sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Aziz Santos sugere que o Bradesco esteve por trás da cassação de Jackson Lago


Aziz Santos: artigo polêmico
Em contundente artigo publicado nas redes sociais e na edição desta quinta-feira (17), do Jornal Pequeno, o ex-secretário de Planejamento, Aziz Santos, faz disparos diretos ao grupo Sarney e vários outros indiretos ao que denomina de “gerações que hoje se apresentam como portadoras das mudanças”.
O pedetista licenciado faz ainda grandes e merecidos elogios à biografia e à memória do governador Jackson Lago, “um exemplo a ser seguido no campo ético e político”, segundo as palavras de Aziz.
Entretanto, é um trecho do artigo em que o ex-chefe da Seplan sugere o envolvimento do Bradesco no processo que culimou na cassação do saudoso Jackson Lago, a grande, digamos, novidade nas argumentações de Aziz Santos.

Ele relembra que a transferência dos recursos públicos do Bradesco para o Banco do Brasil, no início da gestão, feriu interesses poderosíssimos, e revela ainda que a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teria pedido, em nome do presidente Lula, para que Jackson repensasse a decisão da transferência dos recursos do Bradesco.

“A Diretoria do Bradesco para cá se deslocou e o Governador foi obrigado a expor os seus argumentos, subsidiado por pesquisa em que a quase totalidade dos servidores indicava a necessidade de que tal transferência acontecesse. Recordo-me de reunião reservada da então Ministra-Chefe da Casa Civil, que, em nome do Presidente da República, pediu ao Governador Jackson que repensasse a decisão da transferência dos recursos do Bradesco para o Banco do Brasil, levando-o a proferir a frase lapidar: “Ministra, eu fui eleito para defender os interesses da população do Maranhão!”, afirmou.

Assim que o governo Jackson Lago foi catapultado do poder pelo TSE, em 2009, Aziz Santos concedeu uma entrevista exclusiva ao blog do Robert Lobato onde afirmou que muita coisa sobre os bastidores da cassação ainda viria à tona. E Aziz sabe muito…

A seguir a íntegra do artigo de Aziz Santos:

O Estado da Falsidade
Não há dúvida que a severidade de tratamento dado ao Maranhão pelo Governo Federal inicia-se ali. O Projeto Rio Anil (PAC Rio Anil) ilustra bem. Enquanto a contrapartida dos recursos do PAC era de até 20% para os Estados mais pobres, o Maranhão teve que suportar uma contrapartida de 50%, metade-metade, para realizar o Projeto. E mais: toda a obra realizada até a cassação foi quase integralmente garantida com recursos do tesouro estadual, uma vez que a parte do Governo Federal era transferida a passos lentíssimos. É fácil deduzir o papel e a influência do Governo Federal nos desdobramentos políticos posteriores.

O ano de 2013 chega trazendo esperanças e desconfianças ao mesmo tempo. O 13 é um número da cabala. Em alguns lugares não é nem pronunciado: prefere-se dizer ano 12 mais um. Para outros é um número mágico. Carrega a força dos sonhos impossíveis.

Em fins de 2012 o polêmico historiador Villa, em texto provocativo, intitulado “Maranhão, O Estado do Medo”, colocou lenha na fogueira, antecipando quão enigmáticos serão o ano em curso e demais, ao afirmar que o Maranhão não faz parte do Brasil, razão que encontra para justificar o poder descomunal de suas oligarquias tradicionais, lideradas pelo senador José Sarney, sua família e grupos de interesse nacionais e locais, responsáveis pela façanha de recriação, em pleno século XXI, do sistema de capitanias hereditárias, iniciadas no período colonial, precisamente no reinado de D. João III, em 1534.

Pelo que se pode deduzir do texto do professor da Universidade Federal de São Carlos, cujas ideias centrais são também compartilhadas por outros analistas conterrâneos, teria sido inculcado no imaginário maranhense um sentimento de aceitação resignada do processo de aprofundamento do domínio político oligárquico, que acabou conduzindo a mentalidade inclusiva a um estágio de servidão voluntária, fenômeno que teria levado o Brasil a esquecer do Maranhão, reforçado pelo posicionamento das elites locais, que, mesmo aquelas que não obtêm vantagens diretas, permanecem em uma espécie de eterno e respeitoso silêncio frente à dura e desafiadora realidade estadual, na qual se destaca a exasperante questão política. Como nos regimes fechados e plutocráticos, os que têm juízo são os primeiros a obedecer; no torrão timbira essa regra se amplia, virando medo cego das flechas voadoras que poderão levar ao desamparo, real ou figurado, dos insurgentes.

Inspirado na magia do 13 e nas circunstâncias referidas, vinculo-me à tese de que o medo atávico que permeia a formação social maranhense tem na manipulação das consciências o seu principal fator de reforço e propagação. Medo e falsidade andando juntos significam uma carga genética de alto poder destrutivo, sobretudo pelos impactos negativos nos ainda precários vínculos de sociabilidade humana entre maranhenses, impeditivos do seu desenvolvimento político e civilizacional.

Teço essas considerações como pano de fundo para homenagear a memória de Jackson Lago, neste início de ano, que será o quarto após o golpe que levou à sua cassação; ano este que se apresenta fortemente emblemático, sobretudo pela inexorabilidade da passagem da ampulheta do tempo, que coloca nos ombros das gerações atuais principalmente, sejam maduras e juvenis, a responsabilidade histórica de (re) inventar o Maranhão.

