terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Trabalhos & trabalhadores

Por: LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

Tudo no mundo reclama entendimento...
Tudo na vida pede nosso esforço...

“Eis que o semeador saiu a semear...” - Jesus. (Mt., 13:3.)
 
O tema chama a atenção para dois posicionamentos importantes, que dizem respeito às nossas atitudes perante os ensinamentos de Jesus e as escolhas que fazemos, ainda que tenhamos pouco conhecimento deles. 

Uma delas lembra que os trabalhadores do mundo classificam-se em diferentes posições, mas que o campo é um só; a outra se reporta a uma frase de Jesus, dita aos discípulos, referindo-se ao Evangelho que Ele trazia. Disse o Mestre: “A semeadura é realmente grande, mas poucos os ceifeiros”¹, ou os colhedores, como entendemos, fazendo referência ao consolo que Seus ensinamentos traziam e a presença de poucos trabalhadores para recolherem essas benesses.

Em relação à primeira, incontáveis são os trabalhos ligados ao estômago, como incontáveis são os trabalhadores que permanecem ligados às emoções relativas ao sexo. Ambos têm fundamento sagrado, mas não podemos e não devemos permanecer parados em uma ou outra expressão, visto ser preciso levantar os olhos e ver acima das regiões nas quais estamos mergulhados.  Necessitamos pensar que existem zonas mais elevadas de onde poderemos colher valores novos, atendendo à nossa própria existência. 

Cada um de nós é um celeiro, no qual armazenamos a colheita que houvermos feito em nossas viagens reencarnatórias. É chegado o momento de limparmos esse celeiro e renová-lo com as benesses que houvermos colhido, frutos de semeadura cuidadosa. 

A semeadura é nossa, a colheita é nossa e o celeiro é dádiva divina, que precisamos cuidar.  Estamos falando do Espírito que é abrigado pelo corpo, corpo esse que permite a esse mesmo Espírito progredir, evoluir, adquirir valores morais perenes, para que se afaste cada vez mais das zonas inferiores da matéria grosseira e ganhe asas para voos mais altos, em direção a mundos mais elevados.

É a busca de iluminação espiritual, que cada um de nós necessitará, mais cedo ou mais tarde, porque o que é somente material já não nos satisfará mais. Só que essa busca vai requerer, também, de cada um de nós, a disposição firme, a perseverança para alcançar o objetivo e o fortalecimento da fé para que, independentemente dos obstáculos e tentações, possamos prosseguir sem medo.

Tudo no mundo reclama entendimento... Tudo na vida pede nosso esforço...
É neste ponto que a frase de Jesus, dita aos discípulos, necessita esclarecimento: existe o trabalho e existem os trabalhadores. Ainda que estes sejam diferentes, aquele é um só. Ainda que surjam trabalhadores em diferentes posições e atividades, o campo é um só. É a seara do Pai, porque tudo pertence a Ele; tudo emana d`Ele e pode ser transformado em nossas mãos, pela Sua Infinita Misericórdia, em benesses para nós e para os outros. Jesus é o Celeste Trabalhador, agindo em nós e a nosso favor, a fim de aprendermos a ser Seus instrumentos no cumprimento da obra divina em nós. 
 
São as Leis do Trabalho e do Progresso que regem o Universo. Todavia, há milhões de pessoas que se sentem dispensadas da glória de servir; criaturas essas que veem o trabalho como humilhação, como sofrimento e, por isso mesmo, buscam todo tipo de facilidades delituosas, desperdiçando as horas, voltadas tão-somente para a realização dos seus desejos e caprichos, imitando o poço d`água parada que se envenena por si próprio.
Infelizmente, temos, também, muitos aprendizes do Evangelho que almejam grandes realizações de um dia para outro. Diz Emmanuel que esses companheiros – e será que não somos desses? – querem “a coroa da santidade, o poder da cura, a glória do conhecimento superior, as edificações de grande alcance...”²

Entretanto, não basta desejar. Tudo na Natureza obedece a uma sequência da qual ninguém escapa, pois não é possível queimar etapas. 

