Instruções Práticas sobre as
Manifestações Espíritas
Allan Kardec
Estamos fazendo neste espaço o estudo –
sob a forma dialogada – dos oito principais livros do Codificador do
Espiritismo.
Os textos são publicados sempre às
quintas-feiras.
Concluímos nesta data o estudo da
obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas,
publicada por Kardec em 1858. Na próxima semana, a obra em estudo será O
Livro dos Espíritos.
Parte 5 e final
33. Kardec diz que podemos evocar todos
os Espíritos. Perguntamos: a) existe uma fórmula especial para isso? b) a
evocação é garantia do comparecimento deles?
Não há fórmula sacramental ou mística a
ser utilizada nas evocações. Basta fazê-la em nome de Deus, nos termos
seguintes ou em outros equivalentes: Eu rogo a Deus todo-poderoso que permita
ao Espírito de... comunicar-se conosco. Ou então: Em nome de Deus todo-poderoso
peço ao Espírito de... que venha se comunicar conosco. A faculdade de evocar
qualquer Espírito não implica, para ele, a necessidade de estar às nossas
ordens. Ele pode vir em um momento e não em outro, com tal médium ou tal
evocador que lhe agradem e não com tal outro. Além disso, causas dependentes ou
não de sua vontade podem impedir que ele compareça. (Instruções Práticas
sobre as Manifestações Espíritas, cap. VIII, págs. 156 a 161.)
34. Convém dirigir perguntas aos
Espíritos?
Sim. As lições transmitidas pelos
Espíritos seriam, frequentemente, muito limitadas, se não fossem estimuladas
por nossas indagações. Há casos até em que eles mesmos provocam as perguntas,
dizendo: “Que queres? Interroga e eu te responderei”. Em outras situações eles
próprios nos interrogam, não para se instruírem, mas para nos porem à prova ou
nos levarem a expressar mais claramente o nosso pensamento. Reduzir-nos, em sua
presença, a um papel puramente passivo seria, pois, um excesso de submissão que
eles não exigem. Devemos ter como regra geral: Quando um Espírito fala, não se
deve interrompê-lo; e quando ele manifesta, por um sinal qualquer, a intenção
de falar, devemos esperar e não interrompê-lo senão quando estivermos certos de
que nada mais tem a dizer. Se, em princípio, as perguntas não desagradam aos
Espíritos, há questões que lhes são soberanamente antipáticas e das quais
devemos abster-nos completamente, sob pena de não obtermos resposta ou de as
obtermos deficientes. Quando dizemos que certas perguntas são antipáticas,
queremos referir-nos aos Espíritos elevados. Quanto a responder-nos ou não,
devemos entender que os Espíritos podem abster-se de responder por vários
motivos: 1º) a pergunta pode desagradar-lhes; 2º) eles nem sempre têm os
conhecimentos necessários; 3º) há coisas que lhes é proibido revelar. Se, pois,
não satisfazem a uma pergunta é porque não querem, não podem ou não devem. Seja
qual for o motivo, é regra invariável que todas as vezes que um Espírito se
recusa categoricamente a responder, nunca se deve insistir. (Obra citada, cap.
VIII, págs. 166 e 167.)
35. Quais os pontos essenciais a serem
considerados na formulação das perguntas dirigidas aos Espíritos?
Dois pontos essenciais devem ser
considerados na formulação das perguntas: o fundo e a forma. Quanto à forma,
elas devem, embora sem fraseologia ridícula, demonstrar as atenções e a
condescendência que se devem ao Espírito que se comunica, se ele é superior, e
nossa benevolência, se ele é nosso igual ou inferior a nós. De outro ponto de
vista, elas devem ser claras, precisas, sem ambiguidade. É preciso evitar
aquelas que comportam um sentido complexo. No que se refere ao fundo, as
perguntas merecem uma atenção particular, segundo seu objeto. As perguntas
frívolas, de pura curiosidade ou de comprovação são as que desagradam aos
Espíritos sérios. Eles se afastam ou recusam-se a respondê-las. Os Espíritos
levianos, todavia, se divertem com elas. As perguntas de comprovação são
ordinariamente feitas por aqueles que ainda não adquiriram uma convicção e
procuram, assim, certificar-se da existência dos Espíritos, de sua perspicácia
e de sua identidade. Isso é, sem dúvida, muito natural da parte deles, mas
erram completamente o seu alvo. (Obra citada, cap. VIII, págs. 168 e 169.)
