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Ser feliz é uma
ambição
genuinamente
humana. De certa
maneira,
passamos boa
parte das nossas
existências em
busca da
felicidade.
Conforme pondera
o psicólogo
Martin E.P.
Seligman, “Mais
palavras foram
escritas para
definir
felicidade do
que praticamente
qualquer outra
questão
filosófica”.1
De fato, numa
rápida busca no
Google
encontramos mais
de 24 milhões de
citações para o
termo
felicidade e
157 milhões para
o seu similar em
inglês, isto é,
happiness.
Apesar disso,
felicidade é um
conceito ainda
mal
compreendido.
Afinal de
contas, as
pessoas ainda
lhe atribuem
determinados
estados,
características
e descrições que
não lhe cabem ou
restringem o seu
significado. De
acordo com outro
destacado
psicólogo,
Michael Argyle
(1925-2002), as
pessoas
geralmente
descrevem
felicidade em
termos de
contentamento,
satisfação, paz
mental,
sentimento de
realização,
deleite,
alegria, entre
outras coisas.2
Estabelecendo
mais claramente
as suas
fronteiras
conceituais,
Seligman
considera que o
importante é
saber distinguir
uma felicidade
momentânea de
uma constante.3
Assim sendo, a
momentânea pode
ser facilmente
aumentada pelo
usufruto de
experiências
(gozos)
passageiras e/ou
fugazes tais
como ir ao
cinema, teatro,
shopping center,
saborear um
chocolate,
receber uma
promoção,
aumento de
salário etc. Mas
elevar a
constante de
felicidade é
algo que o
aumento do
número de
episódios de
sentimentos
positivos
momentâneos
não logrará.
Talvez seja por
essa razão que o
conceito de
felicidade vem
sofrendo
inúmeras
interpretações
ao longo da
história.
A propósito, o
médium Divaldo
P. Franco
faz
esclarecedoras
considerações
sobre o tema.
Recuando no
tempo, ele
declara que foi
na Grécia
que o
conceito de
hedonismo –
ainda
extremamente
relevante nos
tempos atuais –
floresceu
como uma
filosofia que
abarcava “o
prazer e a
beleza como bens
supremos da vida
humana”.4
Alguns dos
representantes
mais eminentes
dessa escola de
pensamento foram
Aristipo de
Cirene (435-366
a.C.) e Epicuro
de Samos
(341-270 a.C.).
O pensamento
hedonista na
atualidade -
Assim, “Enquanto
o primeiro dizia
que o prazer é
um bem em si,
podendo ser
usado
intensamente, o
segundo
determinava a
moderação do
prazer, no
intuito de que
se pudesse
chegar à
verdadeira
felicidade.
“As duas
doutrinas foram
confundidas ao
longo dos
séculos, e o que
perdurou para a
história foi a
noção hedonista
de Aristipo, que
pregava a busca
desenfreada
pelos prazeres
sensoriais, como
comer, beber,
dormir e
praticar sexo,
sem qualquer
avaliação de
caráter moral”.5
Na há
dificuldade de
se perceber que
o pensamento
hedonista
influencia
fortemente o
modo de vida de
considerável
parcela da
humanidade
presentemente
encarnada. Basta
ver, por
exemplo, a
drogadição, o
alcoolismo e a
sexolatria que
dominam
especialmente as
mentes
infanto-juvenis.
Mas em flagrante
contraste com os
pensadores
citados,
Sócrates
(469-399 a.C.):
“[...] em seu
tempo já dizia
que a felicidade
independe do
ter, do não ter,
do enfrentar a
dor. A
verdadeira
felicidade é o
ser. Mas,
para ser, são
indispensáveis
três fatores: o
pensamento reto,
a conduta reta e
as palavras
saudáveis”.6
Franco cita
também o
notável pensador
cínico,
Diógenes de
Sínope (412-323
a.C.) que viveu
como um mendigo
e, como tal,
desprezava os
poderosos e as
convenções
sociais.
A sua
filosofia
condenava
veementemente o
prazer, o desejo
e a luxúria.7
Também
sempre nos
fascinaram as
ideias de outro
filósofo que,
aliás, exerce
grande
influência no
pensamento
acadêmico
contemporâneo,
isto é,
Aristóteles
(384-322 a.C.),
discípulo de
Platão.
Aristóteles
desenvolveu o
conceito de
eudaimonia,
ou seja, no
grego a palavra
‘‘eu’’ evoca a
ideia de bem
ou
bem-estar e
‘‘daemon’’,
Espírito.
E aqui há um
claro avanço no
assunto, pois,
como observa o
acadêmico
Eduardo Wills, o
eudaimonismo
considera o
bem-estar ser
mais importante
do que
felicidade
hedônica porque
tem a ver com a
realização dos
potenciais
humanos.8
A felicidade e
sua relação com
a vida virtuosa
-
Para ele, a
visão
aristotélica
interpreta a
felicidade como
parte de um
entendimento
virtuoso ou
ético da vida.
