sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O IDOSO E RELAÇÃO FAMILIAR

Como cuidar, respeitar e amar
“(...)  Mas, se  alguém  não  tem cuidado dos seus, e principalmente  dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.”  – Paulo (Timóteo, 5:8.)
Mudar a sociedade não é fácil, mas mudar a forma como tratamos as pessoas à nossa volta é algo que está inteiramente ao nosso alcance.

A Drª. Roberta da Silva, CRMRS 27659 - Médica especializada em Geriatria, explica que na cultura oriental o idoso é o membro da família detentor de sabedoria e merecedor de profundo respeito. Assim, conselhos são solicitados a ele, que possui não somente uma soma de anos, mas valores, experiências e sabedoria que guiam os mais jovens nos desafios e caminhos que a vida proporciona. Parece-lhes simples, dessa forma, auxiliados pelos mais velhos, conhecer de antemão o caminho que deverá ser percorrido, os alertas aos quais devem estar atentos, as adversidades que vão encontrar. E o mais importante: são-lhe gratos. Dignificam o idoso até seus últimos momentos.   
    
E nós, o que aprendemos com os nossos? Servem-nos de conselheiros? Respeitamo-los como merecem? A  Dra. Roberta Silva acredita que não, uma vez que a nossa sociedade, a julgar por tudo aquilo que podemos observar, tem outro olhar diante da terceira idade: os idosos muitas vezes acabam ocupando um “status” de improdutivos. Não trabalham mais, como se o mercado de trabalho lhes oferecesse chances dignas para produzir. 
 
Quantas vezes já ouvimos: “o vovô está caducando...” ou “no seu tempo era diferente! Isso já era”. O conflito de gerações nos lares, mudanças de hábitos, de tecnologias, não podem existir em detrimento do respeito, dos bons costumes e dos sentimentos.  
 
Popularmente diz-se que o ser humano aprende com a dor. Diferente dos orientais, a maioria de nós despreza tamanha oferta de saber. Prefere arriscar-se mais, correr mais, a escutar preciosas lições. Fica claro, neste ritmo desenfreado, que preferimos culpar nosso estilo de vida, a correria do dia-a-dia e os afazeres para ganhar a vida, a culpar-nos por tamanha indiferença. 
 
Hoje, o que se busca na Geriatria é o envelhecimento com qualidade de vida: prevenção de doenças, avanços nos tratamentos, mas ainda não existe medicação para curar o mal da solidão e do abandono que aflige mais de 15% dessa população.

Com certeza chegou a hora de educar-nos e a nossos filhos. Mostrar-lhes que aquelas rugas não assinalam apenas dias e dias vividos, mas são as marcas dos trabalhos que tiveram para que hoje estivéssemos aqui em razoáveis condições de cultura, conforto e bem-estar.  

Aconchego doméstico só o lar tem condição de oferecer 
Há que compreender que muitas vezes o andar mais vagaroso, as mãos trêmulas e sua voz com tons mais baixos não significam fraqueza, mas sinais que indicam que nessa ocasião precisam ser mais abraçados do que podem abraçar; de que já perderam muito e muitas pessoas que ainda lhes são caras, que por isso a família talvez seja tudo aquilo que eles ainda têm, e isso significa muito.

Quando a família opta pelo internamento do idoso em asilos, sua expectativa de vida decresce de forma significativa, por melhores que sejam as instalações e por mais bem cuidados que sejam por profissionais competentes. Afinal, aconchego doméstico só mesmo os lares têm condição de oferecer, mas oferecem? 
 
Há que ter capacidade de entender que os idosos ainda podem ser úteis, talvez não mais com força ou oferecendo quantias monetárias, mas com conselhos, com afetos aos demais membros da família, em especial com as crianças, cuidando das pequenas coisas que podem fazer nos lares.  É difícil sensibilizar pessoas. Mas apenas pense como gostaria de ser tratado por seus filhos na sua terceira idade. Não esqueça que o seu exemplo está sendo observado e será repetido por eles. 
 
Na década de 40 os idosos representavam somente 0,7% da população brasileira e hoje este grupo representa 2,5%. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano 2025, eles chegarão a 34 milhões, colocando o nosso país em 6º lugar no mundo em população idosa.  Fazem-se, portanto, necessárias as devidas providências para atendimento dessa parte bastante expressiva da sociedade, e aí a família tem um papel muito importante. 
 
Como está atualmente o relacionamento dos membros mais jovens com os parentes que já estão na terceira idade e o que se pode fazer para melhorar essa convivência? 
 
O que significa ter um idoso morando com os demais membros da família?
De um modo geral, a presença do idoso na família vai resultar em algumas ingerências em especial na educação das crianças, o que obviamente é missão dos pais. Mas não há problema algum que não possa ser contornado quando existe respeito e amor pelos mais velhos. Os familiares não podem jamais perder de vista que os idosos já tiveram a sua fase de trabalho e de provedores. Portanto, a Terceira Idade não é uma fase para se conquistar o afeto da família e sim usufruir de algo já construído. Por isso, é importante, para os mais jovens, construírem desde já a harmonia familiar. Nada impede que os idosos possam fazer alguns serviços caseiros mais leves, mas não pode existir abuso.  
  