36. Kardec conceitua o Espiritismo como
sendo uma ciência de observação, com princípios próprios. Diante disso, que
processo deve adotar o observador que deseje instruir-se na ciência espírita?
Aqueles que desejam instruir-se na
ciência espírita devem resignar-se a seguir um processo diferente do utilizado
pelas ciências em geral. Se julgam não poder fazê-lo senão aplicando seus
próprios processos, farão melhor abstendo-se. A ciência espírita tem seus
princípios. Aqueles que almejam conhecê-la devem conformar-se a eles. Em caso
contrário não se podem dizer aptos a julgá-la. Esses princípios são os
seguintes, no que concerne às perguntas de prova: 1º) Os Espíritos não são máquinas
que fazemos mover à nossa vontade. São seres inteligentes que não fazem e não
dizem senão o que querem e nós não podemos sujeitá-los aos nossos caprichos.
2º) As provas que desejamos ter de sua existência, de sua perspicácia e de sua
identidade eles mesmos as dão, espontaneamente e de sua própria vontade, em
muitas ocasiões; mas as dão quando querem e da maneira que querem. Cumpre-nos
esperar, ver, observar, e essas provas não nos faltarão: é preciso pegá-las na
passagem. Se quisermos provocá-las é, então, que elas nos escapam, e nisso os
Espíritos nos provam sua independência e seu livre-arbítrio. Este princípio é,
de resto, o que rege todas as ciências de observação. Que faz o naturalista que
estuda os costumes de um animal, por exemplo? Segue-o em todas as manifestações
de sua inteligência ou de seu instinto; observa o que se passa, mas espera que
os fenômenos se apresentem; não pensa nem em provocá-los nem em desviar-lhes o
curso; ele sabe, aliás, que, se o fizesse, não os teria mais em sua simplicidade
natural. O mesmo se dá com respeito às observações espíritas. (Obra citada,
cap. VIII, págs. 169 a 171.)
37. Os Espíritos familiares podem
auxiliar-nos em nossas dificuldades e problemas?
Sim, em termos. Os Espíritos
familiares, os que estão encarregados de velar por nós e que, pelo hábito que
têm de nos seguir, estão identificados com as nossas necessidades e conhecem
nossos problemas melhor do que nós mesmos. Eles podem, pois, nos esclarecer e,
em muitas circunstâncias, o fazem de modo eficaz; mas sua assistência não é
sempre patente e material; é, o mais das vezes, oculta. Auxiliam-nos por uma
multidão de advertências indiretas que provocam e que, infelizmente, nem sempre
levamos em conta, donde resulta que muitas vezes devemos queixar-nos de nós
mesmos em nossas atribulações. Quando os interrogamos, eles podem, em certos
casos, dar-nos conselhos positivos, mas, em geral, se limitam a mostrar-nos o
caminho, recomendando-nos que não nos abalroemos, e têm, para isso, um duplo
motivo. Primeiro, as tribulações da vida, se não são o resultado de nossos
próprios erros, fazem parte das provações que devemos sofrer; eles podem
ajudar-nos a suportá-las com coragem e resignação, mas não lhes pertence
desviá-las. Em segundo lugar, se eles nos guiam pela mão, para evitar todos os
escolhos, que faríamos do nosso livre-arbítrio? Seríamos como crianças
colocadas em andadores até à idade adulta. Eles nos dizem: “Eis o caminho,
segue a boa vereda. Eu inspirarei o que deves fazer de melhor, mas serve-te do
teu juízo, como a criança se serve de suas pernas para andar”. (Obra citada,
cap. VIII, págs. 172 e 173.)
