sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Espiritismo responde

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)



Clissia Rezende, de Campo Grande-MS, em carta dirigida a esta revista, publicada na seção de Cartas da edição 237, depois de citar dois textos – um de Kardec, o outro de Léon Denis –, afirma ter entendido que o Espiritismo, por meio de suas maiores autoridades, “nega a revelação divina encontrada nas Escrituras, relegando-as ao nível de uma mera compilação de fatos históricos e lendários”. E acrescenta: “É curioso, entretanto, que querendo dizer-se cristão, o Espiritismo frequentemente lance mão das Escrituras, citando-as com profusão quando lhe convém. Isto significa que para os espíritas não faz diferença se a Bíblia é ou não a Palavra de Deus – desde que possam usá-la quando desejam dar à sua crença uma aparência cristã, ou seja, citando passagens isoladas que parecem dar apoio às teorias espíritas. Quando, porém, o ensino claro das Escrituras refuta essas mesmas teorias, dizem então que elas não são a Palavra de Deus pela qual devemos testar o que cremos”.
Dito isso, conclui a leitora: “Portanto, o Espiritismo não é uma religião cristã, pois nega a inspiração do Livro que é a base do cristianismo, assim como os seus ensinos. Gostaria de respostas pra isso”. 

Procuraremos, da forma mais didática possível, responder à leitora.
Toda vez que alguém se refere à Bíblia ou às Escrituras, como fez a leitora, é preciso primeiro dizer a que livros se refere. Está ela falando da Bíblia judaica, da Bíblia católica ou da Bíblia protestante?

Sim, porque Bíblia não é um livro, mas uma coleção de livros. De origem grega, a palavra bíblia significa “os livros”. Os antigos a chamavam de Escrituras, e é assim que costumamos a ela nos referir quando desejamos falar do Antigo Testamento.
Para os cristãos, a Bíblia encontra-se dividida em duas unidades: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. 

A Bíblia aceita pela Igreja Católica compõe-se de 72 livros: 45 livros do Antigo Testamento e 27 livros do Novo Testamento, conforme estabelecido no Concílio de Trento, que decidiu incluir as Lamentações de Jeremias no livro do mesmo profeta. 

Para os judeus estão excluídos da Bíblia o Novo Testamento e todos os livros do Antigo Testamento cujos originais foram escritos em grego e deles traduzidos. Assim, os judeus não aceitam os livros de Judith, Tobias, Livros I e II dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc. Os protestantes também não aceitam esses livros, notando-se que no livro de Ester há trechos que são rejeitados ao mesmo tempo por protestantes e judeus, que os consideram apócrifos.

Rejeitar a Bíblia, ou parte dela, torna o indivíduo não-cristão?
As religiões derivadas da Reforma luterana não são cristãs?
Quando a Igreja Católica e as chamadas igrejas evangélicas não obedecem ao rito da circuncisão, constante das leis mosaicas, deixam, por isso, de ser cristãs?

Jesus, ao desrespeitar o dia do sábado, como a lei mosaica determina, deixou também de ser cristão?

Todas as perguntas colocadas acima mostram que uma pessoa ou uma doutrina podem desaprovar parte das chamadas Escrituras e nem por isso perder a condição de cristã. A propósito, cristão é o nome que se dá àquele que segue o Cristianismo, cuja doutrina está contida por inteiro em o Novo Testamento, que, em muitos pontos, está em desacordo com o Antigo Testamento. 

As perseguições aos primeiros cristãos foram feitas justamente porque os partidários da lei mosaica entendiam que a doutrina cristã se opunha aos preceitos que Moisés, usando o nome de Deus, havia proclamado. 

A lei do olho por olho, o apedrejamento da mulher adúltera, o banimento dos leprosos, o menosprezo aos estrangeiros, o apego às práticas exteriores do culto, eis normas legais vigentes nas chamadas Escrituras – isto é, no Antigo Testamento – que o Cristo veio revogar, mostrando a incompatibilidade daquelas ideias com a nova ordem estabelecida pelo Evangelho do Reino.

Concluindo, sugerimos à leitora que leia o item 59 d´O Livro dos Espíritos, em que Allan Kardec, embora apontando os equívocos constantes do Antigo Testamento, faz importante reverência à Bíblia, quando indaga: “Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la. Escavando os arquivos da Terra, a Ciência descobriu em que ordem os seres vivos lhe apareceram na superfície, ordem que está de acordo com o que diz a  Gênese, havendo apenas a notar-se a diferença de que essa obra, em vez de executada milagrosamente por Deus em algumas horas, se realizou, sempre pela sua vontade, mas conformemente à lei das forças da Natureza, em alguns milhões de anos”. 

Recomendamos também à leitora e aos nossos estimados leitores que leiam o Editorial da edição 48 desta revista, que transcreve o que Ezer Weizman, ex-presidente de Israel, disse em dezembro de 1997 sobre o que pensa do Antigo Testamento. Eis o link que remete ao texto citado: http://www.oconsolador.com.br/48/editorial.html

 

 
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