A piedade filial não pode ser negligenciada 
Os Benfeitores Espirituais revelaram a Kardec que o limite do trabalho é o das forças, deixando Deus, a esse respeito, inteiramente livre o homem, e acentuaram que ele tem o direito de repousar na velhice, não sendo a nada obrigado, e, se algum encargo tiver, que seja esse de acordo com suas possibilidades físicas.

Ensina o caroável Mestre lionês que a piedade filial não pode ser negligenciada, uma vez que se encontra implícita no mandamento: “Honrai a vosso pai e a vossa mãe”.  Honrá-los, outra coisa não é senão “respeitá-los, assisti-los nas necessidades, proporcionar-lhes repouso na velhice, cercá-los de cuidados como eles fizeram conosco, na infância”. 

 “Sobretudo para com os pais sem recursos” – continua Kardec – “é que se demonstra a verdadeira piedade filial. Obedecem a esse man­damento os que julgam fazer grande coisa porque dão a seus pais o estritamente necessário para não morrerem de fome, enquanto eles de nada se privam, atirando-os para os cômodos mais ínfimos da casa apenas por não os deixarem na rua, reservando para si o que há de melhor, de mais confortável?  Ainda bem quando não o fazem de má vontade e não os obrigam a comprar caro o que lhes resta a viver, descarregando sobre eles o peso do governo da casa! Será então aos pais velhos e fracos que cabe servir a filhos jovens e fortes? Ter-lhes-á a mãe vendido o leite, quando os amamentava? Contou porventura suas vigílias, quando eles es­tavam doentes, os passos que deram para lhes obter o de que necessitavam? Não. Os filhos não devem a seus pais pobres só o estritamente necessário: devem-lhes também, na medida do que puderem, os pequenos nadas, os supér­fluos, as solicitudes, os cuidados amáveis, que são apenas o juro do que receberam, o pagamento de uma dívida sa­grada. Unicamente essa é a piedade filial grata a Deus”.

Dentro da alçada da piedade filial, a Drª. Roberta Silva ainda acrescenta:
“(...) Uma boa iniciativa para se viver melhor numa família com a presença de um idoso é ensinar as crianças a respeitá-lo e valorizá-lo, contornando com amor e gentileza os muitos lapsos de memória e procurando compreender, igualmente, os discursos repetitivos e a demora do raciocínio da parte dele. Há que se ter sempre na lembrança que a idade avançada nem sempre é sinônimo de ostracismo e de inatividade. No Velho Testamento, existe um salmo que diz: ‘Na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes’ .”  

O envelhecimento faz parte do curso natural da vida 
A Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo e Professora da Universidade Estadual de Londrina, Verônica Bender Haydu, escreveu um artigo na Tribuna do Vale do Paranapanema, nº 1179, intitulado: ‘Cuidar, respeitar, amar’, no qual ela mostra aspecto importante para a vida das pessoas, e no que se refere aos idosos, afirmou: ‘Não vou especificar qual a idade que define a velhice, pois isto é muito relativo, podendo-se considerar que ela começa aos 50, 60 ou 70 anos. Neste texto, vou escrever sobre as pessoas comuns, aquelas que nos rodeiam, como nossos avós, pais, tios, sogro e sogra. Vou escrever sobre o idoso que está à nossa volta e para o qual podemos ‘fazer a diferença’.

O envelhecimento faz parte do curso natural da vida e acontecerá a todos aqueles que não morrerem antes de atingirem idades mais avançadas. Viver é envelhecer... Com a maturidade, adquirimos conhecimento, sensibilidade para relacionamentos afetivos e uma forte tendência para recorrer às experiências anteriores, e, quando temos um bom relacionamento interpessoal, adquirimos confiança e segurança. Por outro lado, com o envelhecimento de nosso corpo, perdemos capacidade física; ficamos preocupados com as doenças, que passam a ocorrer com frequência cada vez maior; ficamos com medo de morrer, pois vemos pessoas do nosso convívio, como amigos e familiares morrendo; e somos substituídos por pessoas mais jovens em nosso trabalho ou emprego.  Além disso, as pessoas que nos rodeiam passam a nos designar ‘velhos’, muitas vezes de forma pejorativa e maldosa. Não raro, vemos pessoas idosas sendo submetidas a maus tratos que não são práticas presentes apenas em nossa cultura. Este é um problema global que recebeu atenção da Organização Mundial de Saúde, que na Declaração de Toronto para a Prevenção Global de Maus Tratos às Pessoas Idosas definiu maus tratos ao idoso “como qualquer ato isolado ou repetido, ou a ausência de ação apropriada, que ocorre em qualquer relacionamento em que haja uma expectativa de confiança, e que cause dano, ou incômodo a uma pessoa idosa. Estes podem ser de vários tipos: físico, psicológico/emocional, sexual, financeiro ou simplesmente refletir atos de negligência intencional, ou por omissão”.