Mas, no final
das contas, o
que guia a ação
humana é
precisamente a
busca pela
felicidade. O
pensamento
aristotélico
advoga também
que para
descobrir o
verdadeiro
significado da
felicidade é
vital examinar
inicialmente a
natureza humana
(Espírito) em
toda a sua
complexidade.9
Dentro dessa
perspectiva,
tem-se como
certo que o
exercício das
faculdades
humanas em toda
a sua condição
de excelência
conduzirá à
felicidade, e
constituindo tal
busca um
comprometimento
de vida. Para
Wills, “Dessa
forma, a busca
da felicidade
terá implicações
práticas em
termos de se
viver uma vida
virtuosa”.
Nessa
concepção, a
felicidade é
produto da
maneira como
utilizamos as
nossas
habilidades. De
fato, conhecidos
personagens da
atualidade
ligados a certos
escândalos
financeiros e
políticos, por
exemplo,
comprometeram
irremediavelmente
os seus níveis
de felicidade ao
não adotar uma
conduta
virtuosa. Afinal
de contas, hoje
os seus nomes
estão claramente
identificados
como malfeitores
ou
transgressores
da lei.
Por fim,
é muito
auspicioso que
um cientista com
a envergadura de
Wills proponha
que a satisfação
com a
espiritualidade
contribuirá para
a obtenção de
elevados níveis
de satisfação
com a vida como
parte da visão
eudaimônica de
felicidade.10
Todavia, ao
examinar as
nuances da
felicidade,
Michael Argyle
sugeriu que “Felicidade
pode ser
entendida como
uma reflexão
sobre a
satisfação com a
vida, ou como a
frequência e
intensidade de
emoções
positivas”.11
Com efeito, há
substanciais
evidências
empíricas de que
as emoções
positivas criam
um escudo contra
os “estragos do
envelhecimento”,
conforme atesta
Seligman.12
Por outro lado,
estudiosos da
felicidade têm
argumentado que
as pessoas e as
nações são mais
ou menos felizes
levando-se em
consideração
alguns
sentimentos
positivos
relacionados às
dimensões:
relacionamentos
sociais,
trabalho e
desemprego,
lazer, dinheiro,
classe, cultura,
personalidade,
alegria,
satisfação com a
vida, idade,
sexo, saúde,
progresso e
assim por
diante.13
O que torna uma
vida digna -
Baseado nisso,
Argyle afirmou
que as condições
gerais de vida
impactam a
felicidade.
Então felicidade
é um conceito
multidimensional.
Dito de outra
forma: é
resultante de
várias causas.
No mundo
hodierno, como
sabemos, os
haveres
monetários têm
um papel
preponderante na
vida das
pessoas, mas não
são
necessariamente
sinônimos de
felicidade. De
acordo com
Seligman, “Mais
do que o próprio
dinheiro, o que
influencia a
felicidade é a
importância que
você dá a ele
[...]”.14
Mas o que
faz uma vida
digna? Segundo
pesquisas
desenvolvidas
pelo Instituto
Gallup em escala
mundial é
necessário
satisfazer cinco
elementos
essenciais, a
saber: bem-estar
da carreira,
social,
financeiro,
físico e
comunitário.15
Na atualidade
existem até
mesmo rankings
de felicidade
das nações. Por
exemplo, o
Happy Planet
Index que
mede a
expectativa de
vida, bem-estar
e aspectos
ecológicos.
Embora eles
sirvam de
parâmetro, são
imperfeitos
porque cada um
usa determinado
conjunto de
variáveis ou
critérios
específicos de
medição que
acabam levando,
de certo modo,
ao subjetivismo.
Ademais, nota-se
no pensamento e
na medição
contemporânea de
felicidade que
há uma clara
inclinação/viés
para o “ter” em
detrimento do
“ser”. Posto
isto, o que a
religião pode
nos oferecer a
respeito de
felicidade num
mundo onde há
tanta
infelicidade?
Seligman
argumenta que:
“A relação entre
esperança no
futuro e fé
religiosa é
provavelmente a
pedra angular do
motivo pelo qual
a fé afugenta o
desespero e
aumenta a
felicidade
[...]”.16
Se as
religiões
contribuíssem
com apenas essa
percepção já
estariam fazendo
um trabalho
certamente
apreciável.
Mas encapsulando
toda a
complexidade da
vida na dimensão
material, o
Espírito Joanna
de Ângelis vai
bem mais longe
ao afirmar que:
“[...] não se
pode desfrutar
de felicidade
plena durante a
jornada carnal,
no entanto, por
meio dos atos
morais cada
pessoa pode
atenuar as
aflições que
decorrem das
experiências
infelizes
originadas em
suas existências
transatas”.17
Ou como
sintetizou
sabiamente Allan
Kardec,
“A felicidade
não é deste
mundo”.18
A proposta de
Sócrates e a
proposta
espírita -
Por sua vez,
Divaldo P.
