sexta-feira, 18 de março de 2011

APRENDA COM OS SEUS PROPRIOS ERROS, UMA LIÇÃO DE VIDA! Foram três experiências que valeram apena!

Por Reinaldo Cantanhêde Lima
Eu tinha entre onze e treze anos e, nessa época a minha mãe estava criando uma criança meu irmão e, ela gostava de sentar na porta da nossa casa, com o bebê no colo para dar de mamar, ao passar por ela, pediu-me para voltar e passou a mão em minhas pernas e disse: pium te estragou meu filho! fico triste, entretanto, nesse momento, só tu pode ajudar o teu pai capinar a nossa roça, é de lá, que sai o nosso sustento! Eu que podia ajudar estou amamentando teu irmão.
Segui viagem, fui para a roça que ficava em Estiva, um centro de lavoura, em uma distância de uns três quilômetros do povoado Centro Grande, município de Axixá. O milho já estava maduro, a roça foi feita em uma área de muitas palmeiras babaçu, iniciamos a capina, éramos quatro pessoas, eu meu pai José Nazário Lima, Seu Otaviano (tavico) e o Senhor Júlio, que havia fugido de Tutóia do Povoado Vila Nova, em razão de uma grande seca, coisa do nordeste.
Na parte da tarde por volta de umas 16: 00, o meu pai olhou minhas pernas na altura da “coxa” na parte de traz e perguntou, era isso que tua mãe estava olhando hoje pela manhã? Pium te deu uma pisa! Nessa oportunidade o Senhor Tavico, levantou-se do eito e reclamou para o meu pai,” Nazário, tu maltrata demais o teu filho, um rapaz bonito desse, tá grande, mas ainda é criança e, criança é para ir para a escola e brincar.
Cresci e, já fazia alguns anos que eu trabalhava, iniciei raspando mandioca em casa de forno (casa de farinha) tirava casca de mandioca no pubeiro e botava maniva na cova. Com 18 anos, já havia realizado todas as tarefas da lavoura, roçava o mato, fazia a coivara, plantava, capinava, colhia milho, arroz, ralava a mandioca e torrava a farinha.
Como as roças eram de subsistência e, não rendiam dinheiro para as minhas necessidades da época. Fui trabalhar em barcos construídos em madeiras movidos pelo vento por meio das velas. Os barcos eram grandes, carregávamos em uma coroa que ficava em frente a cidade de Morros, levávamos horas para por no barco 14m3 de areia. Saíamos de Morros, pelo Rio Munim, travessávamos as baías e, íamos descarregar no Tibiri e em São Luís, capital do Estado do Maranhão. O dinheiro que ganhei em três viagens deu apenas para comprar uma calça e uma sapatilha de pano, chamada de Conga, estava na moda!
Nessa época os barqueiros gostavam muito das festas em boates e, queriam que eu os acompanhassem, ainda fui em uma e o ambiente sufocou-me. Ao desembarcar, fui até a casa do meu compadre Marcelino Lima, filho de Dona Aurora, pedi que ele ensinasse-me a profissão de serrador de madeira, ele prontamente aceitou e, começamos a serrar perna manca, tabuas de andiroba e de guanandi, as peças eram vendidas em São Luís, capital do Estado do Maranhão.
Antes já havia trabalhado quebrando coco babaçu e, ajuntando andiroba, com o dinheiro da venda do azeite, o meu pai foi a São Luís, satisfazer o meu desejo, comprou-me uma calça de linho belga branco, uma camisa listrada e um par de sapato amarelo, estava na moda, quer me parecer, da marca xavante, entre outros pertences que eu estava em falta.
Com o lucro do trabalho de serroteiro, vim para Rosário, terminar de aprender o ofício de alfaiate. O mestre que a minha tia Mãe Raimunda, arranjou-me, foi o Senhor José Maria Lima, além de alfaiate, era baterista do Jazz 4 de Março, de propriedade do Saudoso João Agripino dos Santos, também proprietário do Conjunto “Os Favoritos”, foi o Senhor Zé Maria Lima, quem arranjou-me como mestre de música o Senhor Elpídio Pereira, conhecido como Velho, músico de elite, tocou piston e tocava muito bem saxofone tenor.
Ao desconfiar que Velho, não queria ensinar-me, deixei de procurá-lo e fui pedi para o Senhor José Serra, ajuda e, ele de imediato aceitou e, ao considerar eu estar preparado para pagar instrumento, apresentou-me para o Senhor João dos Santos, que examinou-me em uma tarde e entregou-me o seu próprio instrumento, um saxofone tenor semi novo.
