sexta-feira, 15 de março de 2013

MOMENTOS QUE TOCAM O CORAÇÃO


CÍNTHIA CORTEGOSO
cinthiacortegoso@hotmail.com
De Londrina-PR
Alguns pingos de chuva caíam aquele momento. No corredor externo da galeria onde trabalho, estava uma jovem mulher em sua cadeira de rodas. Passei por ela e a observei, mais nada.
 
Fui buscar um material que havia deixado para xerocar no comércio em frente.
Na volta, já com as cópias em mãos, entrei na parte interna da galeria e a jovem continuava do mesmo jeito e no mesmo lugar... estava quietinha.
 
– Oi – cumprimentei-a.
– Oi – ela respondeu.
– Você precisa de alguma coisa? – não pude deixar de lhe perguntar.
– Não, estou aguardando o meu marido; ele está naquela sala – com calma, ela respondeu apontando o local.
 
– Ah, sim. Então, tudo bem. Já vou. Até mais – falei e segui para a minha sala.
– Tchau, até mais – ela falou.
 
Desci as escadas; eu também trabalhava na parte debaixo.
A jovem ficou lá, tranquila, aguardando o companheiro. Percebi também que suas mãos e braços tinham dificuldade de coordenação. No entanto, os seus olhos possuíam o brilho da alegria, a chama da vida.
 
Mais uns minutos e meu último aluno, daquela tarde, chegou. Era um aluno muito encantador, educado e com ar bondoso.
 
Depois de uma hora, terminada a aula, despedi-me do querido aluno e, uma vez mais, meu coração se sentiu feliz: missão cumprida.
 
Comecei a organizar a mesa de estudos, pois na manhãzinha seguinte outro aluno já tinha horário marcado.
 
Verifiquei a sala e tudo estava organizado. É ótimo estar num ambiente limpo e com organização. Pronto. Posso ir.
 
Fechando a porta, olhei para a parte de cima da galeria, e a jovem ainda estava lá; agora, comendo algum lanchinho que, decerto, trouxera de casa.
 
Tanto eu quanto ela podíamos nos ver. Com sentimento fraterno, não resisti, acenei um breve até logo. Com grande dificuldade, com a mão direita, ela me retribuiu.
 
Aquele aceno me encheu os olhos d’água. Com emoção, eu não queria parar de acenar, pois sabe aqueles momentos que valem cada segundo? Então, era um desses.
 
Enfim, segui adiante pelo corredor; a saída era do lado oposto de onde ela estava. Assim, distanciei-me. 
 
Já quase saindo, olhei para cima novamente e, dessa vez, foi ela quem lançou o último aceno com toda ternura. Retribuí-lhe, realmente, emocionada.
 
– Obrigada, meu Deus, pela oportunidade de poder compartilhar alguns minutos recheados de brilho eterno com um ser tão simples e tão caro – agradeci olhando para o céu.
Fechei o portão e fui, com leveza e felicidade, pois havia recebido, mais uma vez, bálsamo e lenitivo para minha alma.
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