domingo, 11 de novembro de 2012

O DIA SEGUINTE



Se há alguma coisa importante neste mundo, dizia o marido, é uma empregada de confiança. 

A mulher concordava, satisfeita: realmente, a empregada deles era de confiança absoluta. Até as compras fazia tudo direitinho. Tão de confiança que eles  não hesitavam em deixar –lhe a casa, quando viajavam.

Uma vez resolveram passar um fim de semana na praia. Como de costume a empregada ficaria. Nunca saía nos fins de semana, a moça. Empregada perfeita.

Foram. Quando já estavam quase chegando à orla marítima, ele se deu conta: tinham esquecido a chave da casa da praia. Não havia outro remédio. Tinham de voltar. Voltaram.

Quando abriram a porta do apartamento, quase desmaiaram: o living estava cheio de gente, todo mundo dançando no meio de uma algazarra infernal. Quando ele conseguiu se recuperar da  estupefação procurou a empregada:  _ Mas que é isso, Elcina? Enlouqueceu?

Aí um simpático mulato interveio: que é isso, meu patrão, a moça não enlouqueceu coisa nenhuma, estamos apenas nos divertindo, o  senhor não quer dançar também? Isso mesmo, gritava o pessoal, dancem com a gente.

O marido e a mulher hesitaram um pouco; depois_ por que não, afinal a gente tem de experimentar de tudo na vida_ aderiram à festa. Dançaram, beberam, riram. Ao final da noite concordavam com o mulato: nunca tinham se divertido tanto. 

No dia seguinte despediram a empregada.

Retirado de Contos Reunidos, Moacyr Scliar. Ministério da Educação – PNBEM 2008

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