Adriano Calsone:
O médium e
escritor
paulista fala
sobre a pintura
mediúnica
e
os preconceitos
que ainda cercam
o exercício
dessa
faculdade
mediúnica
|
Radicado na
cidade paulista
de São Caetano
do Sul, onde
nasceu, o médium
Adriano Calsone
(foto) é
autor de uma
ampla pesquisa
sobre o polêmico
tema pintura
mediúnica.
Formado em
Produção
Editorial em
Multimídia e
Web-animador,
vincula-se ao
Grupo Espírita
de Trabalho
Misail, da mesma
cidade, e é
autor de dois
livros: 1ª
Antologia
Literária do
Grupo de
Escritores da
UniABC e Pintura
Mediúnica – a
visão espírita
em ampla
pesquisa,
assunto que
constitui o tema
principal da
presente
entrevista.
|
Desde pequeno
sempre gostei
das artes
plásticas. Na
juventude
ginasial,
adorava a
matéria de
educação
artística, e
nunca topava
ficar só
preenchendo
desenhos já
traçados.
Lembro-me de que
o mimeógrafo era
algo abominável
para mim. Eu não
conseguia
aceitar aquela
maquininha
soltando
desenhos
prontos. Achava
aquilo um
convite à
preguiça. Queria
mesmo era
desenhar à mão
livre, por e
pela imaginação.
Depois de muito
tempo, em 2004,
me aventurei
como artista
plástico.
Cheguei até a me
iniciar em um
estudo artístico
para, alguns
anos depois,
abandonar tudo.
Mas daí, nesse
processo,
descobri que
"escrever pela
arte" me
preenchia mais
que "pintar pela
arte", onde fui
desenvolvendo um
gosto especial
por biografias
de artistas.
|
E quanto à
pintura
mediúnica?
A pintura
mediúnica surgiu
na minha vida em
2002, quando
comecei estudar
a Doutrina, na
Federação
Espírita do
Estado de São
Paulo. Naquela
época, estava
descobrindo
minhas
possibilidades
mediúnicas e aí
cheguei a
"desafiar" (no
bom sentido) os
Espíritos a
pintarem por meu
intermédio, já
que só faltava
esta mediunidade
para desmascarar
o meu ceticismo.
Por sorte, a
minha professora
na Federação era
uma das
coordenadoras de
um grupo de arte
mediúnica
itinerante, na
época o GEAM-
Grupo Espírita
de Arte
Mediúnica, que
hoje se
transformou em
um centro
espírita com o
mesmo nome. Eu
havia mostrado
para ela uma
pintura
mediúnica que
fiz em casa e
então ela me
convidou para
conhecer o grupo
e, de lá para
cá, essa
mediunidade, de
certa forma,
nunca mais me
abandonou.
Como você
conseguiu reunir
numa única obra
tantas
informações
sobre tema tão
polêmico?
Esta pesquisa
nasceu,
primeiramente,
por causa da
minha própria
necessidade de
desvendar a
mediunidade de
pintura. Na
primeira vez que
trabalhei como
médium de
pintura, o meu
corpo todo
entrou numa
espécie de
choque, e aí o
dirigente do
GEAM, na época o
Sr. Afonso
Moreira Junior,
me disse que
havia uma fila
de Espíritos
aguardando para
pintar por meu
intermédio. Como
eu estava
iniciando a
minha
mediunidade,
desconfiei
daquilo tudo e,
a cada trabalho,
minhas dúvidas
não paravam de
aumentar. Foi
então que, por
conta própria,
comecei a
pesquisar:
comprei todos os
livros
disponíveis que
se aproximavam
do assunto (que
na época não
passavam de meia
dúzia); fui
buscar em Kardec
relatos sobre
desenhos
mediúnicos;
entrevistei
médiuns in
loco etc. Quando
me deparei,
havia reunido um
grande volume de
informações
sobre o tema,
organizando-as
por meio de
perguntas e
respostas. Aí
decidi
compartilhar
isso com as
pessoas,
principalmente
os médiuns de
pintura,
surgindo assim a
ideia de um
livro.
Por que resolveu
escrever uma
obra sobre o
assunto?
Definitivamente,
eu insisti nessa
ideia depois de
ter notado, nas
diversas
apresentações de
pintura
mediúnica de que
participei em
São Paulo, que
as plateias nos
abordavam com
frequência,
questionando
sobre os
bastidores desse
trabalho. Fui
percebendo
também que os
médiuns de
pintura,
incluindo os
iniciantes, como
eu mesmo na
época,
literalmente “se
fechavam” em
dúvidas e
autoquestionamentos.
