
Nele, importa, também, dividir a atenção, treinar a renúncia, aprender a passar noites sem dormir, tropeçar em fraldas sujas, correr para o médico nas horas mais impróprias, perder o filme que gostaríamos de assistir; a novela; o telejornal ou o espetáculo esportivo. Enfim, devemos nos preparar para substituir hábitos arraigados.
O CASAMENTO E O ESPIRITISMO
Na Doutrina Espírita não há cerimônias de casamentos, batizados, ou formalismos de quaisquer natureza. Ele se efetiva pela união civil, na forma da Lei, que visa assegurar o direito das partes e de eventuais descendentes.
Nos casamentos, unimo-nos em preces, em favor do casal e de suas famílias.
“(...) os consórcios humanos estão previstos na existência dos indivíduos, no quadro escuro das provas expiatórias, ou no acervo de valores das missões que regeneram e santificam.” 4
“(...) há casamento de amor, de fraternidade, de provação, de dever (...).” 5
“Tão somente na base da indulgência e do perdão recíprocos (...) conseguirão o companheiro e a companheira do lar o triunfo esperado, nas lides e compromissos que abraçam, descerrando a si mesmos a porta da paz e a luz da libertação.” 6
O casamento “É um progresso na marcha da Humanidade”. 7
“O casamento, segundo as vistas de Deus, deve fundar-se na afeição dos seres que se unem.” 7
“(...) quantos não são os que acreditam amar perdidamente, porque apenas julgam pelas aparências, mas que, quando obrigados a viver com as pessoas, não tardam a reconhecer que não passava de um entusiasmo material! (...)
Há duas espécies de afeição: a do corpo e a da alma, tomando-se muitas vezes uma pela outra. A afeição da alma, quando pura e simpática, é durável; a do corpo é perecível. Eis por que, com muita frequência, os que julgavam amar-se eternamente acabam por odiar-se, desde que a ilusão se desfaça.” 7
“Quantas uniões infelizes, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade, e nas quais o coração não tomou parte alguma!”  8
“(...) o casamento humano é um dos mais belos atos da existência na Terra.” 9        
“Nenhum coração pode viver normalmente sem companhia.
Olhar, gesto e palavra (...) têm significações profundas para a garantia da felicidade.”  10
O CASAMENTO E A REENCARNAÇÃO
O marido faltoso é o que inclinamos à crueldade e à mentira, no passado.
A esposa desequilibrada é a que relegamos à necessidade e à viciação, em outra existência física. (Continua na próxima edição desta revista.)
 
Referências:
1. DIAS DA SILVA, MA. Quem Ama Não Adoece. 5. ed. São Paulo: Editora Best Seller, 1994. p. 283.
2. XAVIER, F. Cândido. Boa Nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 13 ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979.  Cap. 15, p. 99 a 104.
3. MCGAREY, Gladys y William. Revelaciones de Edgar Cayce sobre el amor y la familia. Madrid: EDITORIAL EDAF, S. A., 1989. Cap. 16, p. 245. Tradução livre, do Espanhol.
4. XAVIER, Francisco C. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB.1977. Q. 179.
5. XAVIER, Francisco C. Nosso Lar. Pelo Espírito André Luiz. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982. Cap. 38, p. 212.
6. XAVIER, Francisco C. Vida e Sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982. P. 60.
7. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1ª edição Comemorativa do Centenário. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Q. 695; 701 e 939, respectivamente.
8. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2013. Cap. V, it. 4.
9. XAVIER, Francisco C. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Cap. 30, p. 160.
10. VIEIRA, Waldo. Sol nas Almas. Pelo Espírito André Luiz. 3. ed. Uberaba: CEC, 1974. Cap. 37, p. 111.
 Retirado de o Consolador, Revista Semanal de Divulgação Espírita



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