terça-feira, 21 de maio de 2013

O OUVIR QUE ACALMA O CORAÇÃO HUMANO

pessoas dialogando: o ouvir

O ouvir que acalma o coração humano


Por: Nieves García
Alguém da minha família um dia conheceu Ramón Vázquez, um vendedor ambulante de batatas fritas, que tem sempre muita gente no ponto de venda, não só a comprar como a contar algo da sua vida, a pedir um conselho… Ramón Vásquez só estudou até à 4ª série e de psicologia não sabe nada. Na sua terra natal e nos arredores, seu local das batatas é famoso porque as pessoas sempre saem de lá feliz.
Eu também fui ao local das “Batatas Vásquez” para conhecer este homem tão bom. Ao falar com ele, perguntei-lhe como é que vinha tanta gente ver-lhe e ele, sorrindo, disse-me: “As pessoas só precisam ser ouvidas”. “Certo”, disse-lhe, “mas, como é que aprendeu?”. Olhou para trás e assinalando com carinho uma mulher grisalha que pesava batatas, disse-me: “Foi ela que me ensinou há muitos anos. É a minha mulher e adoro-a e… é surda-muda”. Ramón aprendeu a ouvir os outros graças ao amor a uma mulher que não pode falar. Descobriu que o ser humano, todo ele, é uma mensagem viva.
Dizer ser humano é o mesmo que dizer “ser que comunica e se expressa”. Tudo nele se mostra ao outro, porque para que haja comunicação real tem que haver a presença de um emissor e… de um receptor. No homem e na mulher, tudo neles é a expressão deles mesmos. Os seus olhos, o seu corpo, os seus movimentos… expressam-nos como seres inteligentes, livres, por vezes angustiados, cheios de sonhos e projetos, criativos, por vezes cruéis e muitas vezes inseguros.
O que acontece quando uma mensagem não é ouvida? No nosso mundo há muito ruído, muitas palavras, pouco silêncio e menos ainda escuta. Nunca como agora os meios de comunicação foram tão efetivos e variados e nunca como agora, paradoxalmente, o ser humano, pelo menos na sociedade ocidental, passou por tantos problemas de solidão e isolamento. Falta uma escuta real.
Os índices de violência crescem de forma alarmante: a violência contra a mulher, contra o homem, contra as crianças. Calcula-se que já chega a 800.000 o número de crianças obrigadas a serem soldados e treinados para matar. O cidadão comum, que só participa na política quando chegam as eleições e é constantemente bombardeado através da televisão e imprensa com notícias de morte e violência de uns contra outros, sente-se imponente perante esta situação. Gostaria de “fazer alguma coisa” mas o quê?
A violência é como a água que desce por uma montanha. Começa como um pequeno riacho, mas à medida que vai encontrando mais água, vai tomando mais corpo, até ser um rio cuja força de arraste é imensa. A torrente é mais fácil de parar quando se coloca um dique no momento do nascimento. O mesmo acontece com a violência. Quantos conflitos que acabaram em sangue não teriam ocorrido se tivesse havido um esforço real para começar um primeiro diálogo! E para haver diálogo temos que educar o ser humano a ter uma atitude mais simples: temos que aprender a ouvir. Este dique pode ser pequeno… mas pode evitar cataratas de dor.
E isto sim pode fazer qualquer cidadão comum, não? Quando alguém é realmente ouvido, serena. Assim como dizem que a música amansa as feras, ouvir apazigua o coração humano, início de qualquer surto de violência. Temos que aprender a ouvir.
Como aprender a ouvir os outros? Primeiro é querer ouvir, mas mesmo tendo este desejo, há conselhos simples que se podem dar:
  • Acreditar que o outro pode dizer-nos algo que nos interesse e nos interesse muito. “A minha existência sem ti está vazia; fica comigo, fala-me sem palavras, fala-me sendo simplesmente tu”.
  • Procurar o outro , dar-lhe tempo, e tempo de qualidade. Dar-lhe espaço na agenda do nosso coração e depois transmitir-lhe com serenidade esta mensagem: “Tenho todo o tempo do Mundo para ti; não há pressas, eu quero estar contigo ”. Talvez não haja necessidade em dizer: a postura, os gestos do rosto; tudo lhe dá a entender que estamos felizes por ter tempo para ele.
  • Olhar o outro com gratidão sincera. É um olhar que recebe sem exigir nada, para que possamos fazer parte da sua vida nesse momento. É um olhar que não julga e que diz “digas-me o que disseres, para mim é importante porque é importante pra ti”.
  • Perguntar com interesse sincero, chegando a sentir pela resposta muito mais que curiosidade, mas uma verdadeira preocupação. Perguntar com carinho e inteligência, vivendo interiormente o seu drama, a sua alegria, o seu entusiasmo ou o seu lamento.
  • Dar confiança e ajudar para que o outro expresse os seus sentimentos, sem vergonha e com a certeza de que não vai ser julgado: expressar o medo, a insegurança, o entusiamo secreto… Quantas vezes esses sentimentos alimentam a alma como um balão de gás que chega a explodir em forma de agressão quase inconsciente!
  • Valorizar o outro na sua totalidade: a sua pessoa, as suas respostas, as suas ideias fantásticas, a sua forma diferente de ver a vida, as suas decisões, os seus gostos originais… Quem assim valorizamos e admiramos nunca será nosso inimigo. A admiração nasce de um olhar limpo que descobre o bom, o belo, o humano no outro e é capaz de… se assombrar
  • Agradecer , agradecer, agradecer a oportunidade de ouvir, de nos enriquecermos com o que disse. E fazê-lo com o coração. O agradecimento consegue-se pela humildade. Só quem se conhece é capaz de admirar o outro e valorizá-lo na sua justa medida.
Por que é que não começamos a ouvir já hoje e agora quem divide conosco o caminho da vida? Talvez ao nosso marido, homem de poucas palavras; ou à nossa mulher, que não para de falar; ou o nosso filho adolescente, que sente que é odiado pelo mundo inteiro… Se ouvirmos um pouco hoje, talvez dê coragem ao outro para optar também por ouvir.
Quando se ouve o outro, dá-se o primeiro passo para amar; e quando se ama alguém, com que gosto o ouvimos!

Fonte: www. mujernueva.org
 
Publicado no Portal da Família em 11/05/2013

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