quarta-feira, 23 de maio de 2012

A importância da informação na prevenção da dependência química






 
Cerca de 200 pessoas participaram do II Seminário de Saúde Mental, com enfoque na Dependência Química, realizado pela Associação Médico-Espírita de Santos. O evento ocorreu dia 5 de maio, na Universidade Santa Cecília.

Os palestrantes abordaram diversas faces da Dependência Química e a falta de informação necessária sobre o assunto, bem como os diferentes estágios do uso, do abuso e da dependência de substâncias. A exposição inicial foi feita pelo dr. João Lourenço, médico psiquiatra e psicoterapeuta, fundador do CooperCasa e radialista.

Conceituando a dependência química, o expositor disse que se trata de uma doença primária, crônica, progressiva e, em muitos casos, fatal. Ele explicou para o público os conceitos pertinente ao uso, quando se trata de algo eventual ou esporádico, ao abuso, que é quando o uso gera variados tipos de problemas, e também à dependência, o grau mais problemático quando se trata do envolvimento com as drogas, já que isso configura o uso continuado e compulsivo.

Entre as razões apontadas para o uso de drogas estão a curiosidade, a imitação de parentes ou de celebridades, a pressão do grupo, muito comum entre os pré-adolescentes, adolescentes e jovens, o estímulo da mídia, a busca de novas sensações e também a, em alguns casos, a fuga da realidade.
Em uma explicação bem didática, o dr. João Lourenço (foto) relacionou as fases da utilização de substâncias químicas com o reino animal. No primeiro momento, temos a fase do ‘macaco’, característico do uso, no qual algumas pessoas fazem o uso social das drogas, tornando-se assim mais eufóricas, menos acanhadas, e apontando até uma falsa produtividade pela expansão e desibinição adquiridas.

Depois viria a fase do ‘leão’, em que o indivíduo começa a apresentar certa tolerância ao componente químico, utilizando doses mais
altas, consequentemente apresentando sofrimento emocional e queda na produtividade, inclusive lapsos de memória, e no entanto entende que está com a razão e o controle da situação.

Vem, por fim, a fase do ‘porco’, quando a adição já é total, com grave dependência física, tanto no sistema nervoso/motor quanto nos aspectos psicológicos, em que a depressão ou o embotamento emocional podem mostrar-se mais severos. Com isso, a decadência familiar e social é uma decorrência grave do distúrbio.
Para finalizar a palestra, dr. João Lourenço salientou que o melhor tratamento é a prevenção por meio da informação e esta deve ser precisa, correta, empática e em tempo.

Direito e Espiritismo
A segunda palestra ficou a cargo do dr. Carlos de Paula (foto), advogado e coordenador do núcleo de Campinas da Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo. Ele discorreu sobre a Dependência Química e a Evolução do Ser: Uma questão puramente legal?

Durante sua explanação, ele mostrou números da realidade criminal do país, citando dados relacionados ao Estado de São Paulo, no que tange ao sistema prisional e também à justiça em seu âmbito penal.
 
Embora o número de detentos seja alto no Estado, aproximadamente 400 mil, e o custo elevado para a manutenção de cada preso, a realidade está longe da ideal, pois não há maneiras de se desenvolver adequadamente o ser espiritual que habita aquele corpo. Esta mudança serviria não apenas para o aprimoramento familiar, mas também social, emocional, psicológico e espiritual.
A questão da dependência revela quanto o ser em evolução precisa não só de um tratamento de qualidade, mas também de uma justiça solidária que o reeduque e ressocialize, para que o indivíduo não fique à margem da sociedade.

Codependência

Logo depois, a psicóloga Maria Heloísa Bernardo, membro da AME-ABC e diretora de projetos do Hospital Espírita Bezerra de Menezes, falou sobre a Codependência, uma síndrome que atinge os familiares do dependente químico.

No início de sua fala, a palestrante disse que se trata de uma síndrome primária, crônica, progressiva, mas tratável. Como característica, a codependência é marcada pela perda do controle de situações da vida. Ela afirmou que qualquer pessoa pode ficar com a vida fora de controle por viver uma relação doentia com um dependente ou com uma pessoa disfuncional.

