sábado, 14 de abril de 2012

Novas configurações familiares, antigas questões



Um exemplo da mudança é o modelo de família mista, onde pais divorciados convivem com filhos de outros casamentos, sendo que nem sempre a relação entre ex-cônjuges é amigável. Como resultado, não se sabe quem tem autoridade sobre os filhos, pois a paternidade formal muitas vezes é questionada, gerando brigas e discussões.

Mesmo na família tradicional, muitas vezes os filhos passam mais tempo com babás ou avós, que se transformam nos verdadeiros cuidadores das crianças, apesar de não terem nenhuma autoridade real sobre os mesmos. Esta situação não é vivida sem conflito por grande parte das famílias.
No consultório escuto o sofrimento de pais que desejam ter mais tempo com os filhos, mas não renunciam a outras atividades da vida. Mães que se culpam por não estarem presentes e por perceberem que o tempo passa e que seus filhos se identificam e respeitam mais os avós ou as babás. Pais que percebem que não têm a menor autoridade sobre os filhos e não têm a menor ideia da razão disso.

E a educação?
Há uma tendência muita difundida nas famílias em delegar a responsabilidade em relação à educação dos filhos. Fazem isso porque não sabem como educá-los. Os pais modernos procuram passar essa tarefa para a escola, para o psicanalista, para o médico, para a babá, esquecendo que o primeiro modelo de identificação da criança são eles mesmos.
É um compromisso ético que as famílias têm em relação a seus filhos. E as crianças desejam e pretendem essa atitude por parte dos pais. Os valores serão transmitidos através das condutas e regras que eles instituirão. Não é algo que se possa delegar sem pagar um preço alto no futuro. É uma dívida que é sempre cobrada.
É necessário renunciar a certas condutas individualistas e narcisistas para assumir a postura que proponho. É a maior resistência que encontro no meu trabalho cotidiano, mas o resultado é recompensador. A partir do momento em que os pais assumem a própria responsabilidade na educação dos filhos, geralmente a resposta das crianças é imediata, pois, na maioria dos casos, filhos amam os pais e querem a presença dos mesmos em suas vidas.
Mesmo os adolescentes, tidos como rebeldes, aceitam a mudança de postura, pois para o jovem limite é fundamental na construção da própria identidade. Alguns o pedem de maneira explícita, pois precisam saber até onde ir, a noção de certo e errado e a aprender as consequências dos próprios atos.

O exemplo convence
Precisa-se desconstruir um mito difundido em muitas famílias. Não existe faça o que eu digo, mas não o que eu faço. As atitudes contam mais que as palavras. As crianças observam e imitam os comportamentos dos pais. Por exemplo, quanto pode ajudar na educação dos filhos um discurso bem articulado antidrogas se um dos pais chega em casa e toma uma dose diária de whisky, às vezes preparada pelo próprio filho? O mesmo vale para o discurso sobre a violência, o sexo e o preconceito. Mensagens ambíguas são comuns e desorientam a mente dos jovens.
A partir do momento em que se instaura uma relação de diálogo entre os familiares, todos têm a aprender: os filhos e os pais também. Os filhos precisam reconhecer em seus pais a figura de autoridade, que serve como parâmetro em relação às condutas que devem seguir, mas ao mesmo tempo os pais têm muito a aprender com a criatividade e a inovação do jovem, que revoluciona os padrões preestabelecidos.
Numa discussão ou embate, que seja claro quem é o adulto da situação! Não esqueça quem é o pai e quem é o filho. Escute seu filho, mas que seja você a tomar as decisões. Se você perdeu esta condição, primeiro você deve conquistá-la, antes que pretendê-la.
Respeito pelo outro é determinante para um comportamento ético, de tolerância, e de responsabilidade coletiva. Esses valores devem ser ensinados pela família, onde os limites do próprio espaço terminam o começo do espaço do outro; onde a liberdade individual e a própria felicidade se conquistam com condutas éticas e não tentando levar vantagem em tudo. Estamos em um período de muitos direitos, mas devemos lembrar que temos inúmeros deveres também, como pais, educadores e cidadãos.


Leonardo Della Pasqua, psicólogo-psicanalista, diretor da Sociedade de Psicologia do RS.
Endereço eletrônico: leopasqua@hotmail.com
  Fonte: texto encaminhado por Email

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