Texto
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Eu nunca eduquei meus filhos...", eu disse. Ela fez uma pausa perplexa.
Deve ter pensado: "Mas que psicanalista é esse que não educa os seus
filhos?". "Nunca educou seus filhos?", perguntou. Respondi: "Não, nunca.
Eu só vivi com eles". Essa memória antiga saiu da sombra quando uma
jornalista, que preparava um artigo dirigido aos pais, me perguntou:
"Que conselho o senhor daria aos pais?". Respond i: "Nenhum. Não dou
conselhos. Apenas diria: a infância é muito curta. Muito mais cedo do
que se imagina os filhos crescerão e baterão as asas. Já não nos darão
ouvidos. Já não serão nossos. No curto tempo da infância há apenas uma
coisa a ser feita: viver com eles, viver gostoso com eles. Sem
currículo. A vida é o currículo. Vivendo juntos, pais e filhos aprendem.
A coisa mais importante a ser aprendida nada tem a ver com informações.
Conheço pessoas bem informadas que são idiotas perfeitos. O que se
ensina é o espaço manso e curioso que é criado pela relação lúdica entre
pais e filhos". Ensina-se um mundo! Vi, numa manhã de sábado, num
parquinho, uma cena triste: um pai levara o filho para brincar. Com a
mão esquerda empurrava o balanço. Com a mão direita segurava o jornal
que estava lendo... Em poucos anos, sua mão esquerda estará vazia. Em
compensação, ele terá duas mãos para segurar o jornal"
.
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