Kardec e os bons espíritas
ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@gmail.com
De Londrina-PR
Como nos devemos conduzir para bem
cumprirmos a tarefa, a missão, o compromisso que assumimos para a presente
existência? Essa dúvida sempre nos vem ao pensamento quando nos examinamos e
avaliamos o que temos feito na vida.
Há certamente várias maneiras de
obter resposta à questão proposta, e Kardec forneceu-nos quanto a isso
indicações precisas em suas obras.
Eis uma delas:
“Aquele que pode ser, com razão, qualificado de
espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral.
O Espírito, que nele domina de modo mais completo a matéria, dá-lhe uma
percepção mais clara do futuro; os princípios da Doutrina lhe fazem vibrar
fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado no coração, pelo
que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes bastam
para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap.
XVII, item 4.)
Anos antes, quando escreveu a obra que
conhecemos como O Livro dos Médiuns, ele já havia dito algo a
respeito, ocasião em que elaborou o que seria a primeira classificação dos
adeptos da doutrina nascente:
“Entre os que se convenceram por um estudo direto,
podem destacar-se:
1º. Os que creem pura e simplesmente nas
manifestações. Para eles, o Espiritismo é apenas uma ciência de observação, uma
série de fatos mais ou menos curiosos. Chamar-lhes-emos espíritas
experimentadores.
2º. Os que no Espiritismo veem mais do que fatos;
compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a
praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres.
Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O
avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o
cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. São
os espíritas imperfeitos.
3º. Os que não se contentam com admirar a moral
espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos de
que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus
breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar
na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir
seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a
convicção que nutrem os preserva de pensarem em praticar o mal. A caridade é,
em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros
espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos.
4º. Há, finalmente, os espíritas
exaltados. A espécie humana seria perfeita, se sempre tomasse o lado
bom das coisas. Em tudo, o exagero é prejudicial. Em Espiritismo, infunde
confiança demasiado cega e frequentemente pueril, no tocante ao mundo
invisível, e leva a aceitar-se, com extrema facilidade e sem verificação,
aquilo cujo absurdo ou impossibilidade a reflexão e o exame demonstrariam. O
entusiasmo, porém, não reflete, deslumbra. Esta espécie de adeptos é mais
nociva do que útil à causa do Espiritismo. São os menos aptos para convencer a
quem quer que seja, porque todos, com razão, desconfiam dos julgamentos deles.
Graças à sua boa-fé, são iludidos, assim, por Espíritos mistificadores, como
por homens que procuram explorar-lhes a credulidade. Meio mal apenas haveria,
se só eles tivessem que sofrer as consequências. O pior é que, sem o quererem,
dão armas aos incrédulos, que antes buscam ocasião de zombar, do que se
convencerem e que não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Sem
dúvida que isto não é justo, nem racional; mas, como se sabe, os adversários do
Espiritismo só consideram de bom quilate a razão de que desfrutam, e conhecer a
fundo aquilo sobre que discorrem é o que menos cuidado lhes dá.” (O
Livro dos Médiuns, cap. III, item 28.)
Os anos passaram e, como sabemos,
ainda hoje temos no meio espírita representantes dos quatro tipos citados no
texto acima, havendo ainda, o que é mais lamentável, aqueles que se transviaram
ao longo do caminho, fato que levou Kardec a formular a um conhecido benfeitor
espiritual a seguinte pergunta: – Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos
se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no
bom caminho?
Eis o que lhe foi respondido:
“Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira
caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo número de
aflitos a que levem consolo; reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela
sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente,
pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua lei; os que
seguem Sua lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele
destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela degrau para
contentar sua vaidade e sua ambição. – Erasto, anjo da guarda
do médium. Paris, 1863.” (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XX,
item 4.)
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Postado
por Astolfo Olegário de Oliveira
Filho às 06:45 Nenhum comentário:
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