Nesse período, casei-me com a professora Maria Madalena Marques (Madazinha), tivemos cinco filhos: Carmélio Marques Lima, Rosário de Maria Marques Lima, Reinaldo Cantanhêde Lima Júnior, Carmeválio Marques Lima e Ronald Marques Lima. Dos cinco filhos, dois envolveram-se com entorpecentes, um faleceu aos 32 anos de idade, e um outro, caminha enfrentando os transtornos, físicos Moraes e sociais.
Nessa querela de quem foi a culpa e, sem saber como conduzir essa desgraças, adentrei ao movimento de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Porque os entendidos da época apontavam como causa, a drogadição de jovens, a falta de espaço físico para a prática de atividades desportivas. Lembro que assisti a uma palestra na Assembléia Legislativa do Maranhão, com o médico Ruy Palhano e, ele alegava descompromisso do poder público com a população infanto juvenil.
Acreditando no discurso do já mencionado médico, e querendo encontrar formas de combater esse mal, elaborei um Projeto, Social, voltado para à infância e à adolescência. A referida Proposta sugeria a criação de escolinhas de músicas, como era musicista, entendi ser essa a minha tarefa. Organizei a escolinha de música, com a ajuda da Secretaria de Estada da Cultura, não deu resultado! Em razão, dos pais e mães das criança e dos adolescentes meus alunos, não ter cumprido com suas partes. Queriam, era que eu, cuidasse dos filhos deles! Afirmo isso, porque, quando os procurei para organizarmos uma instituição por exigência do órgão doador dos instrumentos, eles não compareceram e não se justificaram.
Convencido de que, quem tem o dever de elaborar políticas públicas são as autoridades constituídas. Iniciei lutas pela implantação de conselhos municipais, espaços privilegiados onde representantes da sociedade civil, amparados pela lei, juntam suas experiências e, sistematizam idéias de como deve os governantes proceder: implantar ou ampliar os serviços necessários ao atendimento público!
Os espaços foram construídos e, de nada, adiantou! Fiquei alguns anos desmotivado, em dois mil e hum,(2001) quando fui participar do Projeto Viva Cidadão, no meio as discussões, em oportunidade em que a psicóloga, pediu fosse falado sobre a maior frustração e maior satisfação. Todos ali presentes, preferiram falar de suas grandes satisfações eu fui o último, falei da minha frustração! Dos agravantes da minha família. Ao terminar o meu relato, a administradora do Viva, emprestou-me um livro, intitulado Inteligência Emocional e a Arte de educar Nossos filhos.
Nesse livro, eu encontrei as explicações, que há treze anos procurava. Tratava-se de escritos sobre pesquisas científicas realizadas em busca de respostas sobre as razões da delinqüência infanto-juvenil. Em seus estudos, os pesquisadores identificaram quatro tipos de comportamentos: Simplistas, Leissez-Faire, Desaprovadores e Preparadores Emocionais. E, que, os filhos de pais Simplistas, Leissez-Faire e Desaprovadores, eram agressivos, violentos, desinteressados pelos estudos e usavam drogas. Enquanto que, os filhos dos pais Preparadores Emocionais, relacionavam-se bem na família, na escola, na comunidade e tinham bons desempenhos nos estudos.
Ao terminar de proferi leitura nos Escritos de Gottmam e De Claire, estava convencido de ter sido eu o responsável pela desestruturação da minha família. Muitas noites de insônia se passaram e, eu precisava investigar mais, foi então que eu lembrei-me do amigo Tavico, queria saber se ele estava certo, quando reprovou a criação do meu pai, se seus filhos eram bem ajustados ou não?
Em 2004, antes de apresentar o Seminário Inteligência Emocional A Arte de Educar Filhos, fui ao povoado Centro Grande, queria conversar com os filhos do Senhor Tavico, não os encontrei. Pedi informações deles ao meu pai e a minha mãe, disseram-me que eram dois filhos uma mulher e um homem, a mulher chamava-se Domingas e o homem era Olimpio, acrescentaram-me que Olímpio, era um homem sério e trabalhador e, que não precisava ser vigiado em suas tarefas para produzir!
