terça-feira, 1 de maio de 2012

“Jesus é um grande desconhecido e sua mensagem ainda nos é ignorada”



Apaixonado por História Antiga e Medieval, o confrade e
jornalista pernambucano fala sobre suas pesquisas
acerca de Jesus e seus ensinamentos

Liszt Rangel de Miranda Coelho:
 
Liszt Rangel de Miranda Coelho (foto), jornalista e estudante de Psicologia, nasceu e reside em Recife-PE, e vem se especializando na pesquisa de civilizações antigas. Palestrante espírita há 18 anos, 7 livros publicados – dois deles mediúnicos e esgotados –, colaborou ativamente na fundação e manutenção de alguns centros espíritas de Olinda e Recife, entre eles o Grupo Espírita Júlio César e a Liga Espírita de Pernambuco. É atual dirigente da nascente Sociedade de Estudos Espíritas do Recife. 
De onde o gosto pelas civilizações antigas?   E  o  que, em sua opinião,
mais lhe acrescentou, em suas atividades profissionais e doutrinárias, esse gosto pela pesquisa do tema? 
Sempre fui apaixonado por História Antiga e Medieval. A minha formação em jornalismo me possibilitou transitar com questionamentos livres estas áreas do conhecimento. Quando me recordo dos livros do Sr. Ernesto Bozzano acerca dos povos primitivos e do extraordinário Hermínio de Miranda sobre o Cristianismo Primitivo, que comecei a ler quando ainda era um adolescente, não tenho como negar-lhes esta influência. Ao mesmo tempo, sou uma alma inquieta e questionadora. Quando, então, ligamos o ontem ao hoje, podemos até nos compreender melhor. 
Como situar a pesquisa pela cultura e civilizações antigas, com o pensamento de Jesus e com o próprio advento da Doutrina Espírita? 
Quando falamos de nossas pesquisas, podemos fazer conexões mais acertadas entre a História Antiga e a sociedade em que viveu Jesus, (ou como gosto de chamá-lo em seu nome original, Yehoshú'a) dominada por Roma. Jesus apesar de galileu foi influenciado pelo judaísmo e era praticante desta religião. O pensamento judaico por sua vez foi estruturado na mitologia e nas leis egípcias. Quando vou para a Medieval abre-se um leque de informações na estrutura não só do Cristianismo, mas também no nascimento do Protestantismo, e dos fatos que colaboraram para o surgimento da Ciência Positivista, da Revolução Francesa, do Imperialismo Napoleônico, fatos estes que antecederam à Doutrina Espírita. 
E por que a ligação entre a psicologia, a psiquiatria e as civilizações antigas? 
É possível com estas ciências passarmos a entender melhor o comportamento de certos líderes como Júlio César, Augusto, o perturbado Tibério, que por sinal foi o responsável por introduzir Calígula nas perversões sexuais sendo seu tutor, a inteligência político-administrativa e a sociopatia de Nero que soube aproveitar a propaganda contra os cristãos, que era antiga, para culpá-los pelo incêndio em Roma. E quando partimos para entender o discurso de Jesus, vemos um indivíduo altamente conectado com todos estes processos culturais que não só o seu povo sofreu, mas os gauleses, os bretões, os bárbaros, e quando estudo o Império romano sou levado a compreender o movimento dos cristãos. No entanto, faço um alerta: não é possível entender Jesus pela psicologia, sem antes descobrirmos o Jesus Histórico.
Como essa ligação influi no progresso do pensamento e do movimento espírita? 
Os Espíritos asseveraram em O Livro dos Espíritos "que o Espiritismo tomaria lugar nos conhecimentos humanos". Não disseram que tomaria o lugar de..., mas que também teria seu espaço (cuidado com a fanatização). O Homem que não conhece seu passado, não sabe o valor de seu presente e não pode vivê-lo em profundidade, bem como jamais compreenderá que também estamos fazendo a História. Como nos frisou bem o Sr. Kardec: "No dia em que a ciência mostrar que o Espiritismo está errado em um ponto, deixe a Doutrina neste ponto e siga com a ciência". O Espiritismo é progressista e não há como isolá-lo como uma seita por causa de nosso limite de compreensão. 