38. Podem os Espíritos fazer predições
sobre o futuro?
Depende. A Providência foi sábia
ocultando-nos o futuro. De que tormentos essa ignorância não nos poupa! Sem contar
que, se o conhecêssemos, nos abandonaríamos como cegos ao nosso destino,
abdicando toda iniciativa. Os próprios Espíritos não o conhecem senão em razão
de sua elevação; eis por que os Espíritos inferiores, em seus sofrimentos,
creem sofrer para sempre. Os que têm conhecimento do porvir não o revelam.
Podem, quando muito, levantar uma ponta do véu que o cobre. Mas, então,
fazem-no espontaneamente, porque julgam isso útil, nunca por solicitação nossa.
O mesmo se dá relativamente ao nosso passado. (Obra citada, cap. VIII, pág.
173.)
39. Pode ser remunerado o exercício das
faculdades mediúnicas?
Não. Nada se prestaria mais ao
charlatanismo e ao embuste do que semelhante prática. Se se têm visto falsos
sonâmbulos, muito mais médiuns falsos se veriam, e só esta razão seria um
motivo fundado de desconfiança. O desinteresse, ao contrário, é a resposta mais
peremptória que se pode opor aos que não veem nos fatos espíritas senão uma
hábil artimanha. Não há charlatanismo desinteressado! Ademais, como poderíamos supor
que um Espírito de alguma elevação pudesse estar, a qualquer hora do dia, às
ordens de um negociante de consultas e submetido às suas exigências para
satisfazer a curiosidade do primeiro que chegasse? Conhece-se a aversão dos
Espíritos por tudo quanto cheire a cupidez e egoísmo, bem como o pouco caso que
fazem das coisas materiais. Poderíamos admitir que eles ajudassem a comerciar
servindo de intermediários? Isso repugna o pensamento e seria preciso conhecer
muito pouco a natureza do mundo espírita para crer que tal pudesse ocorrer.
(Obra citada, cap. VIII, págs. 174 a 176.)
40. Por que Kardec propõe que, no
estudo do Espiritismo, devemos começar pela teoria, deixando a experimentação
para mais tarde?
Os fenômenos da alçada da Química e da
Física podem ser reproduzidos à vontade; pode-se, pois, fazê-los passar,
gradualmente, diante dos olhos do aluno, partindo do mais simples para o mais
complexo. O mesmo não se dá com os fenômenos espíritas: não os manejamos como
uma máquina elétrica. É preciso tomá-los como se apresentam, pois não depende
de nós determinar-lhes uma ordem metódica. Daí resulta que muitas vezes eles
são ininteligíveis ou pouco concludentes para os principiantes e, portanto,
podem causar admiração sem convencer. Pode-se evitar esse inconveniente
seguindo uma marcha contrária, isto é, começando pela teoria, e esse é o
processo que aconselhamos a toda pessoa que deseja honestamente se esclarecer.
Pelo estudo dos princípios da ciência, princípios perfeitamente compreensíveis
mesmo sem a experimentação prática, adquire-se uma convicção moral inicial que
não necessita mais do que ser corroborada pelos fatos. Ora, como nesse estudo
preliminar todos os fatos terão sido passados em revista e comentados, resulta
disso que, quando os presenciarmos, mais facilmente os compreenderemos,
qualquer que seja a ordem na qual as circunstâncias permitam observá-los. (Obra
citada, cap. X, págs. 181 e 182.)
Observação:
Para acessar a Parte 4 deste estudo,
publicada na semana passada, clique aqui: https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2019/12/instrucoes-praticas-sobre-as_12.html
Caso o
leitor queira baixar o estudo completo – texto consolidado e questões
objetivas – do livro “Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas”,
clique neste link: http://www.oconsolador.com.br/linkfixo/estudosespiritas/principal.html#ALLAN -
e, em seguida, no verbete “Instruções Práticas sobre as Manifestações
Espíritas”.
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Postado
por Astolfo Olegário de Oliveira Filho às 07:00 Nenhum
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Marcadores: Iniciação à
doutrina espírita
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