Fiquei satisfeito com o que ouvi dos meus pais, entretanto, aguardava o momento em que eu pudesse completar as minhas perguntas e, só Olimpio ou Domingas poderiam responder-me, pois os seus pais já haviam falecidos. Em 2007, estava conversando, com o amigo Joaquim de Jesus Santos Souza, advogado OAB 5586, Na Rua Dr. Jadiel de Carvalho, debaixo de uma amendoeira, quando aproximou-se o Senhor Olimpio, parou a sua bicicleta e nos cumprimentou.
Nessa oportunidade eu fiz as perguntas? Olimpio o seu pai lhe batia? Ele respondeu que não! “Meu pai um dia ficou zangado comigo e pegou no nervo do meu pé com força e foi só isso Seu Reno.” Perguntei novamente, já brigou com alguém? Ele respondeu. “Nunca bati e nunca apanhei de ninguém”! Terceira Pergunta, como é seu relacionamento com os seus filhos? Respondeu-me, “que não morava com seus filhos e não tinha divergências com eles, estava morando atualmente com uma mulher que tinha três filhos e, que o relacionamento entre eles era muito bom, que já havia presenteado dois e, nesse mês quando receber o meu salário da Estrada de Ferro, vou dar uma bicicleta para o terceiro. Eu trato eles como meus filhos e eles me tratam como seu pai!”
Segunda experiência, a primeira vacinação em animais doméstico em Rosário, que eu lembro, foi Paulinho, meu colega quem fez em nossa rua. Ao sermos avisados para segurarmos os animais, eu pedi ao meu filho caçula, para ele levar o cachorro, por está mais novo e, eu levaria o gato, pensando ser mais fácil, enganei-me. O gato arranho - me todo e, eu tive que deixar ele escapar. Para minha surpresa, com a mesma facilidade que o meu filho segurou o cachorro para ser vacinado, segurou o gato também. Com isso, eu fiquei muito triste, ao perceber que as minhas atitudes não estavam corretas. Até os animais não gostavam de mim! As razões, eu os batia quando aproximavam de mim. Enquanto o meu filho os acarinhavam!
Terceira experiência, um dia faltou-me a paciência e, eu gritei com a minha neta Thaís. Ela ficou assustada e foi embora para a casa da mãe dela, nem os meus presentes ela queria receber. Para contornar a situação desagradável, pedi a minha nora que conversasse com a neta e, pedisse ela para receber os presentes e, que eu gostava dela que havia tão somente perdido a paciência e, que essas coisas sempre acontecem. A mãe dela respondeu-me que já havia tentado explicar e, que ela não queria entender.
Eu desisti, com o passar do tempo, um dia estava visitando uma amiga, lá no Iraque onde ela estava morando com a mãe e o pai, quando a avistei, estava correndo na rua brincando com outras crianças. Quando ela avistou-me veio correndo ao meu encontro e, sentou-se ao meu colo. Que tarde maravilhosas! Fui até um comercio ali próximo e comprei alguns bombons para ela e para as crianças com quem ela estava brincando.
Portanto, prezados leitores, neste exato momento, em que tento por em ordem estes fatos. E, ao lembrar de quantas vezes e, de quantos exemplos tenho mostrado e a extrema necessidade de que sejam implantadas políticas que possam despertar a compreensão, não apenas nos governantes, más, também na população, que tanto carece e padece por falta de orientações capazes de levar aos caminhos propiciadores de uma vida digna e feliz!
É nessa lógica e, com a perspectiva, de ver uma sociedade caminhar em busca de uma boa qualidade de vida. Que foi pensado a Proposta de Educação Familiar, como política pública, capaz de promover o ajustamento das famílias que encontram-se em condições de risco pessoal e social. E, que essas instituições falidas, possam ser reabilitadas para serem inseridas no processo produtivo e, no convívio comunitário e social! É um desafio tanto para cidadãos quanto para dirigentes municipais!

*Reinaldo Cantanhêde Lima, funcionário público estadual, Diretor do SINTSEP, Autodidata, Educador Alternativo e Mobilizador Social Blog: www.reinaldocantanhede.blogspot.com Email: reinaldo.lima01@oi.com.br
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Apoio: SINTSEP – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público do Estado do Maranhão

Um comentário:

  1. Bom dia gostaria de saber mais sobre a construção da igreja de sao miguel

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