Diante desse cenário, eu pergunto: O que podemos fazer para que a nossa sociedade seja mais justa e para que as pessoas idosas também possam ser felizes? Basta um pouco mais de tolerância e de disposição para enxergar as contribuições que elas são capazes de fazer.
   
O idoso e a família: os dois lados da mesma moeda 
Quando cobramos ações e reações que estão fora do alcance do idoso devido às limitações impostas a ele pela idade, ou quando exploramos o idoso com trabalho e exigências acima de suas possibilidades, criamos um ambiente coercitivo que provoca reações de fuga. Assim, para poder escapar das exigências e das agressões, o idoso se refugia e se isola, e com o isolamento muitas vezes vem a depressão. O isolamento e a depressão são condições que favorecem o aparecimento de outras doenças. O que eu quero enfatizar é que a negligência, o descaso e a violência emocional e física só pioram as condições dos idosos no que diz respeito a ser produtivo, ter uma vida social intensa, ter saúde, enfim, ter uma velhice bem sucedida. 
 
A receita para que possamos “fazer a diferença”  é:  Cuidar e fazer-se cuidar. Entende-se que cuidar do idoso é dar atenção, é enxergar as suas necessidades, é dar carinho e afeto. Criticar, depreciar, reprimir, xingar, punir não são maneiras apropriadas de cuidar de quem quer que seja. Fazer o idoso se cuidar é dar oportunidade para que ele se preocupe com a própria saúde, é, acima de tudo, valorizar seus feitos, para que ele seja produtivo e procure ser feliz e motivado no convívio social e, dessa forma, tenha uma vida digna, bem diferente da vida de isolamento. 
 
Pesquisando na revista da PUC/SP, ano I, nº. 8, de novembro de 2000, localizamos um artigo escrito pela assistente social Fátima Teixeira, com mestrado pela PUC/SP, intitulado “O idoso e a família: os dois lados da mesma moeda”, no qual ela aborda a questão do idoso dentro do âmbito familiar sobre dois enfoques: de um lado, o ponto de vista do idoso com suas necessidades e expectativas,  e  do  outro  a  família  moderna com sua organização e dinâmica, nem sempre entendendo o processo que o idoso vem experimentando nessa etapa da vida. Teixeira define a família como um grupo arraigado numa sociedade e tem uma trajetória que lhe delega responsabilidades sociais. Especialmente perante o idoso, a família vem assumindo um papel importante e inovador, na medida em que o envelhecimento acelerado da população que estamos constatando é um processo recente e ainda pouco estudado pelas ciências sociais. 
 
A Constituição Federal de 1988 apresenta a família como base da sociedade e coloca como dever da família, da sociedade e do Estado “amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida”.  

O que o idoso necessita é sentir-se valorizado  
Neste sentido, cabe aos membros da família entender essa pessoa em seu processo de vida, de transformações, conhecer suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e à sociedade.

 a pergunta: Como os filhos, de uma maneira geral acostumados a serem cuidados e dependentes dos pais por bons anos de suas vidas, num dado momento passam a experimentar uma inversão nessas relações quando os pais começam a necessitar de atenção e ajuda? Com as fragilidades que muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento é comum surgirem conflitos entre os filhos quando a situação dos pais passa a lhes exigir novas responsabilidades e cuidados. A família precisará, então, de um período de adaptação para aceitar e administrar com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam uma sobrecarga para os filhos. Daí a importância de o idoso concentrar esforços para, nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade, evitando o mais possível o sentimento de dependência da família que tanto o aflige. 
 
Os idosos alimentam a expectativa de receberem atenção e cuidados dos filhos e netos no momento em que perderem ou tiverem suas capacidades físicas e intelectuais diminuídas, fantasma constante a perseguir e preocupar os mais velhos. Essa dependência se caracteriza num verdadeiro acordo tácito, ou seja, uma negociação na qual os pais acalentam a expectativa de obter, no momento que necessitarem, a retribuição pela dedicação oferecida à família. 
 
As mudanças que estão ocorrendo nas representações de família nas novas gerações estão exigindo formas alternativas de convívio familiar e reformulação de valores e conceitos. A família brasileira do terceiro milênio está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque. Estamos vivendo um importante período de transição e mudanças, no qual se faz necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que se vêm processando nas últimas décadas, para enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar. No entanto, qualquer que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de se manterem os vínculos afetivos entre seus membros e os idosos. Nessa fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranquilidade e receber a atenção e o carinho da família.
 
Fontes consultadas:
 

Revista da PUC/SP, ano I, nº. 8, de novembro de 2000.

Tribuna do Vale do Parapanema nº 1179. 

O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec

O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.
Fonte: Retirado de o Consolador uma Revista Semanal de Divulgação da Doutrina Espírita
 















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