Franco nos
lembra que: “O
Espiritismo
considera a
felicidade
através da
proposta de
Sócrates e de
Jesus. Sócrates
diz que mais
importante do
que ter é ser. A
felicidade do
ponto de vista
socrático é a
decorrência de
pensamentos
corretos, de
atos
equilibrados e
de corações
pacificados.
Somente tem um
coração
pacificado quem
age
corretamente, e
somente age com
equilíbrio
aquele que pensa
bem”.19
Essa proposta
foi
completamente
absorvida pelo
Cristianismo
nascente, e
Jesus demonstrou
ao longo de sua
curta vida – mas
com a mais
absoluta
coerência,
diga-se – que
mais importante
do que os
valores externos
é a condição de
paz conquistada
pela criatura
humana. Por
conseguinte, o
Espiritismo,
explica Franco,
defende que a
verdadeira
felicidade
resulta de uma
consciência
tranquila,
consequência
natural, aliás,
de um indivíduo
que possui um
caráter reto e
se pauta por uma
conduta correta.
O respeitável
médium oferece
explicações
sensatas sobre o
tema ora em
apreço e que
merecem a nossa
reflexão – ou
seja:
“Por que a
felicidade não é
deste mundo?
Porque vivemos
num mundo
relativo, e a
felicidade seria
uma conquista
permanente.
Desde que
vivemos no
relativo,
vivemos no
instável. A
felicidade deve
ser estável.
“Mas por que
então há essa
relatividade?
Porque nós
confundimos
prazer com
felicidade
[...]”20
Nesse sentido,
Joanna de
Ângelis
nos informa que
“Somente na
conquista dos
valores eternos
é que o ser
adquire bens que
se não
transferem de
mãos e harmonia
que nada vence”.21
Franco, a seu
turno, esclarece
que Jesus na sua
missão de nos
despertar para a
verdade nos
informou que o
seu reino não
era deste mundo.
E tal assertiva
deve ser
interpretada
como “[...]
Equivalendo
dizer que a
felicidade é o
reino de Deus.
A felicidade
plena espera por
nós -
Mas, se o Reino
de Deus não é
deste mundo, há
uma sutileza:
ele não é deste
mundo, mas
começa neste
mundo. Será aqui
que iremos
colocar os
pilares da
felicidade,
estabelecer as
bases éticas e
morais da nossa
própria
existência
[...]”22
No entanto,
“[...] Para
irmos a esse
mundo
transcendental,
estamos na Terra
preparando os
degraus da
ascensão através
da nossa vida
moral”.23
Ele também
observa com
acerto que:
“Jesus nos veio
desenhar a
felicidade real,
o bem. Se
desejamos a
felicidade,
amemos, mas
amemos de tal
forma como se
fosse a nós
mesmos, com o
amor próprio que
muita gente não
tem [...]”.24
Por isso, a
verdadeira
felicidade é
aquela que
proporciona paz
interior porque
é erigida sobre
leis universais.
Esta não depende
de nenhum bem
material ou
prazer fugaz.
Para concluir,
Kardec nos dá
explicações
interessantes a
respeito do
significado
transcendente da
felicidade sobre
as quais
deveríamos
meditar:
“A
suprema
felicidade
consiste no gozo
de todos os
esplendores da
criação, que
nenhuma
linguagem humana
jamais poderia
descrever, que a
imaginação mais
fecunda não
poderia
conceber.
Consiste também
na penetração de
todas as coisas,
na ausência de
sofrimentos
físicos e
morais, numa
satisfação
íntima, numa
serenidade d’alma
imperturbável,
no amor que
envolve todos os
seres, por causa
da ausência de
atrito pelo
contato dos
maus, e, acima
de tudo, na
contemplação de
Deus e na
compreensão dos
seus mistérios
revelados aos
mais dignos. A
felicidade
também existe
nas tarefas cujo
encargo nos faz
felizes. Os
puros Espíritos
são os Messias
ou mensageiros
de Deus pela
transmissão e
execução das
suas vontades.
Preenchem as
grandes missões,
presidem à
formação dos
mundos e à
harmonia geral
do Universo,
tarefa gloriosa
a que se não
chega senão pela
perfeição. Os da
ordem mais
elevada são os
únicos a
possuírem os
segredos de
Deus,
inspirando-se no
seu pensamento,
de que são
diretos
representantes”.25
Essa
felicidade plena
espera por nós,
mas trabalhemos
por merecê-la.
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16. SELIGMAN, M.E.P.
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(Pelo Espírito
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Lições para a
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Salvador: Livr.
Espírita
Alvorada, 2003,
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22. ____________.
Divaldo Franco:
responde.
Vol. 2. São
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Intelítera,
2013, p. 168.
23. ____________.________________.
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24. ____________.________________.
p. 171.
25.
KARDEC, A. O
Céu e o inferno.
Versão
Digital. Rio de
Janeiro: FEB,
2007, p. 25,
item 12.
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