Entendi então
que um livro
sobre o tema
seria uma
confluência
benéfica de
ajuda para essas
pessoas.
Na sua opinião,
onde está a
causa que
envolve a
polêmica e os
desencontros em
torno da pintura
mediúnica?
A causa, muitas
vezes, está na
desinformação
sobre a função
primeira da
pintura
mediúnica, que é
o
desenvolvimento
mediúnico
propriamente
dito.
Infelizmente,
muitas pessoas
acreditam que
esse trabalho é
dependente de
apresentações
públicas para se
justificar e,
consequentemente,
ficam no ar
aquela obrigação
de vender as
obras e o que se
vai fazer com o
dinheiro
arrecadado. De
outro lado,
muitos
dirigentes de
casas espíritas,
críticos
ferrenhos da
fenomenologia
dessa mediunidade
e de seu
resultado
estético (ao
crivo exclusivo
do gosto
particular), se
esquecem de que
a pintura
mediúnica é um
excelente meio
de inclusão,
principalmente
na iniciação da
mediunidade em
jovens, como,
por exemplo, os
das mocidades
espíritas. Mas
esses preferem
ocultá-la a
inaugurar em
suas casas
espíritas um
curso de
desenvolvimento
mediúnico em
pintura. Já ouvi
também relatos
absurdos de
“espíritas” que
acreditam mesmo
que os médiuns
de pintura são
trabalhadores
obsidiados,
quando na
verdade falta
para esses
confrades mais
bom senso e
estudo. Como diz
um amigo meu:
"Quem não
estuda,
esturra!"
Na sua
experiência
mediúnica, como
sente a questão?
É péssimo saber
que ainda
estamos muito
longe de um
ideal de
discernimento do
tema, entre nós
espiritistas,
principalmente
quando se dá a
cara para bater,
vivendo na pele
a experiência de
ser um médium de
pintura. Mas só
o fato de termos
a abertura e a
oportunidade,
como nesta
entrevista, de
falar desses
paradigmas e
preconceitos e
comentá-los
também nas casas
espíritas, já
configura um
tipo de abertura
ao bate-papo
fraterno. É um
sinal também de
que essas
monoideias têm
seu prazo de
validade.
Acha que houve
evolução no
estudo e
compreensão da
temática?
Acredito mesmo
que essa
evolução será
definitivamente
ascendente
quando surgirem
nas casas
espíritas cursos
de
desenvolvimento
mediúnico na
pintura, assim
como eles já
existem há anos
na Federação
Espírita de São
Paulo, por
exemplo. Quando
nós espíritas
nos propusermos
às mudanças de
comportamento e
mentalidade
sobre o assunto,
acredito que
haverá mais
diálogo e
aproximação até
entre os
próprios médiuns
de pintura, no
objetivo comum
da conjugação de
ideias e ideais.
Quem sabe num
futuro próximo
não seja
possível
realizar até um
Simpósio
Nacional de
Médiuns de
Pintura? É
possível! Já
começamos a
plantar aqui as
sementinhas. Mas
não podemos
negligenciar
essa atual
realidade, onde
as incompreensões
sobre o tema
estão bastante
disseminadas.
Não há como
negar que essa
modalidade
mediúnica ainda
é a "prima
pobre" do
movimento
espírita
brasileiro.
Como o movimento
espírita tem-se
comportado
diante da
fenomenologia
produzida pelos
Espíritos de
forma geral e
diante do caso
específico da
pintura
mediúnica?
Penso que em sua
maioria os
espiritistas já
compreenderam
que a
fenomenologia
não é mais
necessária para
justificar a
existência da
espiritualidade,
e que isso
também não deva
ser acionado
propositadamente
como chamariz
para convencer o
público,
principalmente o
não-espírita.
Acredito que a
pintura
mediúnica deve
caminhar no
mesmo sentido,
não havendo mais
a necessidade,
por exemplo, de
se pintar com os
pés, ou dos
médiuns
permitirem que
os Espíritos (ou
eles mesmos)
assinem as
obras, muito
menos o
preciosismo de
se cronometrar o
tempo de
execução de uma
pintura. Isso
ficou para trás,
lá na década de
1980, quando
ainda havia a
necessidade de
divulgar a
pintura
mediúnica pelo
fenômeno, e
também como um
dos meios de
justificar a
presença dos
Espíritos. O que
necessitamos
hoje, na minha
humilde opinião,
é a unidade na
consciência do
estudo e do
aprimoramento
responsável
dessa
mediunidade.
Algo mais que
gostaria de
acrescentar?
Nenhum comentário:
Postar um comentário