Impossível deixar de perceber que o período das capitanias hereditárias ensaia os primeiros passos rumo ao ocaso e, em paralelo, que é possível vislumbrar novos túneis do tempo se abrindo e em processo de gestação no território, que se espera sejam capazes de colocar o Maranhão em definitivo no século XXI.

Por mais que adversários poderosos afirmem o contrário, Jackson foi um maranhense que colocou a sua vida de líder político a serviço de várias gerações, inclusive das muitas que hoje se apresentam como portadoras das mudanças, resistindo ao medo e à falsidade. Tirar o Maranhão do extravio significa passar a limpo as falsidades que turvam a memória maranhense.

Acredito que se combate o medo com o primado da verdade. O compromisso com a desmistificação da realidade maranhense é um dever cívico que ultrapassa interesses partidários e de grupos. A condição de líder e símbolo da resistência política no Maranhão faz de Jackson Lago uma biografia indispensável para a construção do novo momento histórico. No momento em que um outro cenário político e cultural tende a se materializar, mesmo que não se materialize em curto prazo, seja para o bem ou para o mal, assoma, como dever histórico, a necessidade de que se clarifiquem as várias circunstâncias que levaram à queda do governo Jackson, que tinha como missão, entre outros desideratos, reduzir a longevidade do próprio poder oligárquico local.

O imperativo do respeito à verdade exige que se revele às atuais e novas gerações a sórdida manipulação de consciências adotada pelo poder dominante, responsável pela cassação do seu mandato como chefe do poder executivo, fundamental para a reconciliação da biografia do líder político com os seus concidadãos-eleitores, os quais, por toda vida, viram em Jackson um exemplo a ser seguido no campo ético e político.

O infortúnio de Jackson foi não dispor de armas e munições capazes de derrotar os seus ferozes e perigosos inimigos. O dilema de Jackson foi não contar com quadros que, mesmo em desvantagens flagrantes, não foram suficientemente engenhosos e inteligentes a ponto de promover dúvidas e incertezas entre as hostes inimigas e adversárias. O drama de Jackson foi não ter tido condições de vencer o medo e a mentira que estavam impregnados na mentalidade de ampla maioria dos maranhenses, que se calaram diante da infâmia e da ignomínia.

Além de ter enfrentado a força e a fúria das oligarquias e seus grupos de interesse, daqui e alhures, Jackson e seus imperativos éticos bateram de frente com grupos econômicos poderosos, com interesses claros e adredemente definidos para o contexto local. A transferência dos recursos públicos do Bradesco para o Banco do Brasil, no início da gestão, é um bom exemplo. Tratava-se do maior conglomerado financeiro privado da América Latina, um dos acionistas da Vale, que aqui operava em flagrante descumprimento da Constituição do País, que exige a gestão dos recursos públicos em bancos públicos. A Diretoria do Bradesco para cá se deslocou e o Governador foi obrigado a expor os seus argumentos, subsidiado por pesquisa em que a quase totalidade dos servidores indicava a necessidade de que tal transferência acontecesse. Recordo-me de reunião reservada da então Ministra-Chefe da Casa Civil, que, em nome do Presidente da República, pediu ao Governador Jackson que repensasse a decisão da transferência dos recursos do Bradesco para o Banco do Brasil, levando-o a proferir a frase lapidar: “Ministra, eu fui eleito para defender os interesses da população do Maranhão!”.

Não há dúvida que a severidade de tratamento dado ao Maranhão pelo Governo Federal inicia-se ali. O Projeto Rio Anil (PAC Rio Anil) ilustra bem. Enquanto a contrapartida dos recursos do PAC era de até 20% para os Estados mais pobres, o Maranhão teve que suportar uma contrapartida de 50%, metade-metade, para realizar o Projeto. E mais: toda a obra realizada até a cassação foi quase integralmente garantida com recursos do tesouro estadual, uma vez que a parte do Governo Federal era transferida a passos lentíssimos. É fácil deduzir o papel e a influência do Governo Federal nos desdobramentos políticos posteriores.

O ano que se inicia vai exigir atenção redobrada e sobretudo atitudes firmes e corajosas. Precisa-se renunciar ao estatuto da servidão voluntária. Necessita-se abominar a praga de Vieira, que, em seu famoso Sermão da Quinta Dominga da Quaresma, em 1654, afirmava que no Maranhão não há verdade e por isso até o sol e os céus mentem.

Não creio que o Brasil tenha esquecido do Maranhão e que, por isso mesmo, a sua libertação esteja condicionada a esse reconhecimento. Na verdade, a única forma de se incorporar o Maranhão ao Brasil começa aqui e dependerá daqui.

A construção de novos vínculos telúricos e antropológicos, necessários à ressignificação do sentimento de pertencimento do nosso povo à sua cultura, é o caminho mais eficaz para a reinvenção maranhense, esperada, desejada e sonhada por todos.

Não é demais lembrar que no Maranhão a República permanece como uma dualidade que não termina: nunca se implanta e o domínio dos coronéis e oligarcas sempre permanece vivo. No período vitorinista, o Maranhão era conhecido no Brasil como a Universidade da Fraude.

A herança é muito pesada. Muito mais para o mal do que para o bem. Muita sorte com o 13 ou inspiração com o 12 mais um.
Abdelaziz Aboud Santos

Reproduzido do Blog de Robert Lobato

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