– Suas mãos são as mais lindas, mamãe.
Foram sempre essas as palavras usadas pelo filho amoroso e companheiro. Mãos que enormemente o amparavam.
O garoto completara doze anos
havia poucos dias. Estava se tornando um rapazinho, mas se sabe que cada
pessoa tem um caminho a seguir e uma forma necessária para percorrê-lo.
A mãe se dedicava, por
completo, ao pequeno Jeremias; ele não tinha irmãos, então, o tempo lhe
era camarada e sempre mais prolongado. Seu pai trabalhava numa
empreiteira do pequeno município; só à noitinha chegava ao lar singelo
demais e aconchegante.
Ele deixava as botas sujas do
trabalho na calçadinha de fora da casa. Lavava as mãos e braços e, agora
mais asseado, buscava ansioso a única entrada da morada. No canto
direito do ambiente caseiro de um só cômodo, encontrava-se o filho
Jeremias sobre sua cama.
Os sorrisos se abriam: o do
pai para o filho e vice-versa. Do ângulo que o garoto olhava, o brilho
dos seus olhos tornava-se foco vivo de luz.
– Oi, meu filho! Como passou o dia? Está tudo bem com você? – o pai perguntava, amoroso, em sua simplicidade.
Mas, de fato, a singeleza é puro bálsamo e sabedoria.
O filho sorria e seus olhos
respondiam com alegria ao pai. Beijos eram selados no rosto, na cabeça,
nos olhos, nas mãozinhas do pequeno. Quanto amor! E a mãe observava a
cena cotidiana, no entanto, com emoção maior a cada novo dia.
Após o encontro de pai e filho,
o marido agora abraçou a esposa com toda admiração. Eram, os três,
companheiros da jornada para o progresso espiritual.
– Que bom estar de volta ao lar! – o pai e marido falava.
Ele, antes de se banhar, fora
fazer alguns reparos no casebre visando sempre à melhoria para a família
que tanto tempo permanecia ali. Também estava construindo um pequeno
carro de mão para levar o filho a passear, sentir o vento no rosto,
receber, pelo sol, ainda mais a luz da vida. Sem um meio de locomoção
para o filho, os passeios diários eram quase impossíveis.
Enquanto isso, a mãe cuidava
do seu menino, ajeitava-o para lhe dar a janta, uma sopinha preparada
com o que era necessário para o seu corpo. Cada colherada
também estava repleta do alimento mais benéfico e salutar: o amor.
E quando findava a comida, o filho sempre dizia:
– Suas mãos são as mais lindas, mamãe.
E aquelas mãos o limpavam, o acariciavam, o protegiam, o mantinham vivo.
No meio da tarde seguinte, um
pouco mais cedo que o habitual, o pai chegou. Como sempre depois de toda
doação ao filho, finalmente, ele terminou o carro para levar o pequeno
ao desejado passeio.
Pai e mãe pegaram o menino querido e com todo cuidado o puseram no carrinho construído para ele.
Jeremias, depois de
adequadamente colocado e seguro no carro de madeira puxado pelo pai,
sentiu o brilho da vida em seu rosto tocando sua alma.
Para intensa alegria do filho,
o pai acelerou os passos dando maior emoção; a mãe de mão dada com o
pequeno já corria tão alegre só de ver sua felicidade.
Os três, naquela tarde, eram a
realização do compromisso assumido. Espíritos comprometidos entre si por
um bem maior: o amparo, o amadurecimento, a realização do amor.
E as flores passavam mais rápido, o céu avançava mais veloz e o sorriso virava gargalhada feliz.
De repente…
– Filho…– foi o grito da mãe.
Sem perceber, o pai passara
por uma pedra mais saliente e lançara o filho para longe. Jeremias ficou
ali caído sem se mexer, pois seu estado não lhe permitia, ele sofria de
uma grave doença degenerativa; dependia de cuidado o tempo todo. Quando
nasceu, os médicos informaram ao casal que ele nunca falaria uma
palavra sequer, não expressaria nenhuma emoção e que não passaria de
tenra idade.
Até agora, segundo os pais,
ele sentia toda emoção e demonstrava pelo olhar, também falava, mesmo
que uma única frase, e já completara doze anos.
Pai e mãe correram,
desesperados, para acudir o filho. Com cuidado viraram o menino… e seus
olhos brilhosos estavam abertos e sorrindo.
– Filho querido, meu amor, você está bem? – a mãe perguntou, limpando-o da terra.
– Meu Deus! Meu filho! O que eu fiz? – o pai, inconformado, pegou-o nos braços.
E assim foram até o casebre
que os esperava de portas abertas. A mãe preparara o banho morno e tudo
mais de que Jeremias necessitasse.
Em pouco tempo o susto havia
passado e quase tudo estava normalizado. O pai trouxera o carro para o
quintal e a mãe preparara um mingau de aveia do qual o filho tanto
gostava.
Cada colherada levada à boca
do pequeno era o amor mais compreendido e aumentado. O pai estava
sentadinho ao lado se refazendo do susto e amando mais e mais aquele
filho querido.
Depois de limpo e
alimentado, em sua caminha construída pelo pai, o filho, com olhos
calmos e reluzentes, falou a única frase que conseguia:
– Suas mãos são as mais lindas, mamãe e… “papai”.
A gratidão e o reconhecimento são o alicerce para o amor se desenvolver e prosperar.
E os olhos de Jeremias
mantinham o fulgor da vida e a certeza de que o compromisso bem
realizado desacata o desenvolvimento da medicina e comprova que a lei
divina é soberana e incomparável, dispensa comentários e é operante nos
recônditos menos prováveis da esfera da vida.
(Cínthia Cortegoso)