Prossegue Emmanuel, dizendo que a árvore vitoriosa na colheita foi antes um arbusto frágil; que a catarata, capaz de movimentar turbinas poderosas, é um fio de água no nascedouro; e que a construção de um edifício não pode dispensar o serviço da pá e da picareta, do tijolo e da pedra...  Por essa razão, é de vital importância, para garantirmos o prosseguimento nos caminhos da evolução, que abracemos os deveres humildes e simples, por mais árduos que possam ser, pois é através do amor que lhes dedicarmos que atingiremos, no devido tempo, o ideal de progresso que tanto almejamos. Após as pequenas, as grandes tarefas virão espontaneamente ao nosso encontro.

Nenhum trabalhador do campo Divino carrega fardo maior do que aquele que ele pode suportar, embora, tantas vezes, iludido, acredite poder fazê-lo. Fardo pesado exige ombros fortes. Tarefa de grande responsabilidade moral exige preparação adequada, crescimento e desprendimento, em benefício do próximo.

O apóstolo Paulo, na Segunda Carta a Timóteo, capítulo 2, versículo 15, deixa sábias e justas palavras para que acordemos diante dos convites ao trabalho que Jesus nos faz. Diz ele: “Procura apresentar-te a Deus aprovado como o obreiro que não tem de que se envergonhar”.

O mundo é departamento da Casa Divina. A cátedra para quem fala e a enxada para quem planta não são elementos de divisão humilhante, mas, tão-somente, degraus para cooperadores diferentes. O caminho para a elevação, este sim, é igual para todos. Solo ou livros são somente instrumentos diferentes, mas a essência do serviço é a mesma: apresentar-se diante do Pai como obreiro aprovado na tarefa que lhe foi confiada.

Jesus trouxe o Evangelho para que permanecesse no mundo com a finalidade de enriquecer o espírito humano, mas são tão poucas as criaturas dispostas a trabalhar na sua conquista, enfrentando dificuldades e surpresas que surgem no meio da jornada, com devotamento e fidelidade ao Cristo. 

Se de um lado temos a escassez de trabalhadores comprometidos com o Evangelho, de outro, apresenta-se uma multidão de desesperados, aflitos e iludidos, que continuam atravessando séculos sem nada realizar para si mesmos e para os semelhantes. Com isso, esses poucos tarefeiros veem-se onerados em virtude de tantos famintos de pão espiritual. Mas é preciso observar que sem a determinação de buscar, por si próprios, o alimento da vida eterna, ficam aguardando, que chegue até eles, o trigo já beneficiado e o pão já pronto.

Lembra Emmanuel que “esse quadro persistirá na Terra, até que bons consumidores aprendam a ser bons ceifeiros”.³

Jesus é o Semeador Divino por excelência e Suas palavras, sementeira pura e profunda.   Nossos corações também são terrenos a serem cultivados.  Se são pedregosos, cheios de espinhos ou solo fértil, onde caem as sementes amorosas do Mestre amigo, mesmo que ainda não O compreendamos em Sua plenitude, diferentemente dos homens, Ele acredita na nossa capacidade de nos transformarmos, e transformar o que existe ao nosso redor. 
 
Essa capacidade de olhar mais além, de perceber a centelha divina que existe em nós é que faz com que o Excelso Amigo nos aguarde. Ele sabe que nos reergueremos de onde estivermos, com dificuldades, lutas, mas ultrapassando obstáculos com vistas no futuro.

Se ontem semeamos e hoje colhemos, e se desejamos colheita farta e de qualidade no futuro, precisamos aprender a escolher melhor e a recolher essas benesses que emanam de Deus para todos. Evidentemente, é preciso trabalhar para isso, afinal, não estamos trabalhando para nós mesmos?
 
Bibliografia consultada:
1 – Mateus, 9:37.
2 – Emmanuel (Espírito). Fonte Viva – [psicografado por] F. C. Xavier, 31ª ed., FEB – RIO/RJ – 2005 - lição 118.
3 – Emmanuel (Espírito). Pão Nosso – [psicografado por] F. C. Xavier, 17ª ed., FEB – RIO/RJ – 1996 – lição 148.

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