Dentre os mecanismos disso estão a negação de que o problema básico seja o beber ou usar a droga, o apoio às racionalizações do dependente ou, ainda, o ato de assumir a culpa pelo abuso. Há uma tendência em evitar problemas que “poderiam” levar o dependente a beber/usar e até mesmo deixar de discutir o problema, com vistas a minimizar a problemática da situação, que já se encontra, muitas vezes, em estágio avançado.

Também é possível verificar a perda da estrutura diária, já que a rotina é interrompida devido às situações criadas pelo dependente. No início do processo, os familiares retomam a rotina após os episódios conflitivos. Com o passar do tempo e o agravamento da doença, perdem totalmente a estrutura da rotina diária. Advém daí a falta de cuidados pessoais, pois os familiares mais próximos deixam de cuidar da aparência pessoal, parando de desfrutar das pequenas coisas que considerem ser apenas “para o seu divertimento pessoal”.

É comum o parente do dependente se preocupar sempre com o doente, desconsiderando suas próprias necessidades; e como o uso é exacerbado, vem a incapacidade de colocar e manter limites, surgindo problemas de comportamento e disciplinares. O familiar fica então mais e mais incapaz de tomar decisões relacionadas com a vida diária.

O apoio psicológico é sempre importante até mesmo para o restabelecimento espiritual e foi citado, nesse sentido, o trabalho realizado por grupos anônimos que incluem a religiosidade e a espiritualidade no tratamento, como o AL-Anon, Narcóticos Anônimos, Amor Exigente, entre outros.

Caso clínico em regressão
O presidente da AME-Santos, dr. Flávio Braun (foto), médico psiquiatra, discorreu sobre sua experiência em terapia de vida passada e relatou um caso clínico sobre a drogadição.

Ele explicou inicialmente o que é a terapia regressiva, como funciona e deixou claro que, enquanto fora da realidade pelo uso de drogas, não é possível ao paciente realizar tal procedimento.

Ele apresentou um caso clínico onde o paciente, embora inicialmente relutante a
procurar ajuda, considerou a hipótese da reencarnação e aceitou submeter-se ao processo regressivo para compreender o uso e abuso de substâncias químicas.
Em várias sessões, esse paciente se encontrou em vidas onde o uso de substâncias era correto para a realidade na qual vivia, no caso, como pajé de tribo. No entanto, o mesmo paciente conseguia perceber quanto fez mau uso das substâncias nesta e em outra vida, além de perceber forte traço de egoísmo em seu temperamento.

Em seguida, dr. Flávio Braun fez um paralelo entre esse conteúdo e os ensinamentos de Allan Kardec citando inúmeras passagens de O Livro dos Espíritos, onde se fala sobre egoísmo e vícios. Também apresentou ensinamentos dos Espíritos Emmanuel e André Luiz sobre a influência dos maus espíritos sobre os encarnados que fazem uso de drogas.

A inclusão como tratamento
Finalizando as palestras, a psicóloga Maria Heloísa Bernardo (foto) falou sobre a necessidade do encaminhamento, inclusão e tratamento da dependência química, através das redes de assistências sociais. Citou dados de pesquisas que mostram que 172 a 250 milhões de pessoas usaram, pelo menos uma vez, alguma droga ilícita. E dentre estas drogas estão a maconha, com a maior prevalência (entre 143 e 190 milhões de pessoas), as anfetaminas, a cocaína, os opiáceos e o ‘ecstasy’ - 18 e 38 milhões de usuários problemáticos de drogas, de idade entre 15 e
64 anos.
Ela falou também sobre os efeitos de morbi-mortalidade, que gera amplo conjunto de custos sociais bem como altos níveis de violência interpessoal, homicídios, comportamento sexual de risco, uso inconsistente de preservativos, aumento da incidência de doenças infectocontagiosas e acidentes com veículos automotores.
A necessidade urgente de união e implementação de redes sociais que buscam o cuidado com o dependente e seus familiares fará a diferença no tratamento eficaz e de qualidade, pois é um ato que não dura apenas algumas semanas ou meses, mas sim a vida toda.

Ao final, os palestrantes se reuniram para explicar aos presentes as diferenças entre as internações voluntárias, involuntárias e a compulsória, a realidade do sistema público e responderam às perguntas do público.
Fonte: o texto em inteiro teor
O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita
 







 

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