Do
belo belo
de Soares
Feitosa
Para
Manuel Bandeira,
inventor de outros belos.
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É
mentira dos paisagistas,
quando dizem:
o
belo deve ser o grande canion;
as paisagens da tundra gelada;
os coelhos, os alces da planície;
um olho distante,
a mata
em flor.
Belo
também deve ser à tarde rubra
(que eu mesmo cantei,
dos meus paredões, Ibiapaba,
a serra vasta),
o sol rasgando a montanha,
quando s’escondia
pro outro dia...
Também
belo, o sorriso
da mulher
(ou do homem, conforme)
amada, amado,
que o amor é belo
e ninguém contesta.
Nenhuma
beleza maior,
porém, do que a dos dois-dentes,
dois,
podem ser os de cima,
podem ser os de baixo,
quatro;
também pode ser assim, quatro,
ensaiados de um sério para um sorriso,
os dentes — ou somente o lugar deles, dentes;
uma gengiva, melhor assim, só a gengiva,
banguela, ao nascedoiro do que há de vir —
a criança, os dois meses
e o seio pleno,
derramado,
pingado, apojado, cheio:
—
meu filho.
A
profunda paz de fêmea-mãe,
que a voz e os olhos se transmudam,
se regaçam de multi,
multitons de paraíso — deve ser igual
—,
e os cherubins
abaixam, trêmulos, as espadas, deixam-na entrar...
que lá,
por certo, e o sorriso,
um dia fora assim mesmo:
—
mãe,
sou eu, amor.
Salvador,
tarde quente, 27.10.1995
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Notas sobre O belo belo:
1. Manuel Bandeira: dois poemas com o
mesmo título Belo Belo, nos livros Lira dos Cinqüent'anos
e Belo Belo (in Poesia Completa e Prosa, Aguilar, 1ª
ed., págs. 307 e 329).
2. Sol rasgando a montanha: do poema
Antífona.
3. A mata em flor: Assum Preto, de Humberto
Teixeira e Gonzaga.
4. Cherubins: "Iahweh baniu
o homem e colocou, diante do jardim do Éden, os querubins
e a chama da espada fulgurante para guardar o caminho da
árvore da vida." (Gênesis, 3,24)
Fonte: site Jornal
de Poesia - de Soares Feitosa
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