Se há alguma coisa importante neste mundo, dizia o marido, é
uma empregada de confiança.
A mulher concordava, satisfeita: realmente, a empregada deles
era de confiança absoluta. Até as compras fazia tudo direitinho. Tão de
confiança que eles não hesitavam em
deixar –lhe a casa, quando viajavam.
Uma vez resolveram passar um fim de semana na praia. Como de
costume a empregada ficaria. Nunca saía nos fins de semana, a moça. Empregada perfeita.
Foram. Quando já estavam quase chegando à orla marítima, ele
se deu conta: tinham esquecido a chave da casa da praia. Não havia outro
remédio. Tinham de voltar. Voltaram.
Quando abriram a porta do apartamento, quase desmaiaram: o
living estava cheio de gente, todo mundo dançando no meio de uma algazarra
infernal. Quando ele conseguiu se recuperar da
estupefação procurou a empregada:
_ Mas que é isso, Elcina? Enlouqueceu?
Aí um simpático mulato interveio: que é isso, meu patrão, a
moça não enlouqueceu coisa nenhuma, estamos apenas nos divertindo, o senhor não quer dançar também? Isso mesmo,
gritava o pessoal, dancem com a gente.
O marido e a mulher hesitaram um pouco; depois_ por que não,
afinal a gente tem de experimentar de tudo na vida_ aderiram à festa. Dançaram,
beberam, riram. Ao final da noite concordavam com o mulato: nunca tinham se
divertido tanto.
No dia seguinte despediram a empregada.
Retirado de Contos Reunidos, Moacyr Scliar. Ministério da Educação
– PNBEM 2008
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