Não basta ser honesto...
JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
De Brasília-DF
Outro dia, li interessante texto de
um articulista filosófico que me fez refletir na diferença entre honestidade e
integridade. A primeira, segundo ele, está relacionada àquilo que fazemos
quando somos observados ou seremos avaliados. A segunda é a que se manifesta
intimamente, quanto nossa opção decorre da observância criteriosa daquilo que
consideramos ético. Isso passa pela coerência entre pensar e fazer, mesmo
quando estamos sós.
A honestidade decorre de nossa
escolha pelo que socialmente é considerado correto, mas com vistas a não sermos
criticados ou penalizados por terceiros. Está ligada à personalidade,
proveniente do latim “persona”: máscara. A integridade manifesta-se na
coerência de nossos atos éticos, mesmo na ausência do julgamento alheio, sem qualquer
expectativa de recompensa pelo que fazemos. É um acordo entre nós e Deus,
atributo do espírito, cuja Lei está “escrita em nossa consciência”(1). Para o
Cristão, é a fidelidade à proposta do Cristo: “Sede perfeitos, como é Perfeito vosso
Pai que está nos céus” (Mateus, 5:48. Destaquei). Relaciona-se à nossa
individualidade.
Para ser mais claro, nessa distinção,
vou citar um caso contado por advogado amigo meu, com destacada atuação
jurídica e política. Conversamos durante duas ou três horas, e uma das coisas
que ele me narrou serve como motivo de reflexão ao presidente de uma gigantesca
empresa pública chamada Santa Cruz, no Espírito Santo, cujo lema é: “Santa
Cruz, acima de tudo; Espírito Santo, acima de todos”.
Antes de assumir a direção da
empresa, seu atual presidente, ora tratado por MB, era quase desconhecido
agente público federal. Trabalhava num modesto gabinete de subsidiária de Santa
Cruz e pouco produzia, pois não gozava de prestígio entre seus pares. Pessoa
influente na empresa citada por meu preclaro amigo, que tratarei por H,
propôs-lhe conversar com MB, para que este assumisse a direção da instituição,
pois MB tinha pleno conhecimento de tudo o que nela ocorria, embora sem poderes
para atuar legalmente contra seus dirigentes corruptos.
Em síntese, moveu-se o mundo,
para que MB saísse do anonimato e fosse eleito presidente da empresa, cuja
produção de minério bruto está sendo dilapidada ao longo de décadas. Sua
eleição foi um sucesso, pois milhares de famílias da empresa renovaram sua
esperança em tempos melhores, com justiça social e próspera economia, além de
expurgo dos maus dirigentes subalternos e funcionários corruptos.
Depois disso, meu amigo H., cuja
esposa e filho são também da área jurídica, sabendo que dezenas de toneladas de
NIÓBIO, minério MAIS VALIOSO DO QUE O OURO, há anos, são vendidas pela empresa
a outros países ao preço de UM DÓLAR a TONELADA, foi ao gabinete do agora chefe
da Santa Cruz para denunciar-lhe a monstruosa fraude e propor-lhe medida
saneadora em benefício de sua empresa, cuja imensa reserva mineral vem sendo
lesada por empresários inescrupulosos, que se tornaram bilionários, com base em
lacuna de lei que permite classificar toda a sua rica produção simplesmente
como minério.
Sua ideia, brilhante como sempre, era
classificar e industrializar todos os minérios, antes que saíssem da empresa, o
que multiplicaria enormemente seu preço, criaria milhares de empregos e
evitaria a quebra futura da Santa Cruz. Para isso, medidas administrativas
rígidas precisariam ser tomadas, além de proposta de correção das falhas da
lei, com sua substituição por lei mais rigorosa.
Qual não foi a surpresa de H., quando
MB lhe respondeu, quase gritando: “Você não é meu amigo. Quer que me
matem?”
Humilhado, H. e sua família
afastaram-se do pusilânime defensor da grande empresa, para nunca mais ali
voltar. Agora, daqui a três anos, está pensando em apoiar alguém mais preparado
para lidar com os corruptos da Santa Cruz.
Conclusão, para administrar grandes
empresas, não basta a máscara da honestidade, é preciso integridade moral, que
também requer inteligência, coragem e coerência, além de fé verdadeira.
[1] KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos, questão 621.
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Postado
por Astolfo Olegário de Oliveira
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