DAISAKU IKEDA: É bom que o mecanismo democrático
da sociedade
opere tão
bem que não haja mais necessidade de confiar em líderes cujos poderes alcancem
uma escala gigantesca.
ARNOD TOYNBEE: Considero a liderança pessoal
necessária a qualquer empresa, de qualquer tipo, mesmo quando organizada à base
de princípios democráticos. O líder
ditatorial obtém a obediência de seus seguidores em parte pela força e até
certo ponto por despertar emoções até mesmo absurdas. Na democracia, o líder
precisa conquistar a confiança de seus concidadãos, convencendo-os
racionalmente da sabedoria da política que propõe e deve conduzir um diálogo
racional em baixa temperatura emocional.
DAISAKU IKEDA: A diferença entre esses dois
tipos de líder é fundamental. a democracia é mais difícil e delicada. O coração
humano, porém, abriga o ganancioso desejo de estabilizar e expandir os direitos
e privilégios individuais, mesmo que à custa dos seus semelhantes. Quando o
detentor de autoridade permite que esse desejo domine seus pensamentos e suas
ações, o sistema ou a estrutura que ele supostamente deve guiar para o bem da
maioria se torna um egoísmo absoluto, sendo ignorados os ideais democráticos
nos quais se baseiam.
ARNOLD TOYNBEE: Para que funcione satisfatoriamente,
o regime democrático precisa de um líder que não seja escroque nem demagogo,
mas uma pessoa de valor ético e intelectual tão manifesta que seus concidadãos
sigam sua liderança sem necessidade de coação ou de manipulação emocional.
DAISAKU IKEDA: O senhor poderia listar alguns
líderes que consideram exemplares?
ARNOLD
TOYNBEE: Franklin D. Roosevelt,
Winston Churhill e Jawaharlal Nehru. Ainda assim, nem Roosevelt nem
Nehru foram inteiramente honestos em suas relações com seus eleitores.
DAISAKU IKEDA: Acho que o poder confiado a
líderes numa democracia deve ser sempre limitado no tempo. Ao terminar o
mandato de um político, o povo deve avaliar seus atos no cargo e decidir se o
mantém na liderança ou o substitui por outra pessoa. A característica do líder
democrático, em contraste com a do ditador, deve ser o conhecimento de que o
poder do seu cargo, por maior que seja, origina-se do povo e está sujeito a seu
julgamento. Reconheço que esse sistema tem uma séria falha. Uma vez ciente da
vigilância do povo. O mandatário que quer permanecer no cargo pode adotar
políticas apenas porque são populares e, seguindo-as, garante a continuidade no
poder.
ARNOLD TOYNBEE: O líder democrático deve manter-se
num curso médio entre duas opções indesejáveis e é estreito seu campo de
manobras. Talvez se sinta tentado a bajular seus eleitores, mesmo quando os
julga mal-intencionados. Se assim proceder, estará praticamente renunciando ao
seu papel de liderança e traindo a confiança que nele depositaram. A pior
alternativa é induzir os eleitores a votar na política que é dada como certa,
mas que eles teriam rejeitado se fosse apresentada de maneira honesta. Essa
também é uma traição à confiança depositada no líder. Entretanto, sua fraude
provavelmente será descoberta mais cedo ou mais tarde, e ele cairá em
descrédito.
DASISAKU IKEDA:
concordo que o líder não deve enganar a si mesmo no interesse de
conquistar a graça do povo e também
não deve enganá-lo no interesse
de levar adiante suas ideias. É preciso basear seu pensamento e sua ação na
verdade e fidelidade a princípios porque, no momento em que tenta enganar a si
ou ao povo, ele perde suas qualificações como líder. Um bom líder deve ser fiel
a si mesmo e ao povo, e deve ser sempre justo em seus atos.
ARNOLD TOYNBEE: Não acredito que regime algum, de
qualquer tipo. Possa ser dirigido com êxito por um líder de personalidade
medíocre.
DAISAKU IKEDA: As qualificações de um bom líder
devem ser coragem, espírito de justiça, cortesia, sabedoria prática, dignidade
e generosidade. Essa qualidade só se manifesta se o candidato a essa posição
estiver disposto a dialogar com o povo, lutar por ele e morrer por ele se
necessário. São raros os líderes de hoje com esse calibre.
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