Como tem sentido o movimento espírita em relação a tais abordagens? 
Nós, que temos o Espiritismo como filosofia de vida, compreendemos que todo bom e sincero espírita, mesmo carregado de imperfeições, é um filósofo, quando não, o Espiritismo o torna ao menos um questionador. Estes espíritas compreendem muito bem o objetivo de nossas pesquisas, porém, como ainda temos os paradigmas intelectivos engessados pelas crenças católicas, outros acham que redescobrir Jesus é inútil, mas eu os compreendo: eles estão com medo, como também já tive um dia, de descobrir que o que acreditamos pode estar errado e mais: que alguns Espíritos podem ter colocado, em suas informações, opiniões pessoais e por isto estas colocações estão ultrapassadas pela Arqueologia e pela História. 
E as pesquisas sobre Jesus, historicamente considerado?  
Jesus é um grande desconhecido e sua mensagem ainda nos é ignorada. Recentemente, alguns exegetas ao lado de historiadores e críticos textuais revelaram, após 12 anos de pesquisas, que de tudo o que há nos Evangelhos como mensagem atribuída a Jesus e fatos que o envolveram, menos de 10% é realmente do homem de Nazaré. Então, como seguir um homem que desconhecemos e uma mensagem que em sua maior parte nunca foi dele? Não estaria aí também uma das causas para a dificuldade de vivenciarmos esta mensagem? 
Dessas pesquisas todas, a que conclusão você chega no estágio atual em que se encontram? 
Jesus, hoje em dia, não está mais nos círculos religiosos. Aliás, acredito que ele nunca esteve. O homem de Nazaré está sendo estudado em grandes Universidades e, aos que ainda hoje acreditam que ele não passou de uma lenda, tenho que dar-lhes esta notícia: "Ele existiu! Não foi o que disseram dele; às vezes foi menos, outras foi mais". Quando falei no Cairo, Egito, para 62 jovens estudantes acerca do Jesus Histórico, um deles me disse: "Nós sempre admiramos Jesus, mas nunca entendemos como ele foi usado para guerra. Este Jesus histórico que conhecemos hoje não está na Bíblia dos cristãos". 
Suas palestras, repletas de conhecimento e intensa motivação ao ouvinte, geram intenso interesse do público. Como tem sentido as principais necessidades e reações do ser humano diante dos desafios de crescimento intelecto-moral? 
Olhar para si mesmo, primeiro. Depois desconstruir muitas crenças centrais que nos prendem à culpa que por várias vezes nem tínhamos, mas deixamos que o outro ou que a religião nos desse. Ainda percebo uma grande procura por necessidade de paz íntima, mas a estamos procurando na autoajuda superficial, quando não na ideia fixa da obsessão ou nas ilusões de uma paz estática, sem dor a enfrentar, sem dívidas a pagar e com direito a todo gozo pleno. Plenitude é uma ilusão também! Viver é um risco. Dar certo ou dar errado, além de viver, é ter experiência e isto tem valor, nos faz diferentes! 
E a experiência com o MIEP? 
Foi uma ótima experiência. Aprendi muito no contato intelectivo ou simplesmente afetivo com outros companheiros. Aliás, tenho sentido falta de afeto no movimento, sinto sede de uma fraternidade, a mesma sonhada por Kardec, que, segundo ele, nos definiria como membros de uma família espírita. Sentimos fraternidade e atenção no MIEP. (1) 
Algo mais que gostaria de acrescentar? 
Sim, eu gostaria de dizer que é gratificante participar de uma edição de O Consolador. Desejo esclarecer que, quando procuramos por Jesus, também tivemos medo do que iríamos descobrir, mas a busca foi mais forte. Este homem vale a pena o esforço por procurá-lo. Estou concluindo que para reencontrá-lo precisamos ser menos cristãos e mais adeptos do seu pensamento livre. 

(1) MIEP - Movimento de Integração Espírita Paraibano.
Fonte: o texto etá em inteiro teor transcrito de O Consolador uma Revista Semanal de Divulgação da Doutrina Esírita.

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